interesses e temeroso do seu prestígio junto a Tibério, que lhe dera o cargo. Apesar de 
sua arrogância e repulsa contra os judeus, ele não se animava de abrir luta frontal com o 
Sumo Sacerdote, que era um inimigo implacável e perigoso pela sua astúcia. Hanan, o 
sogro de Caifás, quando em atividade no templo, já o havia indiciado junto a Roma, 
através de algumas comunicações com certo fundamento, amparadas por ricos presentes 
à corte romana. Graças a Sejano, seu particular amigo e ministro favorito de Tibério, 
Pilatos conseguira manter o cobiçado cargo de procurador da Judéia e doravante seria 
mais cauteloso quando se tratasse de decidir sobre os interesses sacerdotais. Além disso, 
Caifás fizera-lhe saber, indiretamente, que possuía provas de algumas negociatas 
inescrupulosas feitas com judeus gananciosos capazes de vender a própria alma, que 
faziam transações fabulosas no fornecimento de víveres e suprimentos para as 
embarcações e para os exércitos romanos. Através do beneplácito de Pôncio Pilatos, que 
assim carreava fartura de moedas para os seus cofres particulares, esses negociantes 
hebreus eram livres em suas especulações. Aliás, ultimamente ele se achava em boas 
graças com o Sumo Sacerdote, o qual lhe enviava, diariamente, os mais gordos faisões 
recebidos da província da Gália, assim como figos, tâmaras e damascos secos ou 
cristalizados, da mais fina qualidade, além de dezenas de caixas do excelente vinho de 
Chipre, que ele mais apreciava. 

 
PERGUNTA: — Quais foram os acontecimentos sucedidos com Jesus, após ser 

conduzido a Pôncio Pilatos? 

RAMATÍS: — O Pretório Romano funcionava no antigo palácio de Herodes, 

contíguo à Torre Antônia, onde sediavam-se também duas legiões romanas sob o 
comando de Quinto Cornélio, o centurião de confiança do Procônsul. Ficava perto do 
Templo e distava algumas quadras da casa do Sumo Sacerdote, pois todos os edifícios 
principais ficavam na cidade alta. Seguindo o velho costume romano, Pôncio Pilatos 
iniciava a sua audiência habitualmente às nove horas da manhã, enquanto os seus 
assessores civis e o juízo comum, de poderes para resoluções e sentenças sumárias, 
que apenas lhe pediam a confirmação, funcionavam na ante-sala que se abria para o 
terraço ou plataforma, onde era costume dar-se conhecimento ao povo dos editos de 
César. 

Jesus foi introduzido nessa ante-sala sob a custódia de esbirros do Sinédrio, 

enquanto a Pilatos era comunicado que se tratava de um prisioneiro já condenado pelo 
Tribunal Sagrado e sob recomendação particular do Sumo Sacerdote para imediato 
interrogatório. O Procurador de Roma surpreendeu-se diante de um homem palidíssimo, 
febril e abatido por visíveis sofrimentos, quando as provas e os testemunhos em seu 
poder o acusavam de perigoso facínora e obstinado rebelde. Esperava defrontar-se com 
um homem hirsuto, brutal, destemido e cínico, em vez de uma criatura humilhada, de 
aspecto delicado e cambaleante de fraqueza, como se mostrava Jesus de Nazaré. 
Provavelmente, o seu mau estado de saúde provinha de excessivos interrogatórios e da 
insônia, pois custava a reconhecer, debaixo daquela aparência inofensiva e atribulada, o 
galileu fanático e perigoso das provas criminais em seu poder. Era seu dever fazer 
cumprir a lei contra os infratores e manter a harmonia nas relações entre os hebreus e 
romanos, freqüentemente em choque. Convinha prestar alguns favores ao Sumo 
Sacerdote, para que depois chegassem bons informes a Roma, pois, embora isso o 
irritasse, o seu prestígio administrativo e a sua segurança na Judéia dependiam 
fundamentalmente da opinião do próprio povo judeu, cativo e rixento, porém jamais 
conformado. 

No entanto, Pilatos guardava lá no íntimo os seus ressentimentos contra as astutas 

raposas do Templo, como assim as designava, e perdia a tramontana toda vez que 
teimavam em lhe impor condições ou pareceres. 

 
PERGUNTA: — Que dizeis do julgamento de Jesus por Pilatos? 
RAMATÍS: — Pôncio Pilatos dirigiu-se ao beleguim-chefe do Sinédrio, que conduzira 

Jesus até a plataforma do pretório, o qual fazia o papel de relator e ao mesmo tempo de 
promotor, habilmente instruído por Hanan e Caifás, e inquiriu-o do seguinte modo: 

— Que se julgou deste homem pelo Sinédrio? 

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