a firmar as bases sólidas de sua doutrina. Em verdade, ali ocorreram fenômenos de alta 
excelsitude com respeito a Jesus, dos quais ele saiu combalido e mal suportando o 
desgaste humano. 

 
PERGUNTA: — Podeis dizer-nos o que ocorreu na quinta-feira a Jesus e seus 

apóstolos? 

RAMATÍS: — Conforme dissemos, durante o dia diversos amigos, adeptos e 

parentes de Jesus o visitaram na granja de Getsêmani, trazendo-lhe notícias alarmantes 
e alguns se propondo a tirá-lo de Jerusalém. Após a oração das seis horas e frugal 
refeição, em que Jesus mal tocou nos alimentos, ele deliberou subir ao cimo do Horto e 
de lá usufruir um pouco da beleza da noite estrelada, que chegava silenciosamente. 
Estava quente e um forte mormaço prenunciava chuva para a madrugada; os apóstolos, 
além de aflitos e atemorizados estavam cansados. O Mestre saiu do seu pequeno 
aposento e ao passar diante do celeiro grande viu-os recostados nos fardos de feno, 
deitados sobre as mantas e peles de carneiro; suas fisionomias atribuladas traíam as 
reflexões mais dolorosas. Bartolomeu e Felipe, que haviam dito os mais lúgubres 
vaticínios para o movimento cristão, ali se encontravam pálidos e arrasados; Simão 
Cananeu não controlava os seus movimentos nervosos; Tomé, crente sincero na obra do 
homem e descrente da revelação divina, parecia conformado com aquele final bem 
humano; Tadeu e André tinham o olhar absorto e seus espíritos deviam vagar pela 
Galiléia, revendo paisagens de infância e sonhando com o lar pacífico e amigo. Mateus, 
homem organizado e sensato, parecia alheio ao perigo iminente, pois ouvia, sorridente, a 
prosa ingênua e jovial de Tiago, filho de Alfeu. Judas havia desaparecido desde as 
primeiras horas da manhã de quinta-feira e ninguém mais o viu, causando estranheza o 
fato de ele vagar por toda a cidade sem qualquer impedimento, embora alegasse que 
ninguém o reconhecia como discípulo de Jesus. João, Tiago e Pedro, à vista de Jesus, 
levantaram-se precípites para acompanhá-lo a qualquer lugar. Mas o Mestre achegou-se 
aos seus apóstolos e o seu olhar compassivo, mas enérgico, terno e estimulante, 
percorreu-os um a um, ali, à sua frente. Havia um fardo de feno a seu lado, que por 
curiosa coincidência era o extremo do círculo daquela fila de homens sentados, 
recostados e vencidos pela fraqueza espiritual e pela exaustão corporal. Sentou-se à 
frente dos mesmos, condoído de suas debilidades humanas e mal preparados para os 
embates gigantescos do espírito imortal. Eles haviam agravado a sua situação devido à 
imprudência de darem ouvidos à voz das sereias subversivas, que nutriram no seio do 
movimento cristão as exaltações perigosas, arruaças e tentativas violentas contra os 
poderes públicos. 

Jesus então compreendeu que era preciso animá-los, vitalizando-lhes as forças 

abatidas e contagiá-los de modo a não subestimarem a mensagem do Evangelho 
salvador do homem. Precisaria transmitir-lhes forças espirituais para ajudá-los a 
enfrentarem os seus destinos duros e a suportarem as misérias e defecções humanas, 
no futuro. Sentiu-se enlevado por generoso bálsamo em sua alma. Uma voz amiga 
ciciava-lhe nos ouvidos os termos de conforto e esperança àquela gente. Tocado por 
essa inspiração superior, ergueu-se, e num tom profético e vibrante, assim lhes disse: 

— “Não vos desespereis. Eis chegada a hora em que o filho do Homem será 

entregue nas mãos dos pecadores. Mas dormi e descansai, pois só o Pastor será 
motivo de escândalo; as ovelhas do rebanho não perderão o seu redil. Não vos será 
tirada a Galiléia, porque o vosso testemunho ainda não pede a prova do sangue do 
corpo, mas apenas o tributo sagrado do espírito. Dei-vos as palavras que Deus me 
deu; o Pai glorifica-me a mim e em vós mesmos, na manifestação do Seu nome entre 
os homens. Eu acabarei a obra que o Pai me encarregou e não temo deixar o mundo a 
que vim porque torno outra vez ao reino de Deus que está nos céus.” 

Aguardando o efeito otimista e confortador das suas palavras dirigidas aos 

discípulos, que então se mostraram animados e esperançosos, Jesus arrematou, 
consolidando-lhes aquele estado de confiança: 

— “Vós me credes? Pois é chegada a hora em que sereis espalhados, cada um 

para sua parte, eu ficarei só, mas o Pai estará comigo! Tende confiança no que vos digo; 
vós haveis de ter aflições no mundo; porém, ainda não é chegada a vossa hora e vereis 

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