se de flores e até dos troncos apodrecidos surgiam florinhas encarnadas, roxas, 
azulíneas e amarelas. A paisagem era empolgante de beleza, de cores e de luzes, pois 
seria difícil encontrar cenário tão fascinante quanto o da Galiléia na sua explosão de 
flores e perfumes inebriantes no ambiente campestre. 

Acomodando-se sobre a rocha atapetada de musgos, Jesus espraiou o seu olhar 

sereno sobre a multidão, que ardia de ansiedade por ouvi-lo, enquanto João lhe estendia 
o “xale de rezar”, peça tradicional entre os galileus, com o qual ele cobriu sua cabeça. Em 
seguida, abençoou aquela gente silenciosa e começou a falar pausadamente, porém, 
dando relevo às frases e imagens que definiam suas idéias, enquanto os seus ouvintes 
estavam contagiados por sublime emoção. Era imenso o poder verbal de Jesus, pois 
impressionava profundamente as criaturas que lhe bebiam as palavras como um néctar 
dos deuses. Sua voz era pausada, repleta de doçura e de uma sonoridade musical 
cristalina, jamais ouvida por nós. As palavras vibravam no ar como lentejoulas vivas 
espargindo sons maviosos e tecendo um manto de harmonia a envolver sob o céu 
dadivoso a turba hipnotizada pelo verbo salvador. Espírito equilibrado e de visão exata, 
suas palavras ajustavam-se hermeticamente ao pensamento enunciado e conseguiam 
despertar emoções, cujo eco ficava vibrando para sempre na alma dos seus ouvintes. 

As mãos do meigo Rabi eram de molde irrepreensível. Em suas pregações e gestos, 

elas pareciam mansas pombas configurando-lhe no espaço os contornos do pensamento 
e avivando as suas palavras amorosas. Naquele dia em que buscáramos conhecê-lo, o 
Mestre explicava a parábola do “Semeador”,

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 pois ele costumava pregar o ensinamento 

de conformidade com o ambiente e as circunstâncias que o tornassem mais vivo e 
entendível.

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 Escolhia cada parábola de acordo com o tipo de auditório, pois a sua elevada 

intenção era oferecer a solução para os problemas de ordem moral e social daqueles que 
o ouviam. 

Rodeado pelos campos floridos, cujo ar doce e perfumado traía o odor dos figos, 

das uvas, dos limões e dos pêssegos maduros, trazidos nas asas do vento brando e 
fresco, Jesus comovia até às lágrimas, ao explicar que o semeador lançou suas 
sementes no solo duro, na rocha, na terra espinhenta, porém, finalmente, obteve êxito 
no bom terreno. O lugar escolhido para essa prédica era de magnífica inspiração, pois 
além da florescência dos narcisos do campo, do fogaréu de papoulas vermelhas e das 
anêmonas safirinas, lilases e ametistas, que coloriam toda a planície de Genesaré, sem 
deixar um só desvão do solo descoberto, o quadro formoso completava-se pelo dorso 
esmeraldino levemente crispado do mar da Galiléia, a despedir faíscas à luz do sol, que 
formava dourada cortina translúcida à altura da crista nevada dos montes mais altos. 

Jamais poderíamos esquecer a veemência e a fé com que Jesus enunciava os seus 

ensinamentos, ainda prematuros e arrojados aos judeus subordinados à sua crença 
dogmática mosaísta. A gente da Galiléia, rude e ignorante, mas dotada de sentimentos 
compassivos, sublimava-se ante a prédica do seu querido Rabi, pois ele realmente vivia 
em si mesmo aquilo que ensinava. Não era um sistema político, nem filosófico, porém, 
doutrina moral e religiosa, que tocava o coração e pedia a aprovação do sentimento, 
muito antes do raciocínio da mente. 

Quando retornamos para Alexandria e consultamos os nossos maiorais a respeito 

das atividades do Rabi Jesus, que tanto nos havia impressionado, todos eles foram 
unânimes em confirmar que, malgrado a sua aparente insignificância na época, na 
realidade ele era o maior revolucionário espiritual descido à Terra, a fim de sintetizar os 
ensinamentos dos seus precursores e redimir a humanidade. 

 
PERGUNTA: — Por que Jesus preferia explicar sua doutrina através de parábolas? 

                                                        

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 Mateus, 13:1-23; Marcos,4:1-20; Lucas, 8:4-15. 

 

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 Nota de Ramatis: - Quando Jesus falava aos campônios expunha a parábola do semeador, do grão de mostarda, do 

joio e do trigo; aos pescadores referia-se à parábola dos peixes; num banquete ou festividade, falava dos talentos, do 
tesouro enterrado; entre negociantes e especuladores, da pérola de grande valor, o credor incompassivo, os dois 
devedores; entre magnatas, servia-se das parábolas do rico insensato, o rico e Lázaro; entre os assalariados explicava-
lhes a parábola dos servos inúteis, dos trabalhadores da vinha e do mordomo infiel; entre homens de lei mencionava o 
juiz iníquo, e entre os religiosos a história do publicano e o fariseu. 
 

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