provocava excessivas saturações magnéticas na área cerebral. Seu corpo, embora
sensibilíssimo e hígido em todo o seu sistema orgânico, era acanhadíssimo veículo para
atender às exigências de sua extensa consciência sideral. Os neurônios e centros
sensoriais permaneciam continuamente num estado de alta tensão, assim como a lâmpada
modesta ameaça romper-se pela energia demasiadamente vigorosa que lhe vem da usina.
O Anjo é a entidade mais aproximada dos atributos de Deus, como sejam a
Sabedoria, o Poder, a Vontade e o Amor. Em conseqüência, possui qualidades superiores
às do tipo espiritual ainda reencarnável na Terra. O organismo físico não lhe oferecia os
recursos necessários para permitir-lhe uma relação perfeita entre o mundo angélico e o
material. Mesmo que ele não houvesse sido crucificado aos 33 anos, não teria sobrevivido
por muito tempo, pois o seu corpo carnal já se mostrava exaurido e incapacitado para
atender-lhe o alto grau de suas exigências mentais.
O Mestre Jesus foi, indiscutivelmente, a entidade de mais alta estirpe sideral que já
desceu ao vosso orbe. A sua consciência ampla e poderosa lutava assombrosamente
para firmar-se no comando de um cérebro humano. Era um divino balão cativo preso por
delicadíssimos fios de seda. Seu Espírito, superativo e em permanente vigília, envidava
heróicos esforços para abafar as energias estuantes de vida animal, que se multiplicam
na esfera instintiva e tentavam dominá-lo tanto quanto ele as repelia. Inegavelmente,
tratava-se de uma consciência angélica de sereno conteúdo espiritual, que deveria
proporcionar euforia à carne, mas a sua força, sabedoria e poder extravasavam pelas
fronteiras da consciência humana.
Aliás, a tradição religiosa terrena sempre pintou o anjo como a entidade
resplandecente, de fulgores ofuscantes. Satanás, como símbolo do instinto animal,
dobra os joelhos diante de Miguel Arcanjo, quando é chicoteado pelo excesso de luz que
o enfrenta. Embora o Sol seja um potencial criador e benéfico, debaixo dos seus raios
ardentes até o “iceberg” se aniquila. Muitos homens célebres do vosso mundo, como
poetas, escritores, músicos, escultores e filósofos, têm apresentado fases anormais,
mostrando-se perturbados ante a tensão muito acentuada do seu espírito sobre o
sistema neuro cerebral.
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Aliás, tanto a notícia trágica, como a surpresa e o júbilo da
fortuna inesperada podem afetar o cérebro humano ante a carga sem controle que o
espírito lança sobre a massa cinzenta.
O dinamismo espiritual fabuloso do Espírito de Jesus, atuando incessantemente
sobre a fragilidade do seu cérebro físico, quase o levava à clássica “surmenage”, além
de exigir-lhe os mais dificultosos e vigilantes esforços para manter-se no mecanismo
vivo da carne. O homem moderno hoje reconquista ou compensa as suas funções
mentais e o gasto excessivo de energias no processo fatigante das elucubrações
cerebrais, socorrendo-se das medicações energéticas e vitaminadas, principalmente à
base de fósforo ou ácido glutâmico. Porém, Jesus, após a exaustão cerebral, sob a
tensão mental incomum do seu Espírito só obtinha equilíbrio e socorro orgânico através
da prece e dos fluidos energéticos, que lhe eram ministrados do mundo oculto pelos
seus fiéis e devotados amigos espirituais.
A fadiga transparecia-lhe cada vez mais funda no semblante angélico, à medida que
se sucediam os anos de sua vida física. Por vezes, descoloriam-se as faces e o suor
aljofrava-lhe à fronte, enquanto sob intensa sensibilidade o corpo perdia temperatura e
parecia açoitado por um vento gélido. Inúmeras vezes os seus discípulos temeram vê-lo
cair sem vida, pois o seu generoso coração arfava perigosamente e o corpo estremecia
sob o alto potencial angélico.
No entanto, espírito corajoso e vivendo exclusivamente para o Ideal redentorista do
terrícola, Jesus tudo fazia para suportar o fardo da carne e continuar em atividade no
cenário da Terra, rogando ao Pai que o mantivesse em condições de ultimar sua obra
abençoada. O seu espírito, preso por um fio de linha ao diminuto mundo da carne, parecia
mil raios de sol convergindo sobre a lente do cérebro precário e atuando sob vigorosa
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Vide a obra
Doentes Célebres
, de Gastão Pereira da Silva, da coleção do livro de bolso, etiqueta “Estrela de Ouro”,
em que o autor faz um estudo minucioso sobre diversos homens famosos, anotando-lhes os estados de espírito
perturbadores, como no caso de Allan Poe, Hoffmann, Dostoievski, Nijinski, Paganini, Van Gogh, Tchaikovski,
Nietzsche e outros.
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