fundamento da angelitude de todo ser; mas o anjo, como símbolo da alma perfeita, só é
completo quando também já adquiriu a Sabedoria Cósmica. Embora todas as almas
afins a Jesus sejam portadoras de amor tão semelhante quanto ao dele, elas podem se
agrupar em conjuntos diferentes, unidas por outras características e gostos
preferenciais.
Não é difícil comprovarmos que a figura tradicional do anjo, cultuada pelo
Catolicismo, é realmente um símbolo da alma completamente livre de quaisquer deveres
ou preocupações para com os mundos materiais, e goza do livre-arbítrio de doar o Seu
Amor e Sabedoria a quem melhor lhe apetecer. O Anjo possui duas asas, mas ele só se
equilibra, no tráfego do “reino do céu”, quando ambas estão perfeitamente iguais ou
uniformes, porquanto a asa direita simboliza o intelecto ou a razão, e a esquerda o
coração ou o sentimento. A angelitude ou perfeição exige completo e absoluto equilíbrio
entre o Amor e a Sabedoria. Por isso, quem vive na Terra, humilhado e submetido às
provas cruciantes da carne, desenvolve a paciência, o amor, a resignação e a ternura. E,
em futuro próximo, há de voltar à Terra ou a outro orbe, tantas vezes quantas forem
necessárias para desenvolver a asa direita, ou seja, a Sabedoria da razão pura.
Em conseqüência, embora a “esfera dos Amadores” congregue espíritos angélicos,
cuja característica fundamental é o Amor e a Renúncia da própria vida, para o bem do
próximo, não é a única nesse gênero, pois todos os espíritos angelizados e já libertos
das encarnações planetárias obrigatórias, embora sejam sábios, também são amorosos.
Mas o amor também pode ser manifestado de vários modos e conforme a índole
psíquica de cada ser, seja um homem ou um anjo. Os Amadores, portanto, são um tipo
de espíritos que depois de eleitos para qualquer missão nas crostas planetárias, jamais
se prendem aos bens do mundo onde atuam. E além do seu amor incondicional para
servir e ser útil em tarefas de alta responsabilidade, a pobreza é a principal característica
de suas vidas. Eles não vacilam em suas lutas messiânicas, pois as enfrentam desde o
princípio com uma decisão heróica e absoluta renúncia pelo ideal superior que esposam
e divulgam. Esse é o tipo dos espíritos peculiares da “esfera dos Amadores”.
Embora o amor incondicional e absoluto seja, realmente, no futuro, uma qualidade
comum de toda a humanidade cósmica, tal sentimento toma características peculiares
da índole e do temperamento de quem o manifesta.
PERGUNTA: — Poderíeis dar um exemplo mais claro, a fim de compreendermos
melhor o fato de existirem manifestações amorosas diferentes, de acordo com os
temperamentos dos espíritos agrupados na mesma esfera angélica?
RAMATÍS: — Suponhamos um conjunto harmonioso de almas, cujo sentimento
fundamental também seja o Amor absoluto, o qual, no entanto, é composto de espíritos que
se ajustaram à índole dos ingleses, latinos ou asiáticos. Embora o sentimento
predominante entre esses espíritos seja o Amor no mesmo diapasão espiritual, o seu
sentimento se há de expressar em conformidade com o temperamento e a índole de cada
uma dessas raças. Assim, os ingleses seriam fleumáticos e persistentes, os latinos
eufóricos e extrovertidos e os asiáticos místicos e introspectivos, cada um impondo o seu
cunho característico na prática e na manifestação desse mesmo Amor.
Eis por que têm sido tão diversas as manifestações do Amor pelos benfeitores da
humanidade. Aqui, desenvolve-se e progride a medicina ou a física, graças ao sacrifício
ou abnegação de um Pasteur, Édison ou Marconi; ali, Pitágoras, Sócrates ou Spinoza
devotam todo o seu pensamento em amenizar a angústia humana pelo medicamento
sutil da filosofia; acolá, o gênio de Da Vinci, o espírito agitado de Van Gogh, as
privações e a tristeza de Rembrandt, também geraram a beleza e o encanto misterioso
da pintura, manifestando o seu amor ao homem pela magia das cores. Beethovem, o
gigante da música, doa ao mundo a Nona Sinfonia, o testamento do Amor em sons;
Mozart extingue-se ainda moço, deixando as mais fascinantes melodias para a criatura
humana; Bach deixa um monumento musical alicerçado no conceito de que “o objeto de
toda música devia ser a glória de Deus!” Tolstoi, Dickens, Cervantes, Victor Hugo e
outros manifestaram esse amor tentando novos roteiros na esfera social e moral do
mundo; Marco Polo, Colombo e outros o fizeram na tentativa de estreitar as distâncias
da Terra para o mais próximo convívio dos homens.
48