no seio das moléculas das flores, dos vegetais e da substância terrena. Ouvia o
estranho turbilhão dos mundos pejados de civilizações, rodopiando em torno dos seus
sóis e, ao mesmo tempo, o ruído estranho da seiva a subir no caule dos vegetais. Jesus,
num átimo de segundo, abrangeu o macrocosmo, consciente de sua força e do seu
poder, da sua sabedoria e da sua glória.
Esse fenômeno acontecido com Jesus, conhecido entre os hindus como o “samadhi”
e entre os ocidentais como o “êxtase” é um rápido fulgor da verdadeira vida espiritual do
ser quando atinge o Nirvana, a comunhão com o Pai, embora sem perder sua
individualidade sidérea. Em tal momento, fundem-se as distâncias, o tempo e o espaço
convencional da mente humana limitada, enquanto a alma abrange consciente e
perceptível, tanto a vida do macrocosmo, como a do microcosmo, fundindo-se na sua
intimidade as constelações dos astros com as constelações dos átomos, pois a matéria
é o “Maya”, a Ilusão, e só o Espírito é a Verdade!
Mas a composição ideoplástica da visão das cruzes no Calvário quase sustou a vida
carnal de Jesus, devido ao potencial de força espiritual que foi mobilizado para
transformar as idéias próprias do mundo do Espírito nas imagens que pudessem ser
reconhecidas na tela do seu cérebro físico. O cérebro ardia-lhe pelo impacto sidéreo,
além da sua capacidade humana de resistência, enquanto os nervos estavam frouxos,
desgastados e o sangue superativado pela alta pressão que ameaçava romper os vasos
cerebrais. Súbito, num esforço heróico empreendido pela própria natureza carnal, a
corrente sangüínea efervescente foi drenada pelas glândulas sudoríparas e grossas
bagas de suor e sangue caíram ao solo, deixando o mestre frontalmente exaurido em
suas forças vitais.
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Voltou a si completamente debilitado, pois consumira naquele momento alguns anos
de sua existência física, exaurindo o comando do cérebro esgotado. Dali por diante, só
se manteria vivo à custa de recursos vitais fornecidos pelos seus amigos habitantes do
reino espiritual. Ergueu-se, levando a mão ao peito, cambaleante. Em seguida, pôs-se a
descer lentamente o caminho da granja, chegando junto a Pedro, que ressonava alto,
recostado num tronco de oliveira, enquanto João e Tiago, cabeça apoiada nos braços,
também dormiam a sono solto. Devia passar das oito horas. Então sentiu-se inquieto
certo de que sua noite seria de insônia. Por isso resolveu retornar mais uma vez ao cimo
do bosque, sem acordar Pedro, Tiago e João. Uma leve aragem levantou o perfume das
azáleas, narcisos e jacintos dos canteiros a seu lado, afagando-lhe as faces úmidas. De
mãos postas, pôs-se a orar outra vez ao Pai.
Finalmente, decidiu repousar, achegando-se outra vez junto dos três discípulos que
ainda dormiam pesadamente. Então os acordou suavemente, dizendo-lhes: “Dormistes e
descansastes; agora acordar, que é chegada a hora da despedida, pois o Filho do Homem
será entregue nas mãos dos pecadores! Levantai-vos, porque já vêm chegando aqueles
que hão de me levar para o cumprimento da vontade do Senhor”.
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PERGUNTA: — Que nos dizeis quanto às palavras de Jesus, que Lucas e Mateus
lhe atribuem na cena da recusa do cálice de amargura, no Horto das Oliveiras, assim
expressas: “Pai, afastai de mim este cálice”. Segundo alguns estudiosos dos
evangelistas, isso se refere a um momento de vacilação do Amado Mestre?
RAMATÍS: — É óbvio que se isso ocorreu assim como narram os evangelistas,
então só Jesus poderia ter explicado o acontecimento, uma vez que João, Tiago e
Pedro, que se achavam ali perto, dormiam a sono solto e não poderiam ter ouvido tais
palavras. Quanto aos demais apóstolos, achavam-se no celeiro da granja de Getsêmani,
ao sopé da colina das Oliveiras.
Em verdade, a recusa do cálice de amargura, que a tradição religiosa atribui a
Jesus, trata-se apenas de um rito iniciático dos velhos ocultistas, com referência à
vacilação ou ao temor de toda alma consciente, quando, no espaço, se prepara para
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“E posto em agonia, orava Jesus com maior instância. E veio-lhe um suor, como de gotas de sangue, que corria
sobre a terra.”(Lucas, 22:44).
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Mateus, 26:45,46.
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