temerosos de represálias dos romanos, eram depois os mais entusiastas pela
crucificação, a fim de eliminar o perigoso testemunho de Jesus contra suas próprias
fraquezas.
PERGUNTA: — E que dizeis da última ceia de Jesus com os seus apóstolos?
Realmente aconteceu tudo como explicam os evangelistas?
RAMATÍS: — A tradicional “santa ceia” comemorada pela Igreja Católica Romana,
em verdade, precedia a cerimônia do “lava-pés”, habitualmente realizada na sexta-feira,
chamada a véspera do “grande sábado” da Páscoa. Era costume tradicional reunirem-se
as famílias para essa refeição fraterna, onde se faziam promessas de vida feliz e em
comum para o futuro. Nas famílias mais ricas trocavam-se presentes entre os membros
da casa ou parentes de fora. Assim, Jesus a instituiu também com os seus apóstolos,
pois os considerava a sua família itinerante, os seus verdadeiros parentes escolhidos
pelo Senhor. Desejando torná-la mais expressiva, decidiu harmonizar a cerimônia da
ceia da Páscoa com o lava-pés, que já era um culto ideado por João Batista, com a
finalidade de congraçamento entre os discípulos e os seus rabis ou mestres.
Em virtude do Mestre ter antecipado a cerimônia do lava-pés para a noite de quarta-
feira, pois estava certo de ser preso de um momento para outro, então ambas as
cerimônias foram feitas na mesma ocasião. Ao entardecer, os discípulos reuniram-se no
aposento mais espaçoso da residência de Jeziel, o qual comemoraria a sua ceia de
Páscoa no dia seguinte, quinta-feira, o dia exato. Após as orações e os cânticos de
hinos, que eram motivos de alta espiritualidade no movimento cristão, os servos de
Jeziel serviram a ceia frugal de Páscoa, com a prodigalidade dos tradicionais pães
asmos e o vinho tinto, que Jesus abençoou como era de praxe.
Em seguida, aproveitou aquele momento tão expressivo para dirigir-se aos
discípulos, referindo-se a motivos íntimos e saudosos. Em linguagem clara, simples e de
profunda exatidão, que difere muito dos relatos empolados de certas passagens dos
evangelistas, o Mestre Jesus assim resumiu o seu pensamento a todos: “Rendo graças
ao Pai que me permite estar ainda convosco nesta festividade da Páscoa, pois sei pela
voz do Espírito que não tarda a se iniciar a minha paixão. Não tornarei mais a comer
convosco nem me será dado a beber do próximo vinho. No entanto, cumprida será a
Vontade de meu Pai que está nos céus, pois minha hora é chegada; mas eu vos
precederei na Galiléia e vos esperarei no Reino de Deus”.
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Eram nove horas da noite, quando Jesus, levantando-se da mesa, tirou a túnica que
lhe ia aos pés e, “pegando numa toalha, cingiu-a em torno da cintura, lançou água numa
bacia, e se pôs a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha com que
estava cingido”.
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PERGUNTA: — E que nos dizeis quanto à significação da cerimônia do “lava-pés”,
tradicionalmente consagrada pela Igreja Católica Romana na Semana Santa. Há algum
fundamento em tal consagração?
RAMATÍS: — João Batista, o profeta solitário, havia instituído algumas cerimônias
com a finalidade de incentivar certas forças psíquicas nos seus adeptos através da
concentração ou reflexão espiritual. Isso impressionava os neófitos e servia para a
confirmação da própria responsabilidade dos valores espirituais. Em sua época os
símbolos, ritos, talismãs e as cerimônias ainda produziam louváveis dinamizações das
forças do espírito ou impunham respeito e temor religioso. Eram recursos que serviam
como “detonadores” das forças psíquicas, produzindo profunda influência esotérica nos
seus cultores, assim como ainda hoje fazem os sacerdotes para o incentivo da fé e do
respeito dos fiéis, como são os cânticos, perfumes, a música e o luxo na igrejas.
Por isso, João Batista instituiu a cerimônia do batismo para os neófitos, cuja imersão
nas águas dos rios e dos lagos funcionava como um catalisador das energias espirituais,
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Nota do Médium: - Cremos que parte do pensamento de Jesus nesse breve discurso aos seus apóstolos, na hora da
última ceia, encontra-se referido mais aproximadamente em Lucas, (22:14,15,16,18). Neste último versículo, o termo é
“não tornarei a beber do fruto da vida”, que é a uva, enquanto Ramatís diz que Jesus se referiu ao vinho.
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João, 13:4,5.
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