sideral muito acima do mais alto índice de inteligência e capacidade do homem terreno.
Por isso, mesmo no período de sua infância, ele não se submetia aos padrões e
preconceitos comuns da época, porque suas reações mentais e emotivas ultrapassavam
as convenções comuns e o provincianismo do povo judeu. Ele não só causava espanto,
mas até constrangimento entre os próprios companheiros de folguedos e as pessoas
adultas, pois expunha idéias e conceitos bem mais avançados que o comum em seu
tempo.
Em sua maneira pessoal de interpretar ou julgar as coisas de sua terra e de seu
povo, o menino Jesus tinha respostas agudas e inteligentes, porém, honesto no seu
falar e jamais contemporizando com a malícia, capciosidade, hipocrisia ou perversidade.
Não era ofensivo, nem petulante; respondia a todos com singeleza, respeito e até com
timidez; mas ninguém conseguia modificar-lhe o modo franco e sincero de dizer as
coisas, pois era inimigo de evasivas, rodeios ou acomodações interesseiras. Obediente
ao seu inconfundível espírito de justiça, ele até seria contra a família e em favor do
adversário, caso este tivesse razão. Afeiçoava-se facilmente a todos os seres e criaturas
e os servia com o mesmo espírito de fraternidade e amor, pouco lhe importando a
situação social ou humana. No entanto, suas atitudes francas e corajosas punham em
choque até o espírito compreensivo de seus pais e semeavam indecisões entre os
rabinos da Sinagoga. Muitas vezes, os adultos ficavam confusos ante a solução
inesperada, de um nível de justiça acima do entendimento comum, que o menino Jesus
expunha em suas dissertações vivas e eloqüentes.
Semelhante situação confundia os seus familiares mais íntimos, ainda imaturos e
incapazes de entenderem a fala do anjo e do sábio sideral, que não se disfarça sob as
sutilezas capciosas e próprias dos homens empenhados na luta pelos interesses
humanos. O menino Jesus, genial e franco, jamais podia enquadrar-se no esquema
prosaico da criança comum, cujas emoções e pensamentos são um reflexo dos
costumes e preconceitos da sua época. Evidentemente, Maria e José não podiam
entrever naquele filho singular o fulgor e a têmpera do Messias, quando ele causava
críticas e despertava censuras alheias pelos seus modos excêntricos ou estranhos.
Ambos ainda não estavam capacitados para compreenderem uma conceituação moral
tão pura e tão impessoal do ser humano, contrária às tradições seculares da vida do
povo judeu.
PERGUNTA: — Maria jamais acreditou na missão de seu filho Jesus, ou chegou a
pressenti-la próximo de sua morte?
RAMATÍS: — Graças à sua natureza mediúnica, Maria recebeu inúmeros avisos e
advertências do seu guia espiritual, o qual insistia em informá-la da estirpe angélica de
seu filho. Mas em face de suas obrigações cotidianas junto à família numerosa, ela
esqueceu, pouco a pouco, as mensagens mediúnicas que lhe foram transmitidas nas
vésperas de casar e antes de nascer Jesus. Mais tarde, em alguns raros momentos,
sentia-se dominada por essa reminiscência, quando uma voz oculta lhe parecia
confabular quanto à natureza incomum de seu filho.
Quando Jesus deixou a família, decidindo-se pelas suas peregrinações através das
estradas da Judéia e de outros lugares próximos, Maria esqueceu os últimos resquícios
de lembranças que ainda pudessem avivar-lhe a crença de ele ser um missionário. Após
a morte de José, quando Jesus havia completado vinte e três anos, agravou-se o
orçamento do lar e ela viu-se obrigada a mobilizar todos os esforços para superintender
os gastos da família. Felizmente, meses depois, soube que Jesus chefiava um grupo de
discípulos constituído por pescadores, camponeses, homens do povo e algumas
mulheres devotas que o seguiam incendidas por um entusiasmo religioso contagiante.
Maria não se surpreendeu com tais notícias e sentiu-se tranqüila por ver seu filho
devotado à tarefa pacífica de rabi itinerante e participando da inspiração religiosa do seu
povo. Isso o ajudaria a suavizar aquela inquietação estranha, o misticismo exagerado e a
rebeldia aos costumes e tradições comuns.
Maria sentiu-se grata ao Senhor pelo ensejo de seu filho preferir a profissão liberal e
religiosa de interpretar entre os seus conterrâneos as regras e o repositório da sabedoria
de Moisés. Mas os irmãos de Jesus, afora Eleazar, filho de José e Débora, e mais tarde
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