empreendimento perdia vitalidade. Elementos novos, mas interessados nos proventos 
que poderiam advir da fundação do novo reino prometido por Jesus, concorriam para as 
falsas interpretações do Evangelho entre os demais, solapando assim as bases do 
Cristianismo. Depois se mostravam insatisfeitos, impacientes e com idéias próprias 
ocasionando discussões estéreis, que visavam apenas objetivos materiais. Aliás, é a 
própria história sagrada que menciona a zanga de Pedro contra essas insatisfações e 
desavenças freqüentes no seio do grupo interesseiro, e que o leva a protestar junto ao 
Mestre Jesus, alegando: 

— “Mestre! Essa gente não segue os vossos ensinamentos!” E Jesus, sempre sereno e 

tolerante, então lhe responde: — “Que te importa que não me sigam, Pedro? Segues-me tu!” 

Jesus, persuadido de que não mais seria conveniente prosseguir no diapasão 

costumeiro, rebuscou no âmago do coração o sentimento mais terno e na mente a 
solução mais sensata, para então ajustar e unir, apaziguar e incentivar, prometer e 
realizar. Malgrado o calor afetivo, a fidelidade espiritual dos discípulos mais íntimos às 
suas idéias elevadas, reconhecia que a inquietação, o desânimo e a impaciência, 
realmente estavam lavrando fundo na alma de seus seguidores. Os adeptos mais 
decididos achavam Jesus demasiadamente conciliador, tolerante e acomodatício, que só 
resolvia as querelas com os seus detratores através das armas empíricas do perdão, da 
resignação e da paciência. Isso, segundo eles, desacreditava o movimento cristão, pois 
a interferência de adversários cínicos e mordazes semeava a descrença naquela gente 
simples e tola, que deixara seus bens materiais para seguir um profeta nômade. 

Achavam que, decorridos três anos nessa expectativa, já era tempo de se tentar 

empreitada corajosa, para dar posse ao Mestre como o Rei de Israel e o “Salvador” do 
povo judeu. Em face das queixas e dos descontentamentos que ouvia em torno de si, 
Jesus concordou em tentar-se algo para avivar a sua doutrina, mas isso sem 
desmentir os princípios cristãos do amor e do perdão que fundamentavam os seus 
ensinos. Porém, de relance, não via um modo eficiente para solucionar aquele 
impasse delicado, o que devia ser feito o mais breve possível, pois o seu organismo 
também apresentava-se combalido e ele temia partir antes de consolidar sua obra. 

 
PERGUNTA: — E quais eram os sentimentos e as disposições emotivas dos 

apóstolos, nesses dias de inquietude e insatisfação dos demais partidários do mestre 
Jesus? 

RAMATÍS: — Pedro era sempre infatigável, decidido e fiel; sua alma rude, mas de 

sentimentos afáveis, aceitava sem protesto qualquer instrução ou recomendação do 
Mestre. Por isso, a história o consagrou como a “rocha viva”, em que Jesus assentou a 
base de sua Igreja. As suas próprias vacilações durante a prisão do Mestre, ele depois 
as redimiu pela sua morte sacrificial em Roma, quando foi resignadamente crucificado 
de cabeça para baixo. Após a morte de Jesus, Pedro devotou-se de corpo e alma à 
causa cristã e só raramente retornava ao seio da família para um breve aconchego 
afetivo. Outros apóstolos, como Bartolomeu, André, Felipe e Tadeu, também 
estranhavam a demora do Mestre em manifestar as suas forças gloriosas ou de pôr-se a 
caminho de Jerusalém para as pregações eloqüentes, onde deveria assumir o poder 
sobre Israel e cumprir a profecia do Velho Testamento. Aliás, Felipe não confiava no 
sucesso daquela empreitada messiânica, alegando a necessidade de um sangue novo, 
dinâmico e resoluto, que viesse galvanizar a todos. Bartolomeu era uma peça indecisa, 
que não sabia bem para onde pender; faltava-lhe entusiasmo e deixava-se arrastar 
pelas palavras dos mais eloqüentes, movendo-se qual autômato entre os companheiros 
à espreita de novidades. Tomé e Simão Cananeu já não confiavam em Jesus quanto ao 
futuro. Eles amavam o seu querido Mestre, mas não escondiam a dúvida quanto à 
realização de todos os acontecimentos preditos por ele. Em suas confabulações 
reservadas, chegavam a alimentar a idéia de que Jesus às vezes não parecia lógico e 
sensato nas suas divagações, razão por que “nem tudo o que ele pregava deveria ser 
aceito sem reservas”. Mateus, reservado e atencioso, não destoava da comunidade, 
pois trazia em si a disciplina do homem habituado a lidar com a alma humana e ser mal 

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