Deus para o advento do homem. Qualquer outra explicação ou escusa não passa de 
fantasia ou arranjo subjetivo, incapaz de encobrir a verdade. Conforme já dissemos 
anteriormente, enquanto o espírito primitivo se encarna instintivamente arrastado para o 
ventre materno, Jesus, devido à sua natureza excepcional, despendeu um milênio do 
calendário humano, na sua descida espiritual, a fim de acasalar-se à carne. Obviamente, 
não seria o modo de ele nascer na carne, o que, realmente, lhe comprovaria a 
supremacia espiritual, mas, acima de tudo, o imenso sacrifício para ele atingir a matéria 
e a sua morte heróica e serena, em holocausto à humanidade pecadora. 

Ainda hoje existem, no vosso mundo, famílias de zonas rurais cuja higidez de raça e 

de metabolismo orgânico é isenta de enfermidades luéticas, vícios ou paixões aviltantes 
da vossa civilização, que também poderiam fornecer um corpo sadio a Jesus sem 
desmerecê-lo na sua elevada natureza espiritual. Se, através de maravilhoso quimismo, 
Deus transforma monturos de estrume em rosas e cravos perfumados, por que Jesus, 
tão Sábio e Excelso, não poderia manifestar, por um corpo de carne, gerado pelo 
processo comum, a mensagem do Amor e da Paz entre os homens? 

Quando os evangelistas se referem a Jesus, nos seus Evangelhos, eles deixam 

patenteada a sua condição de filho de Maria e de José, como um fato concreto e 
indiscutível na época, e sem qualquer alusão ao Espírito Santo. O evangelista Marcos é 
muito claro, quando diz: “Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura” 
(Marcos, 3:32). O evangelista João também o confirma no seguinte: “Depois disto, vieram 
para Cafarnaum; ele e sua mãe e seus irmãos e seus discípulos” (João, 2:12). Mateus, 
apesar de responsável pela idéia de Jesus descender do Espírito Santo, também alude à 
exata filiação de Jesus no seu evangelho, explicando: “Porventura não é este o filho do 
oficial (carpinteiro), não se chama sua mãe Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e 
Judas?” (Mateus, 13:55). E acrescenta, no versículo 56: “E tuas irmãs, não vivem entre 
nós?” 

Em suma, todos os evangelistas são acordes em confirmar que Jesus era irmão de 

Tiago, José, Simão e Judas, Ana e Elisabete, mas filho de José, o carpinteiro; de onde se 
deduz que não era conhecido como gerado pelo Espírito Santo. 

 
PERGUNTA: — Por que motivo então se forjou o dogma da Imaculada Conceição e 

de um Jesus concebido por obra e graça do Espírito Santo? 

RAMATÍS: — É o sentimentalismo exagerado e o temor religioso, os motivos das 

criaturas suporem que os seus guias ou líderes são fruto de nascimentos miraculosos. À 
medida que se distancia a época em que atuaram tais homens excepcionais, a 
posteridade esquece, pouco a pouco, a vida natural ocorrida sob a disciplina das leis 
que regem o mundo, passando a cercá-los de uma auréola fantasiosa, de um mistério e 
divinização que satisfazem a exaltação do fanatismo religioso. 

O sacerdócio organizado, cuja vida e sustento depende da especulação religiosa, 

explora a faceta humana negativa dos seus fiéis e crentes, em vez de esclarecê-los à luz 
da ciência e da razão. Assim, em breve, os líderes e instrutores espirituais perdem suas 
características humanas sensatas e atribuem-lhes poderes, milagres e lendas, que 
passam a alimentar o “combustível” da fé, da idolatria dos templos e o comércio de suas 
organizações. Com o decorrer do tempo e a proverbial fragilidade da memória humana, 
até os tiranos, criminosos, bárbaros e bandoleiros sanguinários, cujas vidas foram 
indignas ou perversas, chegam a ser redimidos pela literatura sentimentalista e pelos 
melodramas compungidos e lacrimosos do rádio, teatro e cinema.

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Em conseqüência dessa candidez de espírito, o que não farão os discípulos, os 

historiadores, quando resolverem biografar os seus ídolos religiosos? De acordo com a 
história sagrada do vosso orbe, a maioria dos legisladores religiosos sempre nasceu de 

                                                        

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 Nota do Médium: No Brasil, isso acontece com o culto censurável a Lampião e seu bando de cangaceiros cruéis, 

cada vez mais “redimidos” pela cinematografia brasileira, que o transforma num herói cuja vida sangrenta e pródiga de 
vinganças bárbaras é romanceada sob o objetivo de obter o maior êxito de bilheteria! Em Portugal, o facínora José do 
Telhado tornou-se figura simpática e injustiçada; nos Estados Unidos, os bandidos Jesse James e Dick Turpin são 
aplaudidos pela juventude moderna, graças à propaganda do cinema interesseiro. Gengis-Khan, Átila, Cortez e 
Tamerlão, em vez de serem apontados como flagelos sanguinários que trucidavam mulheres, velhos e crianças como 
se tritura o trigo nos moinhos, são vividos atualmente pelos galãs cinematográficos como heróis fabulosos. 
 

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