conhecendo-lhe o inesgotável Amor em favor dos homens e a capacidade de renúncia 
diante de qualquer sacrifício e da própria morte. Daí a escolha para a sua obra dos tipos 
psicológicos que o cercaram durante sua romagem terrena, e no momento oportuno 
também deram-lhe os melhores testemunhos de fidelidade e abnegação em favor da 
mensagem sublime do Evangelho. Eram pescadores, campônios, publicanos, criaturas 
bastante rudes e até impossibilitadas de compreender o alcance de sua participação na 
obra de Jesus; mas abdicaram dos seus bens e da própria família a fim de sustentar-lhe 
a pregação messiânica. 

Sem dúvida, os intelectuais da época jamais se arriscariam ao ridículo de admitirem 

ou divulgarem as noções tão singelas e utópicas do Cristianismo nascente, e que num 
ambiente fanático e de cobiças e ódios, pregava o amor, a bondade e a renúncia entre 
escravos e senhores, ricos e pobres, santos e prostitutas, cultos e analfabetos. Mas tudo 
isso foi possível, pois acima da rudeza de homens tão simples e pobres, como foram os 
apóstolos, prevaleceu-lhes a força extraordinária de uma fé incomum e a sinceridade 
pura, criando a seiva indestrutível para adubar e fazer crescer a árvore do Evangelho na 
gleba terrena. 

A atividade de Jesus foi prevista com segurança e êxito no mundo físico e sem 

quaisquer preocupações antecipadas dos Mestres Siderais, porque o seu padrão 
angélico era garantia suficiente para profetizar a sua verdadeira conduta, no testemunho 
sacrificial da cruz. 

 
PERGUNTA: — Por que motivo ainda não podemos compreender a verdadeira 

significação da paixão de Jesus? 

RAMATÍS: — É um equívoco da tradição religiosa considerar que o supremo 

sacrifício de Jesus consistiu essencialmente na sua paixão e sofrimento, compreendidos 
entre a condenação de Pilatos e o holocausto da cruz. Se o verdadeiro sacrifício do 
Amado Mestre se tivesse resumido nos açoites, nas dores físicas e na sua crucificação 
injusta, então os leprosos, os cancerosos, os gangrenosos deveriam ser outros tantos 
missionários gloriosos e eleitos para a salvação da humanidade. Os hospitais gozariam 
da fama de templos e viveiros de “ungidos” de Deus, capazes de salvarem a 
humanidade dedicando a ela suas dores e gemidos lancinantes. Milhares de homens já 
têm sofrido tormentos mais atrozes do que as dores físicas suportadas por Jesus 
naquela terrível sexta-feira, mas nem por isso foram consagrados como salvadores da 
humanidade. 

 
PERGUNTA: — Então, nesse caso, o maior sofrimento de Jesus consistiu na sua 

dor moral ante a ingratidão de nossa humanidade. Não é assim? 

RAMATÍS: — Jesus, como sábio e psicólogo sideral, compreendia perfeitamente a 

natureza psíquica de vossa humanidade, pois os pecados dos homens eram frutos da 
sua imaturidade espiritual. Jamais ele sofreria pelos insultos e apodos, ou pelas 
ingratidões e crueldades humanas, ao reconhecer nas criaturas terrenas mais ignorância 
e menos maldade. Porventura os professores se ofendem com as estultícias e 
travessuras dos pequenos que ainda freqüentam os jardins de infância, considerando 
injúrias ou crimes aquilo que ainda é próprio da irresponsabilidade infantil? 

A piedade e o amor excelsos de Jesus faziam-no sofrer mais pelo descaso dos 

homens em promover a sua própria felicidade, do que mesmo pela ingratidão deles. O 
seu verdadeiro sacrifício e sofrimento, enfim, foram decorrentes da penosa e 
indescritível operação milenar durante o descenso espiritual vibratório, para ajustar o 
seu psiquismo angélico à freqüência material do homem terreno. A Lei exige a redução 
vibratória até para os espíritos menos credenciados no Espaço, cuja encarnação 
terrena, às vezes, se apresenta dificultosa nesse auto-esforço de ligar-se à carne. Mas 
Jesus, embora espírito de uma freqüência sideral vibratória a longa distância da matéria, 
por amor ao homem, não hesitou em suportar as terríveis pressões magnéticas dos 
planos inferiores que deveria atravessar gradualmente em direção à crosta terráquea. 

Já pensastes no sofrimento de um condor abandonando a atmosfera pura dos 

Andes e baixando dos altos píncaros até oprimir-se, cá embaixo, pelo pó ou pelo lodo a 
enlamear-lhe as penas e o corpo? E depois de exausto pela agressividade exterior e 

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