Em conseqüência, salvo João Evangelista, que conhecia tal disposição do Mestre Jesus
e dos seus contatos com os Essênios, ninguém mais pôde identificá-lo a esse respeito.
Assim, nada consta nos próprios evangelhos escritos posteriormente à morte de Jesus,
nos quais há muitas contradições entre si, pois algumas lendas substituíram fatos
autênticos e certas interpolações descrevem coisas que não aconteceram. Além dessas
incoerências, que deixam os estudiosos hesitantes, se ainda há quem oponha dúvidas
até quanto à existência do Rabi da Galiléia, não é de admirar que duvidem de suas
relações ocultas com os Essênios.
PERGUNTA: — Quais eram as diferenças fundamentais entre os terapeutas e os
Essênios do “Círculo Interno”?
RAMATÍS: — A Confraria dos Essênios teve o seu início no ano 150 a. C., no tempo
dos Macabeus. Era uma espécie de associação moral e religiosa, lembrando algo das
cooperativas agrícolas modernas, que além dos cuidados da indústria, do comércio ou
da lavoura, devota-se à assistência social e à educação de seus componentes. Assim
nasceram pequenas sociedades ou agremiações nas povoações da Judéia, que mais
tarde estenderam seus ramos até a Fenícia, Índia e ao Egito. Cada associação era
dirigida pelos membros mais velhos da comunidade e os filiados viviam juntos,
participando dos bens em comum. Cada família essênia comprometia-se a criar pelo
menos, um filho de outras famílias numerosas e pobres.
De princípio, só se devotavam à lavoura, à criação de aves, à pequena indústria
manual e aos trabalhos de artesanato. Mas ante a necessidade de atender a todas as
providências entre os seus membros, passaram a estudar magia de campo e da mata,
compulsaram obras terapeutas dos egípcios e hindus, nascendo em breve a profissão
de curandeiros ou curadores. Como se tratasse de uma associação disciplinada, que
não reconhecia outra autoridade senão a dos seus mentores, em breve tornou-se uma
saudável confraria, cuja alimentação sadia e o modo de vida respeitável aliviavam a
prática de costumes religiosos, amavam a Deus e ao próximo, acreditavam na
imortalidade da alma e na reencarnação.
Como a tendência humana é de progredir incessantemente para expressões cada
vez mas inteligentes e úteis, depois que os Essênios se consolidaram nessa forma
associativa benfeitora, de segurança econômica e aprimoramento moral, naturalmente
nasceu-lhes a idéia de uma instituição esotérica, a fim de se cultuar os valores do
espírito imortal. De princípio, construíram pequenos mosteiros nas próprias
comunidades rurais e ali deram início ao culto espiritual, cujas práticas ainda se atinham
às superstições e aos ritos complexos dos orientais. Era então a fase da semeadura, em
que ao lado das flores admiráveis do entendimento superior, existiam também as ervas
da mediocridade humana. No entanto, a dignidade, os objetivos superiores e o
desinteresse dos Essênios, visando exclusivamente ao Bem, atraíram a atenção do Alto
e em breve eram alvo da presença de entidades de boa estirpe espiritual, que passaram
a orientá-los para seu maior progresso espiritual. Como a Confraria dos Essênios era
uma verdadeira ressurreição da velha “Fraternidade dos Profetas”, fundada por Samuel,
o Alto permitiu encarnações de alguns profetas tão tradicionais do Velho Testamento,
em sua comunidade. Em breve, o padrão espiritual dos Essênios elevou-se ante a
presença de espíritos de excelente estirpe sideral. Fez-se a desejada seleção, excluindo
dos ritos e cerimônias os excessos supersticiosos, crescendo então a messe de
conhecimentos superiores da vida imortal, guardando-se, porém, a necessária reserva
daquilo que o homem profano ainda não poderia entender nem respeitar.
Jesus hauriu entre eles as energias espirituais de que tanto precisava para
neutralizar as hostilidades do mundo no desempenho de sua obra redentora. Dali por
diante foi sendo exigido dos adeptos o máximo quanto à divulgação das práticas
essênias, que não deviam ser divulgadas nem praticadas fora dos santuários, coisa que
Jesus, por ser entidade de alto teor espiritual, jamais iria violar. Daí a diferença
fundamental entre os terapeutas, que operavam comumente no mundo profano sem as
iniciações dos santuários internos e os filiados de grau superior, cuja existência passou
a ser vivida nos mosteiros, grutas, velhas minas abandonadas e lugares distanciados do
bulício do mundo.
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