serem punidos como sediciosos perante o Procurador de Roma, debandaram 
rapidamente por todos os cantos de Jerusalém e não lhes passou pela mente qualquer 
iniciativa de apanhar os restos da morte do Mestre e guardá-los como relíquias. A maioria 
evitou qualquer contato nas proximidades do local do Calvário, sem preocupar-se de 
colher gotas de sangue, pedaços de espinhos ou fragmentos da cruz. A morte de Jesus 
provocou forte temor e até descrença na maioria dos seus seguidores, pois em vez de 
vê-lo empunhando o cetro real ante o povo judeu, terminara sendo crucificado como 
qualquer malfeitor incurso nas leis romanas. Quem poderia antever que aquele homem 
executado por uma condenação pública, seria capaz de se projetar pelos séculos afora e 
redimir a humanidade? Ante a incapacidade de tal previsão, não se justifica que alguém 
se interessasse, de imediato, em conservar como relíquia alguns cravos ou pedaços da 
cruz do Sublime Pregrino. 

Aliás, Jesus não foi crucificado com a coroa de espinhos, pois esta foi uma encenação 

cruel da criadagem e servos de Pilatos, feita na sexta-feira, durante a flagelação. Depois 
dos sarcasmos e da farsa ridícula a que submeteram Jesus, o ramo de vime que fora 
usado para a confecção da coroa foi jogado fora como qualquer objeto inútil, sem valor. 

 
PERGUNTA: — E que dizeis sobre a ressurreição de Jesus, no terceiro dia de sua 

crucificação, após sua morte corporal? 

RAMATÍS: — Embora Jesus tenha aparecido em espírito a Maria de Magdala, aos 

apóstolos e outros discípulos na estrada de Emaús, isso foi um fenômeno de 
ectoplasmia, pois Madalena era poderosa médium, que, algumas vezes, concorrera para 
certos acontecimentos incomuns na peregrinação do Mestre. Quando surgiu entre os 
apóstolos e Tomé quis tomar-lhe as mãos, isso foi possível devido justamente à 
faculdade ectoplásmica dos presentes, que lhe permitiu a materialização em corpo 
inteiro e o êxito da “voz direta”, sob os fulgores da luz sideral. Nos demais casos, em 
que outras pessoas viram Jesus, deu-se apenas o fenômeno de vidência, coisa bastante 
comum entre os médiuns. 

Jesus não deixou o túmulo, em corpo e alma, pois as suas aparições jamais 

desmentiram o bom-senso das leis da física transcendental, nem foram conseqüência de 
fatos miraculosos, mas apenas manifestação das próprias energias que lhe foram doadas 
pelos seus discípulos e amigos siderais. 

 
PERGUNTA: — Mas o seu corpo não desapareceu do túmulo? 
RAMATÍS: — Quando Maria de Magdala “foi cedo ao túmulo, sendo ainda escuro, 

viu a pedra removida” (João, 20:1). É evidente que, se Jesus tivesse ressuscitado em 
corpo e alma e aparecido aos apóstolos atravessando as paredes de tijolos da casa 
onde eles se encontravam, também teria atravessado o seu túmulo sem precisar 
remover a pedra de entrada. Após a morte do Mestre, o assessor de Pôncio Pilatos 
autorizou que o seu corpo fosse entregue à família, conforme pedido feito por José de 
Arimatéia. Então Maria, sua mãe, Tiago, o maior, juntamente com João, Marcos, Pedro e 
Tiago, irmão de João, desceram o corpo que estava na cruz e as mulheres se 
encarregaram de preparar a balsamização de acordo com os costumes da época e da 
raça judaica. Em seguida, seriam aplicados óleos cheirosos e extratos de plantas 
aromáticas, pois o enterro seria no dia seguinte. E o túmulo foi fechado com pesada 
pedra como porta, pois era uma pequena gruta escavada no topo da colina pedregosa. 
A turba já se aquietara, satisfeita em sua sanha homicida, como a fera que se acomoda 
depois do estômago farto. Os soldados desciam a encosta gracejando na sua 
inconsciência infeliz. Alguns discípulos de Jesus, temerosos de vexames ou agressões, 
iam furtivamente ao monte do Calvário, movidos pela intensa amargura e saudade 
daquele homem de virtudes tão raras e sublimes. 

No entanto, Pedro ficara bastante preocupado, depois que ouvira rumores de 

vândalos e criaturas embriagadas, a soldo do Sinédrio, que se propunham profanar o 
túmulo de Jesus e arrastar-lhe o corpo pelas ruas. Era intenção dos sacerdotes extinguir 
qualquer impressão favorável à doutrina e à pessoa de Jesus, evitando quaisquer 
demonstrações dramáticas que dessem vida e alento à tragédia da cruz. O rabi da 
Galiléia deveria ser esquecido ou aviltado a todo custo para afastar-se o perigo de se 

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