reduzir o amor espiritual ou substituí-lo pelo sentimentalismo egocêntrico do amor 
consangüíneo. Quando, no futuro, as virtudes superiores da alma dominarem os 
interesses e o egoísmo humanos, então existirá uma só família, a da humanidade 
terrena. Os homens terão abandonado o amor egoísta e consangüíneo, produto da 
família transitória para se devotarem definitivamente ao amor de amplitude universal, 
que consiste em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. 

Independente da recomendação de Jesus, quando aconselha o “abandono” de pai, 

mãe, irmão e irmã para o seguirem, a verdade é que os membros de cada família 
humana também não permanecem em definitivo no conjunto doméstico, pois à medida 
que se desfolha o calendário terrícola, processam-se as separações obrigatórias entre 
os componentes do mesmo lar. 

As crianças já em tenra idade precisam ausentar-se para freqüentar a escola e isso 

as separa da família durante muitas horas. Depois de jovens permanecem longo tempo 
fora de casa, a fim de obterem o sustento ou conseguirem o diploma acadêmico. Em 
breve, surge o namoro, o noivado e então ligam-se a outras criaturas estranhas ao 
conjunto da sua família para seguirem novos destinos e conseqüente “abandono” natural 
entre os dos mesmos laços consangüíneos. Doutra feita, a irascibilidade, avareza, 
hostilidade e ciúme, ódio ou egoísmo, chegaram a separar os membros da mesma 
família e a afastá-los em caminhos ou destinos opostos. Filhos, pais, sogros, genros, 
irmãos e demais parentes, por vezes, se incompatibilizam e cortam relações devido a 
interesses materiais adstritos a heranças, provando a fragilidade do amor de sangue. 
Paradoxalmente, a família mais unida é justamente aquela cujos membros são 
tolerantes e amorosos para com todos os seres, pois a bondade e a paciência 
constituem um traço de união e boa convivência em todos os ambientes. Por 
conseguinte, os parentes separados por discórdias domésticas mais se uniriam se 
atendessem ao apelo de Jesus, pois abandonando o amor exclusivamente ao sangue 
da família também desapareceria o amor-próprio na fusão de um sentimento 
universalista. 
      Jesus não recomendou ao homem o abandono impiedoso de seus familiares, 
fazendo-os sofrer dificuldades pela sobrevivência cotidiana. Porém, advertiu “que não 
seria digno dele quem amasse mais o pai, a mãe, o irmão e a irmã, do que ao próximo”. 
Deste modo, o homem precisa renunciar à sua personalidade, ao sentimentalismo, ao 
amor-próprio, à opinião patética da família de sangue e mesmo opor-se a ela, quando os 
seus membros o repudiem por esposar idéias e sentimentos crísticos. Foi no campo das 
idéias e dos sentimentos universalistas que Jesus concentrou sua advertência, ao dizer 
que “quem amar a mim mais do que à família receberá o cêntuplo e possuirá a vida 
eterna”, ou seja, amando toda a humanidade, a criatura livra-se das purgações próprias 
dos contínuos renascimentos das vidas físicas. Então passa a viver apenas nos mundos 
espirituais superiores, entre as almas afetivas e libertas do conjunto egoísta da família 
carnal, onde o verdadeiro amor estiola oprimido pelas afeições transitórias do mundo 
reduzido do lar. Quem ama o próximo como a si mesmo, ama o Cristo e assim 
desaparece o amor egoísta de casta, raça e de simpatia ancestral da matéria. Em troca 
surge o “amor espiritual”, que beneficia todos os membros da mesma parentela e se 
exerce acima de quaisquer interesses da vida humana isolada, pois diz respeito à vida 
integral do Espírito Eterno. 

 
 

 
 
 
 
 

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