motejador, que ironizava a aparente ingenuidade da filosofia de Jesus, não conseguia 
suportar-lhe o olhar de compaixão, repleto de ternura e piedade para com aquele que 
não podia compreendê-lo. Era uma doçura queimante na consciência dos sarcásticos, 
pois sentiam a descoberto, no recôndito da sua alma, todos os seus pecados. 

As criaturas curadas por Jesus diziam que o fulgor de seus olhos penetrava-lhes a 

medula, qual energia crepitante, transmitindo-lhes misterioso potencial de forças 
desconhecidas e fazendo eclodir em seus corpos a vitalidade adormecida. Os 
malfeitores e delinqüentes não escondiam o seu terror diante desses mesmos fulgores 
veementes, que lhes punham a descoberto na alma o cortejo de vícios, pecados e 
hipocrisias. Raros homens não se prostravam de joelhos, diante de Jesus, clamando 
perdão para os seus erros, quando esmagados pelos pecados erguiam-se aterrorizados 
ante a voz imperiosa que lhes dizia: — “Vai e não peques mais.” 

No seio da massa heterogênea diante do Mestre, o curioso estava junto ao discípulo 

atento e o cínico ensaiava os seus motejos para perturbar o discurso. 

Mas o olhar de Jesus, quanto aos que ali estavam com más intenções, penetrava-

lhes a alma, devassando-lhes os turvos pensamentos à luz de sua divina compaixão. 
Então, os perturbadores assalariados pelo Sinédrio retiravam-se apreensivos ou 
mantinham-se em silêncio, baixando a cabeça ao defrontarem o fulgor daquele olhar tão 
sereno, mas severamente interrogativo e flamejante quando atingia uma consciência 
subvertida. 

 
PERGUNTA: — Os nossos pintores geralmente apresentam Jesus com uma 

fisionomia essencialmente feminina olhos grandes e rosto redondo, que nada se parece 
com o tipo semítico de que ele descendia. Porventura seria a predominância dos traços 
herdados de Maria, que a tradição diz ter sido uma mulher de rara formosura? 

RAMATÍS: — Imaginai um edifício moderno, com o seu arcabouço esguio mas 

sólido, porque as suas veias são o aço incurvável, suas linhas são severas e nítidas, os 
contornos singelos, mas impressionantes. No entanto, nesse todo de simplicidade, a 
decoração e a iluminação revelam aspectos delicadíssimos, em que as cores 
translúcidas e os suaves matizes completam a beleza do conjunto. À noite, todo 
iluminado, a sua figura recortada no espaço faz realçar a sua beleza poética por entre as 
luzes refulgentes e policrômicas. 

Jesus herdara do pai as linhas firmes e energéticas, que lhe davam o aspecto viril. 

No entanto, através daquela energia e masculinidade transparecia a beleza radiosa de 
Maria, cujas feições delicadas, semblante sereno e profundamente místico justificavam a 
fama de ser a mais linda esposa da Galiléia. A sabedoria do Alto aliara a energia e a 
sensatez de José à bondade e à beleza de Maria, cujo fascínio radioso de encantadora 
boneca de porcelana viva, transparecia na figura atraente do Mestre, acendendo a 
chama do amor nos corações de muitas mulheres desavisadas da missão grandiosa do 
sublime nazareno. 

O Mestre Jesus, portanto, além da simpatia que irradiava, era um moço 

extremamente belo, cujo andar denunciava a sua majestade angélica, pois havia em seu 
todo uma faceirice dos céus. Tudo nele enternecia. A sua palavra era uma esperança para 
quem o ouvia, pois a graça e a ternura feminina tinham-se conjugado à virilidade 
masculina. A beleza do anjo confundia-se com a grandeza do sábio. 

 
PERGUNTA: — Os cabelos de Jesus eram louros ou escuros? 
RAMATÍS: — Ele possuía cabelos de um louro amendoado, formando as 

tradicionais volutas ou cachos que lhe caíam pelos ombros à moda nazareno. Nas 
tardes de céu límpido, em que o vento deslizava suavemente encrespando o dorso dos 
lagos da Galiléia, Jesus costumava sentar-se nos barcos ali ancorados, a fim de 
descansar. Quando o poente se tingia de púrpura e de lilás e os tons esmeraldinos se 
confundiam com os raios dourados do sol, então seus cabelos fulgiam nesse fundo 
paradisíaco, cuja cor de amêndoa parecia chamejante, emitindo reflexos fulvos e punha 
em destaque a beleza angélica de seus traços fisionômicos. 

Após a exaustão da puxada das redes e da colheita do peixe, os rudes pescadores 

exultavam esperançosos de um mundo feliz e acercavam-se de Jesus para ouvirem-no 

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