próprios de seus camponeses e pescadores incultos, que viviam entre sofismas, intrigas 
e mistificações decorrentes de sua graduação espiritual rudimentar. Por isso, o menino 
Jesus, espírito completamente liberto do farisaísmo da época, incapaz de pactuar com a 
malícia, capciosidade ou mentira, revelava um padrão de vida que fatalmente punha em 
choque até os seus familiares, vizinhos e amigos. As suas perguntas e respostas, 
inspiradas pela luz cristalina de sua alma angélica pairando acima das hipocrisias e 
convenções do mundo, rompiam as convenções tradicionais do homem comum. 
Qualquer artificialismo ou burla de última hora fazia-o desatar um rosário de indagações 
nevrálgicas que, às vezes, punham em pânico os adultos. 

Quando atingiu os doze anos tornou-se incômodo entre os rabis conservadores e 

apoucados da Sinagoga, pois insistia nas premissas inoportunas, que descobriam à luz 
do mundo a insânia e o absurdo dos dogmas religiosos da Lei de Moisés e das práticas 
devocionais excêntricas. Seria mais fácil congelar a luz do Sol do que acomodar o 
menino Jesus às iniqüidades do mundo, pois a sua natureza superior espiritual e intuição 
incomum opunham-se veementemente a qualquer contrafação da Verdade. À noite, junto 
da família, choviam-lhe conselhos incessantes, de seus pais e irmãos, que procuravam 
ensiná-lo a viver de modo a não turbar as relações humanas. Advertiam-no da 
imprudência de sua indagação, muito antecipada, sobre coisas que não eram práticas e 
só causavam confusão ou diminuíam os outros pela impossibilidade de uma solução 
satisfatória. Que precisava adaptar-se às circunstâncias do meio, agir cautelosamente 
com habilidade e diplomacia entre os homens. Então o menino Jesus arregalava os 
olhos, surpreso, e na sua pureza cristalina indagava, altivo: “Por que devo agir assim? 
Por que devo esconder a minha sinceridade e alimentar a hipocrisia?” 

José e Maria, espíritos benfeitores, mas emoldurados no cenário convencional de sua 

raça e seu povo, pressentindo, por vezes, a justeza do modo de agir de seu filho Jesus, 
que era certo no falar e digno no agir, mas impossibilitados de convencê-lo com os 
argumentos do próprio mundo onde viviam, então se contentavam em dizer-lhe, à guisa 
de solução: “Meu filho! Assim é o mundo, e nós não podemos reformá-lo!” E o menino 
Jesus, um palminho de gente, retirava-se para um canto silencioso e ali ficava a meditar 
nos seus equívocos cotidianos, confuso pelos motivos que lhe pareciam tão justos e 
nobres, mas lançavam a desconfiança no próximo. 

Porém, vencida a etapa mais instintiva ou impulsiva da puberdade, ele mesmo 

reconheceu que eram prematuras as suas indagações ou soluções incomuns diante do 
seu povo. Recolheu-se mais fortemente ao âmago de sua própria alma e buscou ali os 
recursos de que precisava para reformar os homens, antes de verberar-lhes os pecados. 
No entanto, apesar de amainar a tempestade emotiva que o lançava corajosamente no 
oceano das indagações intermináveis; de guardar silêncio onde poderia agastar; de 
aceitar as imposições do meio onde nascera, como a cota de sacrifício para o êxito de 
sua obra messiânica, ele jamais pôde fundir-se descoloridamente no rebanho da 
humanidade cobiçosa e insaciável. E por isso o mataram na cruz. 

 
PERGUNTA: — E que poderíamos saber do tipo de alimentação costumeira do 

menino Jesus e de sua família? 

RAMATÍS: — Conforme já temos noticiado, Jesus desde pequenino revelou 

profunda repugnância pela carne, e as vezes que o fizeram ingeri-la, ele sofreu violentos 
surtos de urticária e choques anafiláticos que produziram preocupações sérias. A família 
foi obrigada a evitar carne em sua alimentação, pois isso produzia impactos mórbidos na 
tessitura delicadíssima do seu perispírito e desarmonizava-lhe o sistema endócrino pela 
perturbação química inesperada, resultando febre e a fadiga hepática.

47

 Felizmente, José 

e Maria seguiam os costumes dos terapeutas essênios, em cuja alimentação 
predominavam vegetais, frutas, cereais e o peixe, que era abundante. Só nas épocas de 
crises graves, na lavoura ou na pesca, é que eles então recorriam à carne, mas assim 
mesmo o faziam de modo parcimonioso. 

                                                        

47

 Nota do médium: Aliás, temos um membro de nossa família, hoje moço e absolutamente vegetariano, cujos 

ataques circulatórios que se manifestavam nele, quando criança, desapareceram assim que seus pais eliminaram a 
carne de sua alimentação, conforme conselho recebido de espíritos desencarnados. 
 

87