dos muros dourados da sua corte, ele viu em torno de si o nascimento e a morte, o fausto
e a decadência, a vida e a dissolução da matéria. Em todas as atividades do mundo,
Buda verificou o desejo e a decepção, o medo da dor e o medo da morte, a paixão e a
frustração, o poder efêmero, a juventude fugaz, a velhice acumulada de sonhos desfeitos
ou remorsos crepitantes. As glórias do mundo encerravam-se no subsolo da sepultura
terrena.
Espírito sadio e de alta estirpe sideral, não se consumiu no pessimismo e na
descrença, nem se abateu diante do enigma triste da vida humana. Sua alma mereceu os
louvores do Senhor, porque pesquisou, descobriu e ensinou que, embora “as coisas
mudem sem cessar, há sempre uma verdade oculta e imutável, que dá realidade a essas
mesmas coisas”. Assim, a verdade estaria em tudo: na pedra, na planta e no animal,
embora inconscientes. Porém, quanto ao homem, este já “sente”, já “sabe” da verdade,
porque ele tem consciência de ser, de existir e de pensar. A razão dá-lhe um sentido
nítido da vida; tem a consciência do eu; porém ainda engendra o egoísmo, a injustiça e a
iniqüidade até descobrir que, acima do “eu inferior”, forjado no mundo transitório das
formas, existe o Eu Superior, espiritual e eterno, portanto a Verdade. E que, enquanto
tudo é miséria no mundo de “Samsara”,
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a Verdade proporciona a paz de espírito depois
que ele vence o erro e “mata” o desejo, alcançado o “Nirvana”.
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PERGUNTA: — Quais as razões que sobrepõem Jesus aos seus precursores?
RAMATÍS: — Embora considerando-se a magnitude filosófica de Buda e a sua
passagem messiânica pela Terra, Jesus viveu toda sua existência subordinada ao
Supremo Ideal de servir a humanidade sofredora; afora alguns momentos prazenteiros,
que teve em sua infância, passou pela Terra em constante angústia e piedosa aflição
por todo o sofrimento alheio.
Enquanto os seus precursores ainda manifestavam “desejos” e se envolviam no
“Maya”, ou na ilusão de alguns prazeres da vida humana, Jesus foi absolutamente imune
a qualquer apelo ou tentação da matéria. Eles só se devotaram ao messianismo da
redenção e do esclarecimento do homem terreno, depois de experimentarem as seduções
da vida carnal. Porém, o filho de Maria e José, desde o berço até à cruz, viveu na mais
completa pobreza e entregue exclusivamente à tarefa de libertar os terrícolas das algemas
do pecado. Buda e outros iluminados instrutores espirituais do Oriente saíram em busca
da Verdade, depois de algumas desilusões da vida do mundo e quase preocupados com
uma solução pessoal.
Jesus, no entanto, desde sua infância viveu indiferente à sua própria felicidade, pois
os seus sonhos e ideais só objetivaram a ventura alheia. Jamais ele procurou solver os
mistérios da vida humana para contentar sua própria ansiedade. Todas as suas
iniciativas visavam ao bem do próximo. Não era um filósofo aconselhando diretrizes
extemporâneas, nem legislador enfileirando leis e punições para a atarantada
humanidade, mas sim o companheiro, amigo fiel e generoso, que vivia minuto a minuto
aquilo que ensinava e oferecia a própria vida em favor dos humildes e desgraçados.
Considerava a humanidade a sua própria família.
Moisés desposa a filha de um sacerdote mediasita e vive até 120 anos usufruindo
os bens da vida humana. Zoroastro alcança honrarias na Terra e casa-se três vezes.
Confúcio casa-se aos 19 anos, torna-se Ministro da China e desencarna aos 73 anos de
idade, após alternativas de glória e de honras políticas. Finalmente, o próprio Buda,
educado entre os prazeres e os fulgores da corte de Kapilavastu, casa-se com a bela
prima Yosadara. Deixa o lar aos 29 anos e depois de longas meditações encontra a
Verdade espiritual aos 35 anos, sob uma árvore de bô. Entretanto, Jesus, nascido em
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Nota de Ramatís: — Samsara, termo sânscrito, significa literalmente “ação de vagar”; é a transição e a mutação
contínuas; a passagem pelos mundos transitórios, que é o físico, o astral e o próprio mental, causa fundamental dos
renascimentos na matéria e do sofrimento pela ignorância da verdade da vida espiritual.
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Nirvana: — É o oposto de Sansara; é um estado perene de consciência desperta, o autoconhecimento que
liberta. Não é um estado de aniquilamento do ser, como a gota d’água se funde no oceano; porém, um estado de
plena consciência espiritual; é a vida do Espírito liberto das limitações do tempo e do espaço, com o direito de
trânsito livre no Infinito.
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