fora informado de que os judeus preparavam-se para uma nova insurreição. Segunda-
feira, portanto, Jesus e seus discípulos já estavam sendo caracterizados à conta de
inimigos da Lei e da Religião. O Sumo Sacerdote havia convocado reunião para terça-
feira cedo, a fim de discutir a ousadia daquele profeta perigoso, eloqüente e sedutor, que
era Jesus de Nazaré.
Mas a verdade é que, devido à imprudência dos seus partidários, turbara-se em
Jerusalém o clima receptivo às palavras enternecidas e redentoras do Mestre Jesus,
invertendo-se o objetivo espiritual de sua doutrina. Jamais ele poderia supor que, após
hesitar durante três anos em pregar o seu Evangelho na metrópole de Jerusalém, os
seus próprios adeptos se encarregariam de tisná-lo na sua fórmula de amor e paz, pois
a sua chegada estava sendo levada à conta de uma campanha de indisciplina e de
cobiça pelo poder de Israel. Enfim, o pior já estava feito, pois embora os galileus não
passassem de provincianos tolos e sem cultura, na opinião dos jerusalemitas, a verdade
é que Judas, o Gaulonita, homem destemido que se rebelara contra os romanos 20
anos antes, era da mesma Galiléia de onde procedia Jesus. Conseqüentemente, os
galileus eram primitivos, mas ousados, ingênuos, mas decididos, o que jamais poderia
passar despercebido aos astutos sacerdotes de Jerusalém. E alguns deles desforravam-
se dizendo que “o Mestre, Jesus demoliria o Templo e o reconstruiria em três dias”, o
que significava uma das mais graves blasfêmias contra o sentimento religioso amparado
pelo Clero Judeu.
É certo que ainda não havia ocorrido acontecimentos graves e subversivos ou
mesmo derramamento de sangue pelos acompanhantes de Jesus, conforme sucedera
na rebelião de Judas, o Gaulonita, responsável pela morte de muitos romanos e pela
terrível crucificação dos seus sequazes nos campos da Galiléia. Mas as autoridades de
Jerusalém consideravam ostensiva e sediciosa a marcha dos galileus aos vivas e
aclamações ao Rei de Israel e Filho de Deus, além da desordem e dos prejuízos que se
verificaram no Pátio dos Gentios, no Templo, onde alguns arruaceiros participantes do
movimento cristão se haviam aproveitado da situação para cometerem depredações e
furtos. Ademais, Jesus não ignorava que todos esses acontecimentos seriam
deturpados pelos seus adversários, para enquadrá-lo sob as leis punitivas da Judéia e
mesmo de Roma.
PERGUNTA: — E que aconteceu, a partir de terça-feira, com Jesus e seus
apóstolos?
RAMATÍS: — Em companhia de Pedro e João, o Mestre transitou entre a multidão no
centro de Jerusalém, visitou a praça do mercado, localizou as sinagogas e lugares onde
ainda alimentava esperanças de pregar o Evangelho àquele povo excessivamente apegado
aos apetrechos do mundo e muitíssimo esquecido das realizações do espírito eterno.
Pretendia iniciar suas pregações com toda moderação e tolerância, sem ferir ninguém,
manter o respeito ao sacerdócio organizado e à Lei de Moisés. Mais tarde, quando já
estivessem familiarizados com suas idéias de libertação espiritual, então procuraria chamá-
los à razão, estigmatizando os pecados que escravizam o espírito à animalidade. Aliás, não
pretendia modificar o mundo, mas apenas o homem.
Infelizmente, o noticiário a seu respeito era cada vez mais grave e perigoso à sua
liberdade, pois já havia editos do centurião Quinto Cornélio, comandante da Torre
Antônia, mandando fechar as portas da cidade e exigindo dos retirantes o visto
sacerdotal ou o consentimento das autoridades romanas. Ademais, havia sido
aumentado o número de patrulhas de soldados romanos, que pareciam operar de
perfeito acordo com os esbirros do Sinédrio. Corria o boato de que alguns galileus mais
ousados haviam tentado apossar-se de armas nos porões do Templo, penetrando
aquele aqueduto, junto à velha Torre de Siloam. Os mais pessimistas já ventilavam a
possibilidade de uma crucificação coletiva, a exemplo do que acontecera com os
sequazes de Judas, o Gaulonita, nas planícies da Galiléia.
Não foi difícil para Jesus e seus discípulos certificarem que os galileus fugiam de
Jerusalém apressadamente, logo que circularam as notícias comprometedoras, de
segunda-feira. Retornavam para suas terras e cidades, temerosos da ira dos sacerdotes
e dos romanos. Os que ainda se encontravam na cidade mostravam-se aterrorizados e
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