em suas prédicas consoladoras. Quem era aquele homem tão formoso e de sabedoria 
tão incomum, cuja eloqüência hipnotizava os seus ouvintes e os fazia sentirem-se num 
reino de Bondade e de Amor, onde os pobres e os sofredores viveriam eternamente 
felizes adorando o seu Criador? 

 
PERGUNTA: — Em face da tradição religiosa, fica-se com a impressão de que o 

Mestre Jesus tinha uma vida excêntrica, absolutamente introspectiva, sendo avesso a 
qualquer emotividade do mundo. Estaremos equivocados a esse respeito? 

RAMATÍS: — Jesus era dotado de um temperamento sereno e equilibrado no contato 

com as criaturas humanas, pois embora vivesse sobre profunda tensão espiritual interior, 
em face do potencial angélico que lhe oprimia a carne, sabia contentar-se e ninguém pôde-
lhe apontar gestos e atitudes de cólera por sentir-se ofendido ou desatendido. Era um 
homem excepcional, porém sujeito a todas as necessidades fisiológicas do corpo físico, 
mas de uma vida regrada inconfundível. 

Ele não se negava às relações sociais e comuns com o mundo exterior, nem 

verberava a alegria e o divertimento humanos. Participava gentilmente das festividades 
e tradições religiosas do seu povo, mas o fazia sem os exageros entusiásticos das 
almas infantis. Expressava o suave sorriso de Maria nos júbilos domésticos ou nos 
reencontros afetivos, mas jamais se excedia na gargalhada descontrolada ou no choro 
compungido do sentimentalismo humano. Ante as cenas humorísticas, mas cheias de 
simplicidade das festas regionais de sua terra natal, sua fisionomia era tomada de um 
sorriso tolerante e, por vezes, travesso. Mas diante das cenas cruéis, como as das 
crianças escravizadas, cegas e vítimas de queimaduras nos trabalhos escravos das 
fundições de Tiro, a piedade fazia-lhe estremecer o corpo delicado ou então se 
angustiava, batido pelo vendaval agressivo da maldade humana. O suor, umedecia-lhe a 
fronte e a palidez tomava-lhe as faces ao contemplar o panorama aflitivo das misérias e 
das atrocidades do mundo. 

 
PERGUNTA: — Alguns investigadores da vida de Jesus dizem que ele era algo 

enfermo, mesmo sujeito a alucinações. E que adotava rigorosa dieta alimentar. Há 
fundamento nessa afirmativa? 

RAMATÍS: — Embora não tenham fundamento os exagerados jejuns de quarenta dias 

no deserto que também lhe foram atribuídos, ele realmente socorreu-se, algumas vezes, do 
jejum absoluto, como delicadíssima terapêutica para conservar seu espírito no comando da 
carne. Não se tratava de nenhuma prática iniciática ou obrigação religiosa, era apenas um 
recurso sublimado e admissível em entidade tão excelsa como Jesus, cuja consciência 
angélica ultrapassava os limites da suportação comum de um organismo humano. O jejum 
desafoga a circulação sangüínea dos tóxicos produzidos nas trocas químico-físicas da 
nutrição e assimilação, debilita as forças agressivas do instinto inferior, aquieta a natureza 
animal, clareia a mente e o sistema cérebro-espinhal passa a ser regado por um sangue 
mais límpido. 

Durante o repouso digestivo, a natureza renova suas energias, restaura os órgãos 

enfraquecidos, ativa o processo drenativo das vias emunctórias, por onde se expulsam 
todos os tóxicos e substâncias prejudiciais ao organismo. É óbvio que o jejum 
enfraquece devido à desnutrição, mas compensa porque reduz o jugo da carne e 
desafoga o espírito, permitindo-lhe reflexões mais lúcidas e intuições mais certas. 

Durante o enfraquecimento orgânico pelo sofrimento, ou jejum, as faculdades psíquicas 

se aceleram e a lucidez espiritual se torna mais nítida, conforme se verifica em muitas 
criaturas prestes a desencarnar, pois recuperam sua clareza mental e rememoram os mais 
longínquos fatos de sua existência humana, desde a infância. A queda das energias físicas 
costuma proporcionar maior liberdade à consciência do espírito. Há uma tendência inata de 
fuga da alma para fugir do seu corpo físico, assim que ele se enfraquece. Diz o vulgo que as 
criaturas, no auge da febre, costumam “variar”, isto é, são tomadas de alucinações, 
chegando mesmo a identificar conhecidos que já desencarnaram, assim como vêem figuras 
grotescas, insetos ou coisas estranhas, que não são do mundo material. 

Assim, o jejum também era para Jesus o recurso benéfico com que contemporizava a 

excessiva tensão do seu próprio Espírito na carne. Sua fabulosa atividade mental 

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