não intervir na formação psicológica de Jesus durante sua infância, sendo ela sua 
genitora? 

RAMATÍS: — Maria era todo coração e pouco intelecto; um ser amorável, cujo 

sentimento se desenvolvera até à plenitude angélica. No entanto, ainda precisaria 
aprimorar a mente em encarnações futuras para completar o binômio “Razão-
sentimento”, que liberta definitivamente a alma do ciclo das encarnações humanas. 
Ademais, além de participar do programa messiânico de Jesus, ela também resolvera 
acolher sob o seu amor maternal algumas almas a que se ligara no passado, a fim de 
ajudá-las a melhorarem o seu padrão espiritual. Embora muito jovem e recém-casada, 
não se negou a criar os filhos do primeiro casamento de José, viúvo de Débora, e que 
trouxera para o novo lar cinco filhos menores: Matias, Cléofas, Eleazar, Jacó e Judas, 
estes dois últimos falecidos bem cedo. À exceção de Jesus, que era um missionário 
eleito, os demais filhos de José e Maria eram espíritos comprometidos por mútuas 
responsabilidades cármicas do passado, cuja existência em comum serviu para 
amenizar-lhes as obrigações espirituais recíprocas. 

Maria era um espírito amoroso, terno e paciente, completamente liberta do 

personalismo tão próprio das almas primárias e sem se escravizar à ancestralidade da 
carne. Possuía virtudes excelsas oriundas do seu elevado grau espiritual. Cumpria seus 
deveres domésticos e se devotava heroicamente à criação da prole numerosa, tão 
despreocupada de sua própria ventura como o bom aluno que aceita as lições de 
alfabetização, mas não se escraviza à materialidade da escola. Oferecia de si toda 
ternura, paciência, resignação e humildade, sem quaisquer exigências pessoais. 

Na época de Jesus, as escolas se multiplicavam em Jerusalém e mesmo pelas 

cidades adjacentes, pois ensinava-se em casa, nas ruas e nas sinagogas. No entanto, o 
ensino se particularizava por uma imposição religiosa, pois tanto as crianças como os 
adultos assim que aprendiam a ler devotavam-se a interpretar tudo o que se reportava à 
religião judaica. Eram estudos do culto, das concepções religiosas quanto às profecias e 
aos salmos, que transformavam cada alfabetizado em um novo cooperador intelectual e 
pessoal para o Templo. Sem dúvida, existiam estabelecimentos superiores, tais como as 
escolas rabínicas, na maioria filiadas à Escola de Hilel e preferida pelos fariseus, que 
ensinavam botânica, medicina, agricultura, higiene, direito, arquitetura etc. Mas as 
mulheres, afora o conhecimento primário para um entendimento razoável, eram 
destituídas de cultura geral. Maria, no entanto, era muitíssimo considerada em Nazaré, por 
ser exímia em bordados, costuras, tecelagem de tapetes de lã e cordas, cujo ofício 
aprendera durante a sua estada entre as virgens de Sião, no Templo de Jerusalém. Ela 
aproveitava todos os instantes disponíveis para contribuir com suas prendas e confecções 
no orçamento da família, que era precário em face do trabalho modesto de José, na 
oficina de carpintaria. 

Embora mulher meiga e amorosa, anjo exilado na Terra, em face de sua modesta 

cultura e falta de conhecimentos profundos da psicologia humana, Maria vivia o 
imediatismo das reações emotivas e sem as complexidades do intelecto. Mas era tão 
dadivosa ao próximo, assim como a fonte de água pura renova-se à medida que a 
esgotam; como a rosa que doa incondicionalmente o seu perfume, ela jamais se 
preocupava em saber qual o mecanismo que transforma o adubo do solo em fragrância 
tão odorante. 

 
PERGUNTA: — Quereis dizer que devido ao seu temperamento meigo e generoso, 

Maria pôde viver longe dos conflitos tão comuns entre a vizinhança, mantendo-se imune 
aos problemas sentimentais da família? Não é assim? 

RAMATÍS: — Se o amor doado por uma só criatura fosse suficiente para eliminar as 

manifestações agressivas e desagradáveis do mundo tão primário, como é a Terra, é 
evidente que Jesus não seria crucificado, mas entusiasticamente consagrado pelos seus 
contemporâneos. Assim também acontecia com Maria, pois embora o seu amor intenso, 
incondicional e puro pudesse abrigar toda a família, os amigos, a vizinhança e até os 
estranhos, nem por isso pôde livrar-se de certa inveja, intriga, mesquinharia e ciúme de 
algumas almas de quilate inferior, que também viviam naquele mundículo de Nazaré. 

É certo que nas imediações do seu lar vivia o povo nazareno, tradicionalmente 

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