Jesus, a beleza da Galiléia e a ternura de Nazaré serviram para alimentar-lhe a chama
sublime do seu Amor inesgotável a favor da humanidade.
PERGUNTA: — Naturalmente, Jesus se deixou influenciar fortemente pela raça
judaica em que viera encarnar, embora fosse um espírito universalista. Não é assim?
RAMATÍS: — As raças, os povos e os homens são apenas ensejos educativos e
transitórios, que revelam à luz do mundo material as aquisições feitas pelo espírito
imortal. Poder-se-ia dizer que a face dos planetas serve para o espírito verificar e
comprovar a sua consciência, o que ele já realizou em si mesmo. Deste modo, ele extrai
ilações pessoais de sua capacidade, resistência, renúncia, individualidade e do seu
talento espiritual. Apura o espírito e passa a cultuar as manifestações que mais se
enquadram nos códigos morais dos mundos superiores. Esforça-se depois para anular
ou mesmo evitar os ascendentes que lhe retardam a paz e a ventura definitivas.
Eis por que, reportando-nos ao passado, verificamos que inúmeras raças, depois de
se imporem na face do orbe pelo fausto, cultura, comércio, descobertas ou conquistas
belicosas desapareceram completamente, deixando raros vestígios. Assim é que
Babilônia, Fenícia, Sodoma, Gomorra, Herculanum, Pompéia, Hititia, Caldéia, Cartago e
as civilizações atlantes sumiram do mapa terráqueo. E a Pérsia, Etiópia, Hebréia, Egito e
outras velhas nações também começam a oscilar nos seus alicerces, mal sustentando sua
glória e poderes tradicionais do passado.
Mas é evidente que o amor manifesto por um chinês, árabe, russo, italiano ou
groenlandês é sempre o mesmo em sua essência, embora varie o tipo do instrumento
físico de que o espírito se utiliza para isso. Jesus, portanto, quer fosse judeu ou inglês,
revelaria sempre o seu intenso e incondicional amor pela humanidade, malgrado tivesse
de manifestá-lo pelas características próprias da raça que lhe fornecesse o equipo
carnal. A prova mais concreta de que ele não foi um judeu no sentido racista da palavra,
mas um homem cuja doutrina moral e religiosa se destina a toda humanidade, é que os
próprios judeus “ainda não o reconheceram”, conforme prediziam os velhos profetas do
Antigo Testamento.
Em sua época, civilizações como a Grécia, Pérsia e o Egito já haviam dado ao
mundo inúmeros sacerdotes, filósofos, cientistas, sábios, escritores e poetas. Mas eles
ainda se prendiam à avidez da especulação metafísica, sem apresentar soluções
prosaicas que, pelo menos, ajudassem o homem comum a melhorar sua existência e
treinar praticamente a sua consciência moral. Platão discursara o advento de uma
humanidade só integrada por artistas, filósofos, poetas e cientistas; Sócrates pregara
uma conduta moral avançada, mas dependendo de certos grupos eletivos para cultuá-la;
Epicuro ensinara a substituição das dores corporais pelos prazeres do espírito e Zenon
explicava o estoicismo na crueza dos sofrimentos, cujas doutrinas, embora louváveis,
exigiam, no entanto, muita força de vontade, pertinácia e boa dose de otimismo para
sublimar o sofrimento humano e especular sobre a metafísica.
Jesus não trazia mensagem complexa, nem pedia investigação técnica e teórica para
enriquecer o intelecto, pois apregoava uma auto-realização singela e à luz do dia, através
de um trabalho lento, mas eficiente, do espírito libertar-se da matéria. A simplicidade, a fé,
a devoção, a humildade, a resignação, a pureza, a ternura, o perdão, a renúncia e o
serviço ao próximo eram coisas possíveis e realizáveis à face da Terra. E ninguém poderia
zombar ou descrer disso, porque o Mestre que ensinava era o exemplo vivo de suas
próprias recomendações. Não dizia Jesus comumente aos seus apóstolos: “Se ainda não
compreendeis as coisas da Terra, como quereis que vos fale só das coisas do céu?”
Ele era objetivo e suas parábolas versavam sobre coisas tangíveis e assuntos de
bom-senso, tais como a “semente da mostarda, os talentos enterrados, o fermento que
leveda, o joio e o trigo, o lobo e o cabrito, o bom samaritano, o filho pródigo, o tesouro
escondido, o mordomo infiel, o semeador ou o rico insensato”.
Não era um judeu predicando para judeus, mas um representante da humanidade
dos céus, falando para todas as criaturas, porque sua linguagem até hoje é
perfeitamente entendível por todos os povos e raças. Não foi o vaso carnal da raça
israelita que condicionou o espírito de Jesus a uma ética ou temperamento peculiar ou
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