lhe a salvação derradeira; era a esperança de mitigar sua sede na linfa pura do Espírito
superior. Reconhecendo no modesto rabi da Galiléia um homem perfeitamente realizado
em espírito e comprovado por uma vida santificada, Maria de Magdala abriu sua alma feliz
e radiosa como a flor sob o sol amigo, pois não era uma impura congênita nem havia
nascido para a corrupção humana, mas apenas mulher frustrada pelas circunstâncias
adversas.
Sem qualquer hesitação, renunciou à fortuna, fez doação de seus bens aos
infelizes, velou o aspecto estonteante de sua plástica tentadora, cobrindo o corpo com
as vestes humildes de mulher simples e pobre.
PERGUNTA: — Podeis descrever-nos o momento em que Maria de Magdala se
ajoelha junto a Jesus e lhe enxuga os pés com os cabelos?
RAMATÍS: — Dominada por intensa emotividade espiritual, ela abriu caminho por
entre a multidão que escutava a palavra de Jesus e, trêmula e humildemente, sentindo o
coração partir-se e uma dor ardente subir-lhe ao peito, deixou-se vencer por um pranto
indominável.
— Jesus! Salva-me! — exclamou, caindo aos pés do Amado Mestre e cobrindo-os
com suas lágrimas ardentes. Depois enxugou-os com seus formosos cabelos, e ainda
tomada por aterradora timidez desconhecida em sua vida dissoluta, ergue os olhos
lentamente para o Mestre, que, mantendo-se silencioso, bebeu-lhe toda a ternura
transbordante do olhar triste e sereno. Jesus fez-lhe um gesto afetuoso, depois moveu
os lábios angélicos, dizendo:
— Maria de Magdala! Tua fé te salvou!... — Suas palavras foram emolduradas por
um suave sorriso.
Ela teve desejos de correr loucamente pelos campos floridos, cantar ao sol, ao
vento e às árvores a sua felicidade, pois descobrira o amor que poderia clamar ao
mundo inteiro, sem pejo, sem vergonha e isento do desejo e da cobiça humana.
Clareiras de luz repontavam radiosas no âmago de sua alma; a linfa da vida eterna
tomara conta de seu coração e ela renascia, em espírito e verdade. Maria de Magdala
então se entregou de corpo e alma à obra de Jesus e mobilizou todas as suas energias
espirituais para elevar-se acima das paixões da carne e transformar-se no mais perfeito
símbolo de redenção da mulher pecadora.
PERGUNTA: — Ainda com respeito a Maria de Magdala, certa vez ouvimos
confrades espíritas afirmarem que ela significou perigosa e deliberada cilada dos
espíritos das trevas contra a obra de Jesus. Gostaríamos de saber se isso tem
fundamento.
RAMATÍS: — A missão de Jesus, na Terra, foi precedida de atencioso estudo por
parte dos Mestres Siderais do vosso orbe; e, embora não predominasse um fatalismo
absoluto na sua realização, os principais acontecimentos foram previstos com segurança
no gráfico messiânico. Ante o conhecimento perfeito das premissas que iriam compor a
obra de Jesus na Terra, o Alto também pôde avaliar-lhe e concluir quanto ao maior ou
menor êxito na sua concretização física. Previu-lhe os fatos mais importantes marcando-
os no tempo psicológico devido, como o nascimento, a infância, a juventude, a pregação
e o sacrifício de Jesus no Calvário. No entanto, assim como o general esquematiza a
batalha decisiva e prevê os desvios, recuos ou ofensivas prováveis no avanço de seus
exércitos, cujo êxito dependerá do comportamento e habilidade dos seus soldados, no
esquema fabuloso da paixão e morte de Jesus no madeiro da cruz, os resultados
previstos ou desejados também ficaram subordinados às reações, ao estoicismo e à
fidelidade dos cooperadores do Cristianismo.
Os apóstolos, discípulos, simpatizantes e amigos da obra de Jesus eram a matéria-
prima viva com que ele lidou para edificar o Evangelho na face da Terra. E Maria de
Magdala não foi uma cilada forjada pelo Espírito das Trevas, no sentido de truncar a obra
de Jesus, porque se tratava de entidade amiga de Jesus, de vidas pretéritas e situada
também no esquema do Cristianismo. Cumpriu-lhe não só cooperar na obra cristã, como
liderar as mulheres que deram o cunho afetivo, a ternura, poesia e renúncia na
divulgação dos princípios libertadores do rabi da Galiléia. No entanto, os trevosos
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