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Jesus e Pôncio Pilatos
PERGUNTA: — Que nos dizeis a respeito de Pôncio Pilatos?
RAMATÍS: — Pôncio Pilatos, como todos os procônsules seus predecessores, era
também detestado pelos judeus, embora se mostrasse mais tolerante com os assuntos
religiosos de tal povo. No princípio, ao assumir o comando da Judéia, ele agiu com
demasiada violência, reprimindo qualquer indício de revolta ou conspiração com o
suplício atemorizante da cruz. Mas em face da política adotada por Tibério, de não
enfraquecer a autoridade religiosa dos povos vencidos, e governá-los mais facilmente
através do poder e da astúcia do sacerdócio organizado, Pilatos convenceu-se de que
seria muito difícil domar aquele povo irrequieto, fanático, obstinado e, ao mesmo tempo,
audacioso. Além disso, o Sumo Sacerdote gozava de credenciais que o favoreciam de
influir até quanto à permanência e ao prestígio do procônsul, dependendo dos seus
relatórios enviados a Roma. Virgílio Galba, procurador que precedera Pilatos, gozara de
poderes absolutos, pois derribava sumos sacerdotes conforme lhe apetecia, mas a
política de Tibério obrigava o seu sucessor a viver em boas relações com Caifás, o
Sumo Sacerdote em vigência, que era habilmente orientado pelo seu sogro Hanan, a
quem sucedera naquele cargo prestigioso na organização sacerdotal judaica. Em face
disso, Pôncio Pilatos moderou a sua irascibilidade e muitas vezes teve de se curvar ao
sacerdócio hebreu para não se desprestigiar em Roma.
Pôncio Pilatos era um homem com cerca de 42 anos; era robusto, de estatura média,
corado, cuja fisionomia traía um forte recalque pela vida sensual. Era calvo e procurava
disfarçar a calvície no arranjo de um saldo de cabelos ao nível das orelhas, ou com
enfeites próprios da época. Apesar de se mostrar afável e atencioso, quando isso lhe
convinha, chegando a gargalhar muito tempo em face das tolices religiosas dos judeus, o
bom fisionomista lhe identificaria alguns traços duros de despotismo e insensibilidade. Não
era ríspido, mas atemorizava os que necessitavam dos seus préstimos, pois se
encolerizava com facilidade quando contrariado. Enfim, traía aquela índole da fauna de
políticos de Roma, em que os ambiciosos curvavam a cerviz para os mais poderosos,
para depois extrair-lhe o máximo de proventos ou esmagá-los sob o tacão da bota ferrada,
quando isso aprouvesse. Sumamente ambicioso, Pilatos era prudente no jogo dos seus
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