próprios pais, provocando comentários contraditórios entre aquela gente conservadora, que 
jamais poderia compreender o temperamento de um anjo exilado na carne e incapaz de se 
acomodar aos interesses prosaicos do ambiente humano. 

A vida de Jesus transcorreu adstrita aos costumes das famílias judaicas pobres e de 

descendência fértil, o que ainda é muito comum na Judéia atual. Os escritores que 
biografaram sua vida, quase sempre teceram comentários ao sabor de sua imaginação e 
absolutamente crentes de que ele foi uma criança submissa aos preconceitos e sofismas 
da época. Assim, a lenda e o absurdo transformaram a vida do ser incomum que foi 
Jesus, num Deus vivo imolado na cruz de redenção, depois de ter vivido existência 
incompatível com a realidade humana. 

 
PERGUNTA: — Qual era o aspecto físico do menino Jesus? 
RAMATÍS: — Era um menino encantador, de olhos claros, doces e aveludados, como 

duas jóias preciosas e de um azul-esverdeado encastoadas na fisionomia adornada pela 
beleza de Maria e cunhada pela energia de José. Vestia-se pobremente, como os demais 
meninos dos subúrbios de Nazaré, onde proliferavam as tendas de trabalho dos homens de 
ofício e as lavanderias do mulheril assalariado. 

O menino Jesus tinha os cabelos de um louro-ruivo, quase fogo, que emitiam 

fulgores e chispas à luz do Sol; eram soltos, com leves cachos nas pontas e flutuavam 
ao vento. Quando ele corria ladeira abaixo perseguido pelos cabritos, cães e aves, seus 
cabelos então pareciam chamas vivas esvoaçando em torno de sua cabeça angélica. A 
roupa íntima era de pano inferior, que depois ele cobria com uma camisola de algodão, 
de cor sépia ou salmão. Só nos dias festivos ou de culto religioso ele envergava a veste 
domingueira de um branco imaculado, sendo-lhe permitido usar o cordão de neófito da 
Sinagoga. 

Sobre os ombros, nas manhãs mais frias, Maria punha-lhe o manto azul-marinho, de lã 

pura, tecida em Jerusalém, que fora delicado presente de Lia, uma de suas mais queridas 
amigas de infância. 

Aos doze anos de idade o porte do menino era ereto e altaneiro, pois as roupas 

caíam-lhe majestosas sobre o corpo impecável, de anatomia tão admirável que causava 
inveja às mães dos meninos trôpegos ou defeituosos. Nele se justificava o provérbio de 
que o “belo e o bom não são imitados, mas apenas invejados”, pois tanto o invejaram 
pela fartura do seu encanto, pela prodigalidade de sua doçura e cortesia, como devido à 
sua dignidade e conduta moral mais própria de um sábio e de um santo. Embora fosse 
criatura merecedora de todos os mimos do mundo, nem por isso a maldade humana 
deixava de atingir o menino Jesus, em cuja fisionomia, esplêndida e leal, às vezes 
pairavam algumas sombras provocadas pela maledicência, injustiça e despeito. Aliás, o 
que é delicado é mais fácil de ser maltratado, pois enquanto o condor esfacela um 
novilho, o beija-flor sucumbe sob o afago do menino bruto. Assim também acontecia com 
Jesus. Seu porte atraente, a sua beleza angélica, a sabedoria prematura e a meiguice 
invulgar, tornavam-no um alvo para a concentração de fluidos de ciúme, de inveja e 
sarcasmo. Enfrentou, desde cedo, a maldade, a má-fé, a malícia e a hipocrisia humanas, 
o que é natural às almas sublimes exiladas no plano retemperador e educativo dos 
mundos materiais. 

 
PERGUNTA: — Jesus permanecia entre os meninos nazarenos, participando dos 

seus brinquedos e divertimentos comuns? 

RAMATÍS: — Nada ele tinha de vaidade ou orgulho que o distanciasse dos demais 

companheiros de infância, pois era cordial e afetuoso, amigo e leal. No entanto, inúmeras 
vezes, no auge do brinquedo divertido, o menino Jesus anuviava o seu semblante, pois 
seus sentidos espirituais aguçados pressentiam a efervescência das ciladas ou das cargas 
fluídicas agressivas que se moviam procurando atingi-lo em sua aura defensiva. Era o 
anjo ameaçado pelos seus adversários sombrios, que não podiam afetar-lhe a divina 
contextura espiritual, mas tentavam ferir-lhe o corpo transitório, precioso instrumento do 
seu trabalho messiânico na Terra. Esses espíritos diabólicos, que a própria Bíblia os 
sintetizou tão bem na “tentação de Satanás”, recorriam às próprias cargas de inveja e de 
ciúmes que se formavam em torno de Jesus, por força do despeito dos próprios 

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