sem ser o próprio Deus, pois, como embaixador das luzes do plano angélico, viveu
exclusivamente para os homens como o Pai viveria para as suas criaturas. O próprio
Jesus, já de há muito tempo, opera sobre o orbe terráqueo coordenando instruções que
proporcionem o clima acessível à mais breve exatidão de sua passagem pela Terra. É
necessário que a humanidade abandone a incerteza, a desconfiança e a descrença na
obra do Mestre Jesus, pois em vez de um legislador moral coerente, genial e humano,
transformaram-no em um Mito, que não se ajusta ao cenário do mundo material.
PERGUNTA: — Que dizeis de certos autores que focalizaram Jesus apenas como
um homem comum, impelido por um complexo messiânico e persistente nos seus
objetivos?
RAMATÍS: — Louvamos o trabalho dos iconoclastas em que despojaram Jesus da
falsa roupagem de um grande ilusionista religioso, embora neguem o seu messianismo
como um programa excepcional traçado pelo Alto. Indiretamente, eles abriram novas
clareiras para melhor conhecimento da pessoa de Jesus, quer rompendo os velhos
tabus criados pela Igreja Católica, como libertando as mentes hipnotizadas pelos
dogmas seculares. Eles facilitaram o trabalho do próprio Espiritismo e dos Espíritos,
preparando, entre os homens, a disposição mental mais lógica e coerente para se
aceitar a figura majestosa de Jesus, sem fantasias e anomalias humanas.
PERGUNTA: — Podereis apontar algumas incoerências dos evangelhos, em
relação à pessoa de Jesus, quanto a alguns dos fatos referidos nos mesmos?
RAMATÍS: — O Jesus descrito nos evangelhos às vezes se contradiz quando
analisado em sua contextura angélica e condição psicológica humana. E há também
contradições entre as quatro narrativas dos apóstolos. Além disso, certas cenas e
atitudes desmentem a conduta, o temperamento, a sensatez e os objetivos do Mestre,
porquanto, em algumas passagens, ele se mostra irascível, arbitrário e despótico, depois
de ter predicado o amor, a bondade, a mansuetude, o perdão e a tolerância, como no
caso de sua ira e agressividade contra os vendilhões do templo (Mateus, 21:12,13).
PERGUNTA: — Mas Jesus, ao enxotar os vendilhões do templo, a sua veemente
indignação não é uma prova de sua coerência quanto ao respeito devido à Casa de
Deus?
RAMATÍS: — Essa narrativa é de origem duvidosa, pois não há prova alguma de
que tenha sido escrita por qualquer dos evangelistas. Mesmo porque não se coaduna
com os costumes hebraicos da época. Além disso, a violência e agressividade do ato
desmentem a índole pacífica e tolerante de Jesus, pois apresentado empunhando um
chicote, açoitando os homens, dando pontapés nas mesas, espantando bois e ovelhas,
promovendo, enfim, uma grande desordem no recinto de um templo. Os cambistas são
escorraçados até à rua, recebendo insultos e sofrendo prejuízos por parte daquele que
viera ensinar a perdoar incondicionalmente.
O Cordeiro de Deus era dócil, pacífico e respeitoso em todos os seus atos e atitudes.
Assim o demonstrou diante da mulher adúltera, ante a negação de Pedro e na traição de
Judas. Sua missão não era de turbulência, nem de alterar os costumes tradicionais de uma
cidade. Jesus descera à Terra para viver, à luz do dia, as lições do Amor e Piedade, em toda
sua extensão. Alma cósmica, compreensiva e sábia, não tinha quaisquer recalques de
cólera. Enérgico diante das injustiças contra os fracos, jamais se transformaria num agressor
vulgar atacando um punhado de homens ignorantes e necessitados de ganhar a vida. Tais
vendedores não exerceriam o seu comércio se isso lhes fosse proibido pelo sacerdócio
hebreu, que era a forma dominante para dirigir o povo.
PERGUNTA: — Mas não teria ele agido bem se, de fato, tivesse advertido que a
Casa de Deus deve ser uma casa de oração e não um “covil de ladrões”?
RAMATÍS: — Chamar o templo de Jerusalém “covil de ladrões” representaria um
insulto aos sacerdotes e ao povo de Israel; e Jesus seria incapaz de insultar alguém.
Aliás, ele apenas considerava aquele local como um detestável e sangrento matadouro
de aves, carneiros e bois. A sua noção de “Casa de Deus” era bem mais extensa,
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