Há séculos que os homens desperdiçam seu precioso tempo na indagação de
minúcias dos acontecimentos ocorridos em torno do Mestre Jesus. No entanto,
descuram-se de considerar e praticar os seus admiráveis ensinamentos de redenção
moral e espiritual. Quanto ao seu nascimento, certos estudiosos, baseados na história
profana, o julgam nascido em Nazaré; e outros, conforme a tradição evangélica da Igreja
Católica,
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o crêem oriundo de Belém. E alguns chegam a atribuir o nascimento do
Mestre Galileu, em Belém, à necessidade de se justificar a lenda criada para situá-lo na
manjedoura e assim cumprirem-se integralmente as profecias do Velho Testamento.
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A tradição mitológica costuma sempre descrever o nascimento dos grandes iniciados
ou avatares destinados a desempenharem relevantes missões sociais ou espirituais, como
provindos de virgens e sob misterioso esponsalício estranho à ordem natural do sexo e da
gestação. Crisna, Lao-Tse, Zoroastro, Buda, Salivahana e outros instrutores espirituais
nasceram de virgens e através de fenômenos ou processos extraterrenos. Jesus,
portanto, devido à sua elevada hierarquia sideral, também não escaparia de vir à luz do
mundo sem alterar a virgindade de Maria e ser concebido “por obra e graça do Espírito
Santo”!
Ainda existem outras preocupações quanto a certos acontecimentos, tais como se
José e Maria realmente se movimentaram para atender ao recenseamento ordenado
pelos romanos. Se isso aconteceu, só poderia ter ocorrido no reinado de Quirinus, após
a queda de Arquelau. Mas se Jesus nasceu sob o poder de Herodes, conforme
asseguram os dois evangelhos,
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então a viagem de José e Maria rumo a Jerusalém não
se realizou, porquanto no regime de Herodes não houve qualquer recenseamento.
E ainda multiplicam-se as dúvidas ou discordâncias a respeito de Jesus, pois até os
espíritas, apesar de mais esclarecidos quanto à verdadeira vida espiritual, também
divergem sobre a natureza do corpo do Mestre. Uma parte admite Jesus com um corpo
físico e sujeito às contingências comuns da vida carnal; outros preferem a tese dos
Quatro
Evangelhos
, de Roustaing, obra mais afim às revelações mitológicas do catolicismo e
responsável pela concepção do “corpo fluídico”. Aliás, essa assertiva de Jesus ter um
“corpo fluídico” ajusta-se ao mistério da sua “ascensão em corpo e alma”, a qual não é
admitida pelos espíritas kardecistas.
No entanto, estas discussões sobre as características ou minúcias dos
acontecimentos ocorridos quanto ao nascimento de Jesus constituem perda de tempo,
pois o aspecto mais importante é a sua vida de abnegação e sacrifício ilimitados, no
sentido de “salvar” a humanidade. Belém ou Nazaré, o lar ou a manjedoura, corpo físico
ou fluídico, milagres ou trivialidades são circunstâncias incapazes de influir sobre o
conteúdo do seu Evangelho, o mais avançado Código de Leis de aperfeiçoamento
espiritual. Jesus sempre viveu em si mesmo os ensinamentos e conceitos salvadores
ensinados ao homem terreno; obviamente, é muito mais valiosa e importante a sua
doutrina e não os aspectos humanos do ambiente onde ele nasceu e viveu. A
consumação do seu holocausto na cruz foi o coroamento messiânico e a confirmação
inconfundível de toda sua doutrina recomendada à humanidade e sem derrogar as leis do
mundo material, pois os seus próprios “milagres” nada tinham de sobrenaturais, mas
podiam ser facilmente explicáveis pelas leis da física transcendental com relação aos
fenômenos mediúnicos hoje conhecidos.
Jesus, embora fosse um anjo exilado do Céu, viveu junto dos terrícolas, lutando na
vida humana com as mesmas armas, sem privilégios especiais e sem recorrer a
interferências extraterrenas para eximir-se das angústias e dores inerentes à sua tarefa
messiânica. O seu programa na Terra destinou-se a libertar tanto o sábio e o rico, como
oiletrado e o pobre; por isso enfrentou as mesmas reações comuns a todos os homens,
suportando as tendências instintivas e os impulsos atávicos, próprios de sua constituição
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Nota do Revisor: Segundo o Evangelho de João, cap. 1, vers. 45-6, o apóstolo refere-se a Jesus de Nazaré, filho
de José. Do fato de haver-se criado em Nazaré, é que resultou o cognome Jesus de Nazaré, embora tenha
realmente nascido em Belém.
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Mateus, 2:23. Lucas, 2:4-7. Isaías, 9:6,7.
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Mateus, 2:1. Lucas 1:5.
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