condenação do Tribunal Religioso dos seus patrícios, por cujo motivo seria passível da
flagelação habitual a todos os condenados. Embora condenado ao suplício da cruz, nem por
isso devia ser poupado do azorrague, como a preliminar tradicional de qualquer punição. No
entanto, devido à sua excessiva fraqueza e estado enfermiço febril, o “lictor” vergastou-o de
leve, por três vezes apenas, usando o chicote feito de tiras de couro cru, mas sem as pontas
de chumbo ou de osso que arrancavam pedaços da carne.
PERGUNTA: — E que dizeis das cenas relatadas pelos evangelistas, em que Jesus
foi alvo de cruéis zombarias e insultos por parte dos soldados romanos?
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RAMATÍS: — Realmente, ocorreram algumas cenas degradantes contra o
Mestre Jesus no pátio da prisão romana, mas não se ajustam à descrição
melodramática dos evangelhos. Os legionários romanos, como prepostos de
Pôncio Pilatos, eram produtos de férrea disciplina de três anos de trabalho
consecutivo e preparo guerreiro; homens corajosos, altivos e decididos, embora
rudes e impiedosos. No entanto, jamais desciam ao espetáculo circense de cuspir
e esbofetear os prisioneiros, pois mantinham certo decoro nos seus atos e tudo
faziam para não mancharem a sua dignidade de “ho-mens superiores”.
Quando Jesus foi recolhido ao pátio da prisão, situada a poucos passos do
Pretório, diversos simpatizantes e amigos o seguiram. Os mais sensíveis choravam
por vê-lo preso e outros lançavam seus protestos contra o crime de condenarem o
generoso rabino que só pregava o amor e a paz. Mas a turba de mercenários
contratada pelo Sinédrio e acicatada pelos acólitos de Caifás, impedia
propositadamente qualquer manifestação de simpatia ao prisioneiro Jesus, que
ainda não havia perdido a estima do seu povo. Mas Ele não foi humilhado pelos
legionários do governador, conforme diz Mateus (27:27), sofrendo toda sorte de
zombarias, insultos, escárnio e maus tratos.
Isso aconteceu por parte da criadagem ínfima, de alguns servos e escravos da
comitiva de Pilatos e que, por ser hora de refeições, ali descansavam e eram vezeiros em
tais empreendimentos sarcásticos. Infelizmente, a maioria se compunha de hebreus
mercenários, desses apátridas que buscam prestígio ante os seus próprios donos ou
capatazes, embora tenham de tripudiar vilmente sobre os próprios patrícios. Alguém
apanhou um pedaço de pano vermelho, que ali servia para os soldados jogarem dados e o
colocou nos ombros de Jesus, enquanto outro lhe punha uma cana entre as mãos, à guisa
de um cetro real. Não satisfeitos, ainda arrancaram galhos finos de um pé de vime
adjacente e o trançaram na forma de uma coroa, aliás, sem espinhos, que puseram sobre a
cabeça do Mestre. Divertiram-se todos durante alguns momentos cruzando à frente do rabi,
fazendo mesuras e saudando-o à conta de um rei. Um mais sarcasta puxou-lhe a barba,
obrigando-o a acenar algumas vezes com a cabeça em resposta às suas petições
zombeteiras. Os legionários romanos, postados ali por perto, riam-se, sem dúvida, talvez
sugerindo alguma chalaça, mas nenhum deles participou daquelas cenas grotescas, coisa
que ainda no vosso século costuma acontecer a muitos inocentes vítimas de semelhantes
trocistas ignóbeis. Momentos depois, homens e mulheres, autores da farsa infeliz,
desapareceram para atender às suas obrigações, enquanto Jesus ficava a meditar no
opróbrio de receber as piores afrontas e crueldades por parte dos seus próprios patrícios,
em vez de sofrê-las somente de seus adversários. Mais uma vez ali se provava o velho
ditado, ainda hoje conhecido, de que “a pior cunha é sempre aquela que sai da mesma
madeira”!
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PERGUNTA: — Que sucedeu a Jesus, após as cenas humilhantes praticadas pelos
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João, 29:l-3; Mateus, 27:26-31.
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Nota do Médium: — Referendando Ramatís, de que os “melhores amigos de hoje podem ser os piores inimigos de
amanhã”, sabe-se que, durante a guerra nazista, as “mulheres-carrascos” dos campos de concentração, e que haviam
sido escolhidas entre as próprias prisioneiras húngaras, tchecas e polonesas judias, eram muito mais cruéis para as
companheiras do que as de raça alemã, na preocupação de ressaltarem-se ante os detestados chefes”. Os piores
surradores de negros fujões eram recrutados entre os próprios escravos, no Brasil colonial; no tempo da chibata,
soldados e marinheiros apanhavam a valer dos próprios companheiros improvisados em carrascos, suplicando que
preferiam os surradores oficiais!
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