tranqüilos. A sua natureza poética e encantadora servia como incessante estímulo de
beleza, inspiração e otimismo para o Mestre Jesus delinear suas prédicas e esboçar os
quadros maravilhosos de evocação dos mundos paradisíacos.
Eis por que o Mestre Amado tinha verdadeira adoração por Nazaré e seu coração
pulsava de júbilo quando, ao retornar de suas peregrinações, ele a descortinava
semelhante a uma pomba de suave brancura, pousada num delicioso ninho de verdura
cercado de flores. Havia o fascínio dos lagos, em cujo dorso ondulado pelo vento
balsâmico descido das colinas formavam-se rendilhados de espumas branquíssimas
deslizando sobre a água de um esmeralda translúcido. Os trigais, as margaridas que
atapetavam o Jordão, os narcisos dispersos pelos campos e os punhados de papoulas
como um fogo vivo, curvavam-se quando a brisa cariciosa os agitava docemente. O
perfume balsâmico de toda a vegetação flutuava no ar; ele vinha nas pétalas das flores,
nos confetes vivos desfolhados dos pessegueiros, das macieiras e das ameixeiras
floridas, que balouçavam suavemente. Ou então evolava-se dos bosques isolados nos
vales, carregados do odor agreste e penetrante das parasitas e das frutas silvestres. À
noite, a superfície dos lagos tranqüilos refletia o manto veludoso e azul-marinho da
abóbada celeste pontilhada de estrelas luzindo como lantejoulas vivas.
Então, Jesus entrecerrava os olhos sob a inspiração da paisagem deslumbrante e
poética da Galiléia. Projetava esse quadro encantador da natureza na sua mente
angélica, de imaginação poderosa. Assim, o seu espírito conseguia evocar alguns
matizes do seu mundo celestial mediante as imagens sublimes de Nazaré, as quais
eram-lhe uma suave compensação no mundo terráqueo.
As montanhas da Galiléia recortadas nos horizontes resplandecentes, a policromia
mágica das cores vivas do pôr-do-sol, esgarçadas nas fímbrias das nuvens, os trinados
eufóricos das aves canoras e o balido das ovelhas nas encostas das campinas,
conjugado aos cantares bucólicos de seus pastores, tudo nesse conjunto paradisíaco
constituía uma espécie de sinfonia cósmica flutuando, vibrando no ar como um cântico
de reverência ou gratidão sonorizada dirigida ao Criador de todas as maravilhas da
Natureza.
A tranqüilidade da cidade de Nazaré, formando um anfiteatro natural na encosta dos
morros; as suas ruas estreitas, de lajes e pedras lascadas, sem a tortura dos veículos
modernos; as casas simples e humildes, brancas como as toalhas alvejadas a anil,
embora sem os rendilhados da arte helênica e sem a suntuosidade das edificações
romanas, eram simpáticas, hospedeiras e graciosas; exalavam um ar amigo no seio dos
jardins floridos e eram suave calmante para a visão fatigada. Jamais Jesus quis trocar o
casario simples e acolhedor de Nazaré pela ruidosa metrópole de Jerusalém, onde os
nervos se esfrangalhavam sob a ofensiva de gritos, brados, rixas, ameaças e pregões
de todos os tipos e raças. Nas suas ruas, praças e terrenos baldios, aglomeravam-se as
multidões inquietas e turbulentas, exigindo, a todo momento, a intervenção das
patrulhas romanas ou a dos esbirros do Sinédrio. Quando o Mestre Jesus esteve em
Jerusalém, aos 23 anos de idade, após a morte de José, ele buscou empregar-se nas
carpintarias da cidade, a fim de cooperar junto à família. Mas, ao retornar à Galiléia, isso
foi-lhe um refrigério balsâmico para os nervos e para a alma fatigada do bulício rixento
das cidades populosas.
PERGUNTA: — Jesus, antes de encarnar-se procurou conhecer os lugares, na
Terra, em que depois teria de viver por força de sua missão redentora?
RAMATÍS: — Antes de habitar a carne, Jesus percorreu todos os lugares de sua
futura atividade messiânica na Palestina, gravando na alma o cenário que, então,
serviria de moldura à sua obra cristã. Visitou o Tiberíades, em cuja margem se demorou,
consagrando aquele lago de tanta tradição como o centro de suas pregações; assinalou,
no Jordão, o local onde mais tarde deveria encontrar João Batista, para a memorável e
significativa cena do batismo; seu espírito resplandecente pousou suavemente no cimo
dos montes Gilboé, Hermon, Safed, Moab, Elbat e Carmelo, revendo companheiros de
outras romagens e que, travestidos de essênios, ali já viviam compondo a abóbada
espiritual, que mais tarde ser-lhe-ia de afetiva inspiração no desenvolvimento de suas
idéias de libertação do homem terreno. Depois, dirigiu-se ao Tabor, onde comovido
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