visitavam também sentiam uma doce sensação de paz e de júbilo irradiada daquele
berço pobre, comovendo-os até às lágrimas. Sem dúvida, não eram emoções facilmente
identificadas pelos sentidos físicos, mas percepções que tocavam a alma e ali deixavam
sua marca espiritual. As criaturas simples, ingênuas e bondosas, corações famintos de
amor e repletos de fé, sentiram mais nitidamente a presença real do Messias. No
entanto, como o cérebro físico não possui capacidade para atender duas vidas
simultâneas, a física e a espiritual, o certo é que mais tarde os participantes de tais
fenômenos insólitos terminaram por esquecê-los no prosaísmo da vida humana.
Algumas mulheres muito sensíveis e com faculdade de vidência, descreviam a aura
fulgente que se irradiava do berço do menino Jesus e iluminava os aposentos, móveis,
objetos, aves e pessoas, tingindo-os de um rosa formoso e com reflexos dourados
cintilando sobre um fundo de lilás claríssimo. Elas, então se ajoelhavam enternecidas,
beijando as mãos do excelso querubim e o olhavam encantadas, como se ele fosse um
príncipe recém-chegado de um país de sonhos. Algumas pessoas asseguravam sentir
perfumes sutilíssimos, de terna suavidade; outras auscultavam o ar à procura de
melodias, cânticos e preces comoventes, que as emocionavam até às lágrimas e não
sabiam explicar. Sob tais circunstâncias, não tardou a se divulgar na cidade a notícia de
que Maria, esposa de José, o carpinteiro, tinha sido visitada pelos deuses e dado à luz
um filho formoso, tudo indicando tratar-se de um enviado de Israel.
Mas, com o decorrer do tempo, a própria Maria esqueceu as suas divinas emoções
vividas durante o nascimento de Jesus, ante as responsabilidades de uma vida ativa e
onerada junto à família, cuja descendência numerosa provinha de dois casamentos.
Assim, enquanto tudo voltou ao normal, na Terra, foram sendo esquecidas as lembranças
daqueles dias, encaixando-se a sua existência na moldura dos acontecimentos comuns da
vida humana. No entanto, as entidades que protegiam Jesus jamais se descuraram em
torno dele, mantendo-se atentas e neutralizando todas as investidas e tramas que eram
mobilizadas pelos espíritos diabólicos.
A família se mostrava feliz e tranqüila e José se envaidecia ante a figura tão
encantadora de Jesus, seu primeiro filho com Maria. O menino se acomodava num
humilde berço de palha e algodão, mas parecia surpreender até os animais que o
espiavam pelos recortes e buracos da parede divisória do aposento. Ante a notícia de
que o filho de Maria e José era de uma beleza incomum, sem os traços comuns nos
recém-nascidos, fez-se grande romaria ao lar de Sara. Aliás, seguindo a tradição vigente
entre os hebreus, tanto a vizinhança de Belém, a parentela de Nazaré, como as amigas
de Maria, em Jerusalém, enviavam presentes ao menino Jesus e felicitavam a mãe
venturosa. Algumas criaturas apenas desejavam conhecer o menino angélico, outras
traziam seus préstimos e solidariedade ao feliz casal agraciado com o advento de um
novo ser em seu lar. Eram pastores, camponeses, rabis, vendeiros, escribas, amigos de
José e as jovens do templo de Jerusalém, enternecendo-se diante do menino-luz, que
lhes atraía as emoções mais ternas numa convergência adorativa. Alguns o
presenteavam com cordeirinhos, cabras, aves; outros traziam sacos de trigo e cereais,
bilhas com xaropes de frutas, pães de centeio ou bolos de aveia, mel de figo ou de
abelha, para os pais. Os vendedores ambulantes, velhos fornecedores da casa e da
carpintaria de José, deixavam fraldas, lençóis, cobertores e diminutas sandálias para o
formoso menino.
Malgrado a tradição bíblica fantasiosa, não se registraram junto ao berço de Jesus
quaisquer fenômenos insólitos que pudessem derrogar as leis da física humana, pois o
seu nascimento processou-se conforme o de outros meninos israelitas ou árabes, de
sua época. Na hora delicada da delivrança, Maria também ficou a cargo da “mulher
competente”, ou da parteira tradicional entre os hebreus, em cujo momento as
apreensões dos familiares foram amenizadas por meio de preces e rogativas ao Senhor.
Embora em humilde berço de palha estivesse repousando o corpo tenro do glorioso
Messias, Salvador dos homens, a família já se mostrava felicíssima só pelo êxito tão
comum de nascer um filho em seu lar.
Mas era no Espaço que se manifestavam os júbilos venturosos e as emoções
arrebatadoras, onde os mensageiros espirituais se sentiam aliviados do pesado encargo
de amparar o Espírito de Jesus até a carne e ajudá-lo a nascer na face do planeta
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