Tais idéias expressam-se de acordo com a psicologia, o sentimento e a cultura de 

cada povo. Osíris, no Egito, inspirou o culto da morte, enquanto Brahma, na Índia, recebia 
homenagens fabulosas como a primeira da Trindade divina do credo hindu. Mas, também 
havia Moloc a exigir o sacrifício de tenras crianças e, finalmente, Jeová, entre os hebreus, 
louvado com o holocausto de animais e aves, além de valiosos presentes dos seus 
devotos. Mais tarde, o Catolicismo definiu-se pela idéia do Criador na figura de um velhinho 
de barbas brancas, responsável pela criação do mundo em seis dias, pontificando dos 
céus, atrás das nuvens, mas ainda sensível à oferenda de velas, flores, incenso, relíquias e 
auxílios necessários à manutenção do serviço divino no mundo terreno. Atualmente, a 
doutrina espírita ensina que “Deus é a Inteligência Suprema, causa primária de todas as 
cousas”, descentralizando a Divindade do antropoformismo, para ser entendida animando 
todos os acontecimentos da Vida. 

Não há dúvida; já é bem grande a diferença entre a concepção espírita e os deuses 

mitológicos, que presidiam os fenômenos da Natureza ou se imiscuíam na vida dos seus 
devotos. No entanto, ainda existe diversidade da própria fórmula espiritista, em confronto 
com outras explicações iniciáticas do ocultismo oriental. Em verdade, essa idéia da 
pluralidade divina foi-se atenuando com a própria evolução do homem na esfera da 
Filosofia e no campo da Ciência; porém, se isto lhe facultou maior assimilação da 
Realidade do Criador, aumentou-lhe, no entanto, a sua responsabilidade espiritual. Quando 
o religioso tradicional tem de abandonar o seu velho mito ou modificar sua idéia formal da 
Divindade, acariciada há tanto tempo e infantilmente sob a proteção do sacerdócio 
organizado, ele então sofre na sua alma; e, da mesma forma, sofrem os adeptos de 
doutrina como o Espiritismo, ante a concepção de que Jesus é uma entidade à parte do 
Cristo, o Logos ou Espírito planetário da Terra. 

Todavia, o mais importante não reside, propriamente, nas convicções da crença de 

cada um, na caminhada da sua evolução mental e espiritual, mas no seu comportamento 
humano, quando o homem atinge um discernimento mais exato e real quanto às suas 
responsabilidades e à forma de se conduzir perante o Deus único, cuja Lei Divina abençoa 
os que praticam o Bem e condena os que praticam o Mal. Os homens mais se aproximam 
da Realidade à medida que também se libertam das crenças, pois estas, quer sejam 
políticas, nacionais ou religiosas, separam os homens e os deixam intolerantes, tanto 
quanto se digladiam os torcedores pelo demasiado apego a uma determinada associação 
desportiva. Vale o homem pelo que é, o que faz e o que pensa, pois a crença, em geral, é 
mais uma fuga da realidade.

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Os próprios espíritas, em sua maioria, embora já possuam noções mais avançadas 

da realidade espiritual, ainda se confrangem, quando se lhes diz que o Cristo é um 
Arcanjo Planetário e Jesus, o Anjo governador da Terra. O anjo é entidade ainda capaz 
de atuar no mundo material, cuja possibilidade a própria Bíblia simboliza pelos sete 
degraus da escada de Jacó; mas o arcanjo não pode mais deixar o seu mundo divino e 
efetuar qualquer ligação direta com a matéria, pois já abandonou, em definitivo, todos os 
veículos intermediários que lhe facultariam tal possibilidade. O próprio Jesus, Espírito 
ainda passível de atuar nas formas físicas, teve de reconstruir as matrizes perispirituais 
usadas noutros mundos materiais extintos, a fim de poder encarnar-se na Terra. 

 
PERGUNTA: — Em face dessa distinção de Jesus ser o intermediário do Cristo 

Planetário da Terra, gostaríamos que nos désseis maiores esclarecimentos sobre o 

                                                        

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 Transcrevemos da obra de Krishnamurti, 

A Primeira e última Liberdade

, em seu capítulo XVI, “Sobre a Crença em 

Deus”, o seguinte trecho que coincide bastante com o pensamento de Ramatís: “Há muitas pessoas que crêem; 
milhões crêem em Deus e encontram consolo nisso. Em primeiro lugar, por que credes? Credes porque isso vos dá 
satisfação, consolo e esperança; e dizeis que essas coisas dão sentido à vida. Atualmente vossa crença tem muito 
pouca significação, porque credes e explorais, credes e matais, credes em um Deus universal e assassinai-vos uns 
aos outros. O rico também crê em Deus; explora impiedosamente, acumula dinheiro e depois manda construir uma 
igreja e se torna filantropo. Os homens que lançaram a bomba atômica sobre Hiroshima disseram que Deus os 
acompanhava; os que voavam da Inglaterra para destruir a Alemanha, diziam que Deus era seu co-piloto. Os 
ditadores, os primeiros-ministros, os generais, os presidentes, todos falam de Deus e têm fé imensa em Deus. Estão 
prestando algum serviço, estão tornando melhor a vida do homem? As mesmas pessoas que dizem crer em Deus 
devastaram a metade do mundo, e o deixaram em completa miséria. A intolerância religiosa, dividindo os homens 
em fiéis e infiéis, conduz a guerras religiosas. Isso mostra o nosso estranho senso político.” 
 

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