e majestoso, atravessou a “Porta Áurea” da cidade. Mas o seu espanto foi imensurável,
quando as mulheres e crianças lhe atiraram flores e o saudaram com ramos de oliveira e
palmeiras, enquanto os homens tiravam suas túnicas e as colocavam no chão para ele
passar. Surpreso e apreensivo, pisava as pétalas de flores e as túnicas dos seus
admiradores, estendidas a seus pés, sob os gritos de “hosanas” e aclamações ao Rei de
Israel e ao “Filho de Deus”! Aliás, Jesus não penetrou em Jerusalém montado num
burrico ou qualquer jumento, conforme diz a tradição religiosa e assim predisse o Velho
Testamento, pois desde Betânia todos marchavam a pé, num crescente júbilo emocional.
Evidentemente, ninguém estenderia suas túnicas para serem pisadas por um burrico,
mas assim o fizeram para a passagem do Mestre Galileu.
As ruas da cidade estavam apinhadas dos tipos mais exóticos e das raças mais
diversas recém-chegados de todas as partes da Judéia e de outros países distantes,
para assistirem às festividades da Páscoa. Ali se viam mercadores judeus de Alexandria,
com barretes de veludo vermelho, túnica e saia até aos pés; de Cesaréia, Antioquia,
Arábia e até do norte da África; judeus da Abissínia, de pés descalços e vestidos de um
só pano branco; do Reno, com armaduras medievais; da Grécia, com vestes de lã, ricos
peplos e cabelos crespos enfeitados com fitas douradas ou ramos de louro; do Oeste
hibernoso, trajando casacos espessos; do deserto, cobertos com pele de camelo ou de
leão. Havia homens e mulheres pobres, quase desnudos, a ombrear sob gestos de
repulsa com hebreus ricos, que resplandeciam em seus vultosos anéis e colares,
vestidos com finos linhos de Sidon e ricas faixas de púrpura de Tiro. No meio daquela
gente, de vez em quando, brilhavam os capacetes e as armaduras dos romanos
ostensivos, que passavam em grupos, batendo nas pedras os tacões das botas
ferradas. Cães de todos os tipos ladravam, perseguiam-se e farejavam entre mantas de
carne-seca e peixe desfibrado. Os burricos e jumentos, inquietos pelo enxame de
moscas atraídas pelos boiões de mel de figo, batiam os cascos no calçamento. A
multidão suava e cheirava mal, pois a cidade estava sujíssima e não havia tempo para
uma limpeza correta. Frutos e legumes podres, esmagados mil vezes, multiplicavam-se
pelas calçadas ou se misturavam ao estrume dos asnos e camelos. Estrugiam pregões e
os vendeiros berravam, ofertando suas mercadorias aos forasteiros, numa competição
rixenta e feroz, que exigia a intervenção das patrulhas de soldados romanos.
Jesus e os galileus que o seguiam, eufóricos e convictos de que toda aquela gente
formigante estaria comungando com os seus objetivos messiânicos, entraram pela rua das
Especiarias, onde, numa gritaria infernal, judeus se serviam de pequenos moinhos e
pedras polidas, esmagando sementes picantes e odorantes, moendo cominho romano e
armênio, pimenta da Índia, preta e aromática, noz do Egito e da Arábia e raízes provindas
de todas as partes da Palestina. O populacho, surpreso, recuava dando passagem àquela
procissão intempestiva de criaturas malvestidas e empoeiradas, que faziam enorme
alarido em torno do seu Mestre e o festejavam com folhas de palmeiras. Os forasteiros
mostraram-se algo admirados, certos de se tratar de alguma cerimônia regional ou talvez
grupos de participantes das festividades da Páscoa, que chegavam eufóricos à ruidosa
capital da Judéia. Mas os cidadãos jerusalemitas riam e divertiam-se gostosamente ao
reconhecerem os galileus metidos em alguma aventura provinciana. Enquanto o turbilhão
passava, custando a findar, espremido nas ruas estreitas da cidade, quase fazendo
desabar toldos, esteios, boiões e bilhas, caixas e fardos, os vendeiros pulavam balcões,
mesas e estrados berrando protestos e insultos, a fim de garantir suas mercadorias
expostas de modo a atrair fregueses. Mas os galileus passavam ruidosos, felizes e
ingênuos, apanhando tâmaras, ameixas, figos ou beliscando cachos de uvas, deixando
quase loucos de raiva os judeus dos bazares e quitandas. Os que iam à frente, em torno
de Jesus, abriam alas forcejando entre a multidão acotovelada no meio da rua e
esparramada debaixo dos alpendres, toldos e interior das lojas, e que se chocava com a
mole de galileus ruidosos e mais numerosa, que vinha à retaguarda, num crescendo de
avalancha. Tanto os que chegavam, como os que ali se achavam, espremiam-se entre os
beirais, esteios e toldos das lojas. Outros grupos, fazendo prodígios para não pisotearem
cestos de frutas e legumes, não derrubarem caixas, fardos e pilhas de comestíveis; e
acolá, monte de gente empurrada para as vielas mais despovoadas. Depois da gritaria
ensurdecedora, das pragas, insultos e lamentos do turbilhão produzido pela passagem
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