Jesus, devido à sua renúncia e honestidade espiritual, poderia ter prescindido dos 

Essênios na execução de sua tarefa redentora e mesmo sem eles também atingiria o 
Calvário na “hora psicológica”. No entanto, já não podemos afirmar o mesmo quanto à 
sobrevivência e o sucesso do cristianismo, sem o terreno adubado pelos essênios. 

 
PERGUNTA: — Ser-vos-á possível destacar o trabalho mais individual de Jesus, 

embora considerando-se a benéfica influência dos Essênios na sua obra? 

RAMATÍS: — Jesus, sublime catalisador angélico, deu forma e vida, no mundo 

exterior, às suas próprias idéias e às que lhe foram inspiradas pela amizade pura dos 
Essênios. O que eles pensavam, sentiam e cultuavam, afinava-se perfeitamente com a 
alma eleita de Jesus, o qual deu maior vivência aos seus elevados princípios e os tornou 
fundamentos indestrutíveis do sublime Código Moral da humanidade — o Evangelho. 

Assim como todo idealista intrépido, ele abriu clareiras na caminhada das 

civilizações humanas, combatendo o farisaísmo, a negociata religiosa, a exploração dos 
poderosos e a ganância dos ricos, em vez de ser um hábil político ou líder religioso 
capaz de contentar gregos e troianos. É certo que Rama, Krishna, Confúcio, Zoroastro, 
Buda e outros instrutores religiosos também pregaram o Amor que une contra o ódio que 
separa, mas Jesus, dispondo apenas de um punhado de homens rudes, iletrados e 
supersticiosos, conseguiu transformar esse mesmo Amor numa doutrina que avulta e se 
expande tanto quanto se sucedem os próprios séculos. Incompreendido pelos seus 
próprios familiares, amigos e discípulos, ele conseguiu compor na face do orbe 
terráqueo um poema épico escrito com a tinta vermelha do seu próprio sangue vertido 
no martírio da crucificação, e que a posteridade é obrigada a reconhecer como o único 
processo capaz de libertar o homem da escravidão animal. 

 
PERGUNTA: — Porventura não teria sido João Batista a influência que realmente 

impeliu Jesus para a execução de sua obra messiânica? 

RAMATÍS: — João Batista, na verdade, ateou fogo às idéias messiânicas de Jesus 

e fortaleceu ainda mais a inspiração benfeitora dos Essênios. A força selvática da 
austeridade de João Batista na sua condenação implacável aos ricos, poderosos e 
corruptos, impressionou Jesus e teve o dom de eliminar-lhe as últimas hesitações, 
convencendo-o de que também estaria certo manifestando em público os mesmos 
sentimentos e preocupações amorosas em favor da humanidade. Embora Jesus tenha 
sofrido a influência estimulante de João Batista, ele não lhe seguiu os passos quanto à 
sua ética agressiva. A esta Jesus opôs a humildade, a brandura e a tolerância própria 
dos Essênios. Embora ambos fossem sacrificados porque pretendiam a felicidade 
alheia, João Batista morreu pela sua obstinação em excomungar os reis, os poderosos e 
afortunados, atraindo para si a ira e a vingança de tais adversários. 

Em vez de orientar e esclarecer os réprobos do mundo, ele os condenou 

implacavelmente, como um furacão que arremessa o lixo da superfície da terra, mas 
deixa o terreno árido. Deus não exige a morte dos seus filhos que não aceitam a 
Verdade, pois quase sempre essa obstinação é fruto da ignorância ou de concepções 
opostas, condicionadas também a alcançar o céu. João Batista foi degolado porque se 
precipitou em assomos rudes de reformar instantaneamente um tipo de homens cúpidos, 
instintivos e egoístas, cujos pecados eram conseqüentes da sua graduação espiritual e 
não por motivo de qualquer deliberação consciente. Era tão prematuro querer-lhes uma 
renovação moral súbita, assim como exigir que a semente se transforme imediatamente 
em fruto sazonado. Muitos cristãos foram massacrados em Roma, mas isso teria sido 
evitado se, em vez de desafiarem os anticristãos, tivessem vivido os seus princípios de 
humildade e amor à luz do dia. Não basta morrer por um ideal, mas é preciso viver em 
favor do adversário. A censura agressiva aos pecados alheios acirra o amor próprio do 
próximo. Ao passo que a advertência paternal, o conselho fraterno de bondade e amor é 
ouvido até com gratidão. 

Jesus foi crucificado como o Cordeiro de Deus, devido à imprudência sediciosa dos 

seus discípulos e não por efeito de quaisquer excomungações agressivas contra o 
próximo. Ele aceitou a 

morte

 para não violentar a 

vida

 e preservar sua doutrina de Amor 

e de Paz. Justo e inocente, não condenou os pecadores, virtuoso e bom perdoou 

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