“homem dos milagres” e acompanhar-se de um cortejo de admiradores e fanáticos, que 
lhe prestarão homenagens até o dia da primeira falha ou incompetência; o segundo é um 
libertador de almas que dispensa os recursos da matéria para organizar o seu apostolado. 
Jesus poderia realizar todos os milagres que lhe foram atribuídos, embora operando 
sabiamente com as energias naturais do próprio mundo físico. No entanto, isso em nada o 
ajudaria a convencer a criatura humana necessitada de sua própria libertação espiritual. 
Nenhum missionário, por mais excêntrico e poderoso no manejo das forças ocultas, 
conseguiria transformar um homem num anjo, somente à custa de fenômenos e milagres. 
O espírito do homem não se gradua para a angelitude presenciando milagres ou 
admirando “magos de feira”, mas isso ele só o consegue despertando em si mesmo as 
forças espirituais que depois o libertam do instinto animal e abrem clareiras mentais para a 
amplitude de sua consciência. 

O “milagre” do Mestre Cristão andar sobre as águas, conforme a narrativa dos 

evangelistas, prende-se à interpretação errônea de um costume tradicional entre os 
galileus de sua época. Havia dois caminhos muito conhecidos que convergiam de 
Cafarnaum e outras localidades para Nazaré. Um deles cortava a planície e o 
denominavam “caminho do campo”; outro marginava o lago Tiberíades e o chamavam o 
“caminho das águas”. Assim, quando alguém seguia ou retornava beirando o lago 
Tiberíades, era costume dizer-se que “fulano fora ou viera pelo caminho das águas”. 
Mas decorrido certo tempo, então era mais próprio dizer-se que “fulano fora ou viera 
pelas águas”. Deste modo, quando Jesus retornava com seus discípulos para Nazaré 
era muito comum anunciarem que o “Mestre vinha pelas águas”. Isso fez com que a 
tradição religiosa trouxesse até vossos dias a lenda de que “Jesus andava sobre as 
águas”. 

 
PERGUNTA: — Considerando que Jesus, há dois mil anos, fez curas de resultados 

absolutamente positivos, qual o motivo de alguns médiuns atuais fracassarem e não 
conseguirem iguais efeitos curativos, embora adotando os mesmos processos usados 
pelo Mestre Cristão? 

RAMATÍS: — Nem todos os enfermos elegem-se realmente para serem curados. O 

doente deve ir ao “encontro” do curador e tornar-se eletivo à cura, quer seja submetido à 
terapêutica dos encarnados ou dos desencarnados, pois ela depende da maior ou 
menor eclosão das energias de ambos enfermo ou curador. Quando a fonte que emite 
os fluidos é bastante energética, como no caso de Jesus, o enfermo cura-se 
rapidamente, sem convalescença. Porém, quando é de fraco potencial, então é preciso 
que o próprio doente coopere com a energia da sua fé, centuplicando o energismo 
indispensável de fluidos curadores. Tal fenômeno se opera mais propriamente no plano 
espiritual e não carnal, numa espécie de automatismo desconhecido à consciência 
física, cuja atitude positiva da fé que “transporta montanhas” é a verdadeira “chave” para 
se abrirem as comportas das energias latentes na alma humana. Mas a cura rápida e 
incomum não constitui milagre nem mistério, porém, é fruto de uma série de 
circunstâncias de caráter moral e espiritual, cujo sucesso depende também do amor 
sincero e desinteressado. 

Além disso, o homem moderno está viciado e intoxicado com remédios violentos, 

que sufocam suas energias magnéticas mediante o bombardeio da química moderna, de 
muitos produtos dos laboratórios farmacêuticos. O doente atual assemelha-se a um 
exótico paliteiro humano, de seringas hipodérmicas, que lhe despejam continuamente na 
contextura delicada do sistema orgânico, o conteúdo de sais minerais heterogêneos e 
substâncias agressivas, causando-lhe mais tarde graves conseqüências e afetando-lhe 
a saúde. Às vezes, ocorrem casos em que o doente, em vez de morrer por motivo da 
moléstia, a sua morte é abreviada ou provocada pela própria “cura”. 

A descrença no mundo espiritual gera o medo da morte e isto induz o homem à fuga 

angustiosa ante o primeiro sinal da enfermidade. Então se transforma num foco 
permanente de moléstias, que surgem e desaparecem em contínua substituição, até ver-
se atirado num leito vítima da intoxicação medicamentosa. A dor, que é o sinal vermelho 
de perigo da saúde no corpo, é sempre eliminada à custa de bombardeios de sedativos 
e anestésicos. 

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