azáleas coloridas, procedentes da China, pintalgavam os canteiros de belos matizes em 
afrontosa promiscuidade com os jasmins azuis, amarelos ou róseos, que exsudavam um 
perfume embriagante. 

Na ala que se inclinava formando a encosta das oliveiras voltadas para Jerusalém, 

alinhavam-se os canteiros de especiarias repletos de sementeiras, plantas, bulbos, 
palmas, gavinhas, hastes e cipós estranhos. Havia arbustos de açafrão de sementes da 
Índia, de um metro de altura, num tom amarelo-citrino ou vermelho-púrpura, abrindo-se 
em folhas compridas e arroxeadas, aconselhadas para os males da asma, melancolia ou 
histeria, a hortelã da Grécia, de sabor apimentado, própria para acalmar os vermes, ou 
de cheiro, trazida da Gália longínqua, e que fornecia medicação para o estômago, o 
cérebro e o coração. A distância, recendia a fortidão do cominho da Armênia, da Índia e 
mesmo de Roma tão odiada; aqui, dominava a alfazema cheirosa; ali, a noz-moscada ou 
a canela de Ceilão; acolá, dedos de vegetais retorcidos exalavam o aroma do gengibre 
picante. Eram perfumes doces, cheiros fortes e excitantes, que se misturavam aos 
sabores agrestes e amargosos, acasalando-se ao odor estranho da pimenta da Índia o 
aroma atraente, mas queimante, da pimenta negra da Pérsia. 

Do cimo do Jardim das Oliveiras podia-se ver o rio Jordão coleando como preguiçosa 

serpente prateada entre o verde claro e macio da planície. À distância repousava o Mar 
Morto emoldurado pelas colinas da Galiléia ou cintilavam os lagos beijados pelo Sol 
caricioso. Entre as flores formosas e os canteiros de especiarias exóticas e odorantes, 
Jesus descansou seus últimos dias do mundo, quer preparando-se para o arremate 
trágico e messiânico de sua obra, como a despedir-se da própria natureza que ele tanto 
amou. O Senhor concedeu-lhe o ensejo de gravar na sua retina espiritual, e antes da 
crucificação, os contornos familiares das montanhas, dos caminhos e dos lagos, que lhe 
serviram de tribuna para a prédica do Evangelho da redenção humana. 

 
PERGUNTA: — Como se sucederam os últimos dias de Jesus no Jardim das 

Oliveiras? Quais as semelhanças com a narrativa dos evangelistas? 

RAMATÍS: — Na quinta-feira, Jesus foi beneficiado com a presença de alguns 

amigos fiéis, que o visitaram apreensivos e pesarosos pelo que poderia lhe acontecer de 
grave, pois as notícias na cidade eram desagradáveis. Entre eles vieram Simão de 
Betânia e o seu parente Eleazar, mensageiros fraternos de Maria Sara, Maria de 
Magdala, Verônica, Joana, Salomé e outras mulheres que desejavam visitá-lo no seu 
retiro de Getsêmani, ansiosas para acalmarem seus corações aflitos ante os boatos 
assustadores. O Mestre então pediu a Simão para explicar que ele se retraía a qualquer 
contato muito emotivo e sentimental, pois sentia-se debilitado em suas forças psíquicas 
e se preparava para os acontecimentos vindouros. 

Simão procurou animá-lo com argumentos otimistas, mas Jesus insistiu que a sua 

hora era chegada, pois em breve seria levado diante do tribunal da justiça do mundo 
para dar testemunho de sua vida e confirmação de sua obra pela salvação da 
humanidade. Recomendava lembranças a Marta, fiel e querida companheira que se 
achava gravemente enferma em Betânia; despedia-se de todos os amigos por 
intermédio de Simão e predizia um feliz encontro para mais tarde no reino de Deus. 
Simão tinha os olhos rasos de lágrimas fitando Jesus com pesarosa ternura, pois bebia-
lhe os gestos e as palavras. Era criatura de coração magnânimo e de elevada condição 
espiritual, certo de que se despedia para sempre do seu benfeitor e generoso amigo. 

Jesus não quis prolongar aquele encontro terno e pesaroso. Enlaçou afetuosamente 

Simão e Eleazar e puseram-se a caminhar em direção ao portão da granja, o qual se 
abria para os lados do vale de Cedron. Após sentidos abraços de que também 
participaram Pedro, João, Tiago e Tomé, então separaram-se os velhos amigos de 
Betânia. Ao longe, Simão e Eleazar ainda acenaram mais uma vez e depois 
desapareceram rumo a Jerusalém. À tarde, inesperadamente, chegaram Nicodemus e 
José de Arimatéia, cujas fisionomias preocupadas revelavam más notícias. Sem 
esconderem o seu estado aflitivo, comunicaram ao Mestre que a sua prisão estava por 
horas e se até o momento não o haviam prendido, fora devido ao receio do Sumo 

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