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Os últimos dias da vida de Jesus
PERGUNTA: — Que nos dizeis dos últimos dias da vida de Jesus?
RAMATÍS: — Alguns dias antes da crucificação, Jesus deduziu que embora suas
idéias fossem bem acolhidas pelo povo em comum e mesmo por muitas pessoas cultas
e afortunadas, era necessário reavivá-las como novos estímulos doutrinários, pois as
suas pregações evangélicas, devido à rotina do mundo material, já denunciavam
enfraquecimento entre os seus próprios discípulos e adeptos, os quais manifestavam
certo desânimo ante a demora quanto à concretização do “Reino de Deus”, esperado
ansiosamente desde há três anos. Aliás, tal situação era justificável, pois aquela gente
supersticiosa e imediatista não possuía força espiritual suficiente para alimentar durante
muito tempo um ideal que estaria muito acima do prosaísmo da vida humana. Eram
criaturas escravas do meio-ambiente, cuja ventura e prazeres dependiam
exclusivamente das compensações materiais.
Jesus também se preocupava com os laços de família e as obrigações que ainda
prendiam diversos dos seus discípulos mais chegados, os quais se mostravam ansiosos
pelo término daquela peregrinação incessante pelas cidades da Judéia. Era evidente
que todos os dias surgiam partidários entusiastas, tal como ainda hoje acontece nos
movimentos políticos, filantrópicos, de relevo social. Mas em breve esse entusiasmo se
arrefecia, passado o efeito das primeiras emoções e também pela demora dos bens
aludidos por Jesus.
O desalento crescia à medida que prosseguiam as peregrinações no diapasão
costumeiro. E os discípulos não escondiam o desejo ardente de retorno ao lar para a
vida em comum com a família. Pedro e outros não dispunham de tempo suficiente para
seguirem o Mestre, pois eram casados e sua família os requeria freqüentemente devido
às necessidades da casa; e os discípulos que eram solteiros, sustentavam os pais
velhos e parentes enfermos. Ademais, as pregações de Jesus eram cada vez mais
importunadas pelos espiões e esbirros do Sinédrio, que semeavam sarcasmos e
provocações para perturbar a harmonia entre os ouvintes. E o pior era que Jesus não
permitia nenhuma reação vigorosa, alegando que sua doutrina era só de Amor e Paz.
Embora os partidários mais fiéis continuassem devotando os mais puros
sentimentos à causa cristã, enfraquecia-se aquela harmonia dos primeiros dias e o
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