RAMATÍS: — Embora se tratasse de entidade angélica, responsável pela vida
espiritual do orbe terráqueo, Jesus também teve que se adaptar sensatamente ao
metabolismo complexo da vida humana e de suas relações com o meio. Sob a
pedagogia dos Essênios, amigos da família, Jesus desenvolveu as forças ocultas sob
rigorosa disciplina e aprendizado terapêutico, a ponto de curar pela simples presença
aqueles que dinamizavam um intenso estado de fé em sua alma. Mas ele não violentou
ou contrariou as leis do mundo físico ou do mundo espiritual. Seguia determinados
métodos e regras na distribuição, concentração e doação dos seus fluidos curadores. O
Mestre, embora um Sábio e um Justo, submetia-se fielmente ao mecanismo natural da
vida humana criada por Deus e exercia o seu ministério sem discrepar dos princípios de
controle e organização dos mundos planetários. Não há dúvida de que a capacidade
espiritual de Jesus poderia dispensar qualquer técnica ou gestos apropriados para
efetuar suas curas. Mas a verdade é que ele mesmo mobilizava, dirigia e aplicava os
fluidos terapêuticos conforme as leis que os regiam. No entanto, quando são os espíritos
desencarnados que, junto a um médium curandeiro, efetuam o socorro fluídico, estes
não precisam fazer nenhum gesto, porque ali apenas funcionam como o catalisador da
fé dos doentes, enquanto seus protetores seguem as regras das leis terapêuticas.
Assim, Jesus curava pela imposição das mãos, pela concentração e dispersão de
fluidos, atuando à guisa de um técnico hábil, movimentando com segurança e precisão
as forças vivas criadoras. Qualquer ginasiano sabe que a eletricidade exige
determinados recursos e sensatez para ser aplicada com êxito e segurança em favor do
gênero humano. Ela não se escoa pelas pontas ou hastes obstruídas por isoladores de
louça, por mais vigorosa que seja a capacidade da Usina ou o comando do mais
avançado eletrotécnico. As leis que regulam o fluxo da energia elétrica exigem caminho
livre e sábio controle no seu manuseio para resultarem benefícios como o calor, a luz, o
frio e a força geradora. Jesus, portanto, lidando com forças mais sutis, disciplinadas por
leis da mais alta fonte criadora do Espírito, um Sábio e não um milagreiro, operava de
modo inteligente nas suas curas, submetendo-se à técnica e às regras terapêuticas do
magnetismo superior.
Sem dúvida, o ingrediente principal que dinamizava essas forças com êxito e
eficiência era a natureza angélica de sua própria alma, doando-se na receptividade
confiante e merecedora de seus enfermos. Sadio de organismo, sem qualquer
deformidade “psicofísica”, com um duplo etérico portador do mais puro ectoplasma, em
combinação com o mesmo elemento extraído da contextura do próprio orbe, Jesus era
uma antena viva diamantífera, de onde fluíam energias vitais que, operando modificações
surpreendentes nos enfermos, eram tidas por milagres. A sua palavra criadora era
penetrante e hipnótica. Insuflava a vitalidade, o ânimo, a alegria e a esperança nos que o
ouviam. O seu falar se impregnava de tal força, que os paralíticos se moviam, os cegos
enxergavam e os leprosos se limpavam das chagas corrosivas. Era um fabuloso
potencial de energias criadoras que lhes dava a saúde e restabelecia-lhes o dinamismo
orgânico.
Aliás, o conhecimento moderno da própria ciência acadêmica demonstra que o ser
humano pode despertar e acumular forças vitais em si mesmo, quando confia e
submete-se incondicionalmente a uma vontade insuperável, que o convence de curá-lo
de todos os seus males. É o que acontece muito comumente com certos enfermos que
procuram a fonte milagrosa de Lourdes, pois incendidos por uma fé que lhes ativa todo
o cosmo orgânico-vital logram curas surpreendentes, que são fruto de sua própria
mobilização energética. No entanto, outros, menos graves, mas vacilantes e
pessimistas, escravos da incerteza espiritual que cerceia o fluxo vital de sua reserva
corporal, voltam sem obter resultado algum.
Quando Jesus assinalava a confiança nos olhos súplices dos enfermos, envolvia-os
com as ondas do seu mais profundo amor, ativando-lhes a germinação de forças
magnéticas através das próprias palavras e gestos com que os atendia e, à semelhança
de misterioso turbilhão, fazia eclodir poderosos fluidos no mundo interior dos infelizes
enfermos. Sob os gritos de júbilo desatavam-se os músculos rígidos ou se ativavam
nervos flácidos; desentorpeciam-se membros enregelados, enquanto as correntes vitais
purificadoras regeneravam todo o sistema orgânico, restituindo a vista a cegos,
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