entregue a Judas como o libelo acusador, mas ainda é mais chocante contra a linhagem
angélica do Mestre, pondo-lhe nos lábios as seguintes palavras acusatórias e da
maldição: “O Filho do homem vai, certamente, como está escrito dele; mas ai daquele
homem por cuja intervenção há de ser entregue o Filho do homem; melhor fora a tal
homem não haver nascido!” E, respondendo Judas, o que o traía, disse: “Sou eu,
porventura, Mestre?” Disse-lhe Jesus: “Tu o disseste”. Ora, no caso, Jesus não só
desejaria a Judas um fim trágico e abominável, como ainda o acusaria brutalmente
diante dos demais discípulos e companheiros, confirmando que era ele o traidor! E se
“atrás” do bocado de pão molhado entrou Satanás em Judas, conforme narra João,
então é óbvio que, até aquele momento, Judas ainda não havia deliberado trair o seu
Mestre, e que isso só lhe ocorreu depois que Satanás o tomou no ato da ingestão do
bocado de pão molhado e abençoado ali na mesa santa.
PERGUNTA: — É admissível que todas essas ocorrências, desmentindo a contextura
espiritual de Jesus e que fazem parte dos evangelhos canônicos, sejam apenas figuras
simbólicas ou alegorias, propondo-nos lições de alcance espiritual?
RAMATÍS: — Jamais essa foi a verdade, pois a vida de Jesus foi clara, sem
sofismas ou hesitações e não à maneira do homem, que se salienta sobre a massa
humana, mas sofre as comprometedoras alternativas de hoje obrar como um santo e
amanhã atuar como um demônio! Espírito da hierarquia de Jesus não possui duas
facetas, não se turba nem se nivela ao conteúdo efervescente das paixões humanas,
nem é vítima do descontrole das emoções indisciplinadas. Não se confunda a energia, a
hombridade, a justiça, a estabilidade emotiva e a franqueza honesta de um anjo,
atuando na carne, com as contradições que são fruto da personalidade humana. Jesus
não desejava nada do mundo e jamais temeu a morte. Em conseqüência, não agia nem
atuava no mundo material preocupado com respeito à sua pessoa. Pouco lhe importaria
que Judas ou qualquer outro discípulo o traísse ou o levasse a qualquer espécie de
morte. A sua linhagem espiritual tornava-o sempre acima das atitudes humanas a seu
favor ou em seu desfavor, quer se tratasse de seus parentes, amigos, adeptos ou
desconhecidos. Se existem homens inferiores ao Mestre Amado, que não se tornam
melhores com o “elogio”, nem ficam piores com a “censura”, o que não seria Jesus,
diante da fraqueza de um discípulo que já vivia perturbado pelas suas próprias emoções
descontroladas e pelos ciúmes infundados?
Quanto aos homens que adjudicaram a si o direito exclusivo e a responsabilidade
tremenda de divulgar a vida e a obra de Jesus de Nazaré, já é tempo de virem
corajosamente a público, extirpar os evangelhos dos equívocos, extremismos, absurdos,
melodramas, interpolações e imitações que comprometem, desfiguram e lançam a
desconfiança sobre o Mestre Jesus — o Mentor Espiritual da Terra. Mesmo porque é
fácil o encontrarmos definido através de suas próprias palavras de sentido biográfico,
quando falou assim: “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados que
eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e
humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois suave é o meu jugo e
leve o meu fardo”.
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Mateus, 11:28-30.
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