decidindo abandonar o seu paraíso celestial para descer aos charcos de um mundo 
animalizado. 

 
PERGUNTA: — A atribuição de um corpo fluídico a Jesus é porque um corpo físico 

parece-nos uma vestimenta muito grosseira, tratando-se de uma entidade espiritual de 
sua categoria? 

RAMATÍS: — Há que considerar a natureza do mundo em que Jesus viera atuar. 

Sabeis que um condor dos Andes, que voa acima de mil metros de altura, precisa de 
asas grandes e robustas, que não podem assemelhar-se às da delicada borboleta, que 
só voa de flor em flor. As asas de cada um de tais seres correspondem ao meio em que 
os mesmos têm de agir. É também o caso do mergulhador, pois embora dispondo de um 
corpo perfeito, não pode dispensar o escafandro para descer ao fundo dos mares. Que 
aconteceria a um fidalgo do vosso ambiente civilizado, indo ao Pólo enregelado onde 
moram os esquimaus e lá se apresentasse com a indumentária de camisa de seda e um 
terno de linho? 

Essa preocupação quanto ao corpo de Jesus resulta de uma análise que se atém a 

superfícies. Buda foi um inspirado sublime e os milhões de budistas jamais discutiram a 
natureza física do seu elevado mentor. Certamente, a Índia estaria abalada 
espiritualmente, dividida sob divergência religiosa, se uma parte dos crentes afirmasse 
que a santidade de Buda exigia um corpo esguio e elegante, enquanto outros achassem 
natural o corpo obeso e nutrido do grande iluminado. 

 
PERGUNTA: — Quanto à origem dessa concepção a respeito do corpo de Jesus 

ser fluídico, não terá sido produto de uma intervenção malévola do Espaço, quanto à 
obra de Roustaing, no sentido de tisnar a beleza dos quatro Evangelhos, ou trata-se de 
uma concepção do escritor, buscando, com isso, enaltecer a pessoa de Jesus? 

RAMATÍS: — Essa concepção é ainda um reflexo dos efeitos seculares adstritos 

aos dogmas, milagres, mitos e tabus copiados da vida de diversos precursores de 
Jesus. E então, os exegetas do passado atribuíram a Jesus também uma existência 
mitológica. São de igual teor a ressurreição e a ascensão do Mestre aos céus em corpo 
e alma. 

A Bíblia, apesar da valiosa revelação que encerra do poder e da glória de Deus, 

registra acontecimentos do mesmo caráter. Algumas concepções capazes de espantar 
um ginasiano do século atual, ainda continuam a nutrir polêmicas religiosas entre os 
homens. Aqui, devotos singelos aceitam a subida de Elias ao Céu, no seu carro de fogo. 
Caim e Abel são os únicos filhos de Adão e Eva. Caim mata Abel e foge para uma 
região ignorada; porém, a prole humana de raças diferentes surge em todos os recantos 
da Terra, como se brotasse do próprio solo. A humanidade terrena ainda continua 
responsável pelo Pecado Original, devido à imprudência de Adão e Eva, no Éden, em 
que o caso particular, de comerem um “fruto proibido”, passou a complicar a vida de 
todas as gerações futuras. 

Mesmo entre os espíritas essa disposição para o dogmatismo religioso ainda não foi 

eliminada completamente, porque a libertação religiosa pregada por Kardec data apenas 
de um século. Muitas almas, ingressando no Espiritismo, ainda sentem certa dificuldade 
para se ajustarem completamente aos novos ditames espirituais da nova doutrina, pois a 
influência de quinze séculos de submissão dogmática à teologia sacerdotal de todos os 
povos, não pode ser dissipada em algumas dezenas de anos. Allan Kardec, o cérebro 
libertador da escravidão religiosa, ainda não foi integralmente compreendido em sua 
ousadia espiritual, quando enfrentou os dogmas seculares que ainda hipnotizam muitas 
almas temerosas da Verdade. 

 
PERGUNTA: — Mas conhecemos espíritas cultos e sinceros, muito estimados pelo 

seu labor incessante em favor da doutrina, que ainda defendem, com intransigência, a 
tese do Jesus fluídico. Acaso essa convicção os prejudica espiritualmente? 

RAMATÍS: — Não há mérito nem demérito em admitir ou recusar tal concepção, 

pois ante o tribunal da Justiça divina, “a cada um será dado conforme suas obras”, e não 
segundo a sua crença. A crença sem obras de benefício ao próximo ou renovação 

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