Tiago, o menor, não lhe apreciaram devidamente a tarefa de rabi das estradas, pois isso
não contribuía de modo algum para o orçamento precário da família. Acoimavam-no de
chefe de uma corte de malandros e curiosos, que sonhavam entusiasticamente com um
reino cômodo e próspero sem ficar devendo obrigações. Matias, Cléofas, conhecido por
Simão, Eleazar e Elisabete já haviam casado e cooperavam na receita financeira e
ajudavam Maria, já com 47 anos de idade mas ainda se mostrando sadia e moça. No
entanto, ela não, escondia a sua afeição incondicional por Jesus, Espírito a que se
sentia afeiçoada no imo da alma há muitos milênios. Por isso, o desculpava e o
defendia, malgrado as intrigas e a maledicência geradas pelos despeitados, a seu
respeito.
Mas, à medida que se aproximava o término da missão de Jesus, embora ela
ignorasse isso em vigília, uma estranha melancolia e esquisito sofrimento lhe invadia a
alma. Súbito, sua alegria se transformava em temor; uma incontida dor lhe tomava o peito
e desejaria espantar de si uma visão oculta que receava enfrentar na realidade.
Inconscientemente, Maria se preparava para testemunhar os quadros mais dolorosos de
sua vida, que seriam o martírio e a crucificação do seu querido filho, isento de culpa e de
maldade. Alguns o chamavam de profeta de Israel, outros de Libertador do povo judeu;
porém, havia os que o diziam um louco ou imbecil, enquanto o Sinédrio espionava,
tentando conhecer-lhe os projetos aparentemente sediciosos. Era, pois, um santo para
uns ou perigoso anarquista para outros.
Obviamente, não havia razões plausíveis e justificações capazes de convencer
Maria quanto à gloriosa missão espiritual de seu extremado filho, assim como a família
do príncipe Sáquia-Múni jamais previu que o seu descendente seria Buda, o Iluminado
Instrutor moral da Ásia. Enfim, Jesus talvez não passasse de um modesto Rabi da
Galiléia, entusiasmado pela obstinação de salvar os homens e redimir os pecados do
mundo, conduzindo-os para um fantasioso reino semelhante à pátria de Israel. No
entanto, quando ele, humilde e dócil como um cordeiro, aceitou o seu destino cruento
sem mover os lábios na mais silenciosa queixa, Maria, então, pôde reconhecer ali no
sacrifício da cruz o Messias — o Salvador dos homens!
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