Além disso, Jesus era filho da Galiléia, uma terra de homens ignorantes e rudes,
coletividade de gentios, indignos de figurarem na história. No entanto, malgrado essas
deficiências, Jesus projetou-se além dos séculos testemunhado pelos homens que o
conheceram e pelos discípulos integrados em sua vida messiânica. Ninguém duvida da
existência de Pedro e Paulo de Tarso; nem, dos encontros do próprio Paulo com Pedro,
Tiago e João. As próprias divergências e ciúmes existentes nas relações desses
apóstolos, competindo para se mostrarem mais dignos do Mestre Jesus, já
desencarnado, chegaram até o vosso século sem perder a sua autenticidade. Paulo
refere-se à última ceia e à crucificação de Jesus, como se tivesse realmente participado
de tais acontecimentos tão dramáticos para a humanidade.
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Enfim, as contradições encontradas entre os próprios evangelistas são apenas de
minúcias, pois não modificam a substância das narrativas, e ali Jesus permanece de um
modo fiel e coerente. É inadmissível que no curto espaço de uma geração, homens
ignorantes, rudes e iletrados, pudessem inventar uma personalidade tão viva e
inconfundível em sua contextura moral, como foi Jesus. Em verdade, a força do Amor e o
espírito de confraternização manifestos na sua mensagem influíram sobre milhares de
criaturas até aos nossos dias, impondo a existência lógica e indiscutível de Jesus, ou
então outro homem deve substituí-lo. Afaste-se Jesus da autoria do Evangelho, por que
ele não figura na história profana de modo convincente, e a humanidade terá de criar outro
“mito”, ou outro homem, para então justificar esse “Código Moral” de profunda beleza
espiritual.
De todos os acontecimentos narrados pela própria História, Jesus ainda é a figura
mais fascinante e convincente para nos condicionar a uma vida espiritualmente elevada.
Jamais houve qualquer lenda ou narrativa a consumir tantas páginas em milhares de
obras, capaz de atrair tanto interesse e admiração à consciência do homem terreno.
Indubitavelmente, quanto mais os ateus e outros negadores se empenham em
“extinguir” ou apagar a figura de Jesus, mais ele se impõe acima de todas as dúvidas,
sobrepuja a própria História e mais vibra no coração dos crentes. Por conseguinte, é vã
e tola qualquer pretensão de negar a sua existência, pois a despeito de todas as
negativas, ele sempre ressurge irradiando luz e amor na tela viva da consciência
humana.
PERGUNTA: — Outros escritores expõem dados históricos e descrevem Jesus como
um “sedicioso” incurso nas leis penais da época, cuja doutrina sob a sua chefia fracassou
ante os poderes judeus e romanos constituídos em Jerusalém. Que dizeis?
RAMATÍS: — Basta o conteúdo do Evangelho vivido e ensinado por Jesus, para
desmentir qualquer afirmativa quanto a ele ter sido deliberadamente um rebelde ou
sedicioso. Jamais o Mestre Cristão desejou alguma coisa do mundo material, cuja vida
terrena foi centralizada exclusivamente em torno dos bens imperecíveis do espírito
eterno. Ele viveu trinta e três anos na face da Terra sem ater-se a quaisquer interesses
mundanos; e ninguém poderá inculpá-lo de um só fato ou empreendimento egoísta, que
lhe tenha dado relevo pessoal no ambiente político ou sacerdotal do mundo. Nasceu e
desencarnou extremamente pobre, encerrando seus dias heróicos sem valer-se dos
favores ou conluios com os poderosos da época.
O homem sedicioso é sempre um rebelde, um inconformado, pois é criatura ávida do
poder temporal e da exaltação sobre os seus conterrâneos. Os grandes sediciosos, ou
indisciplinados, que a História nem sempre registra com carinho e gratidão chamaram-se
Davi, Átila, Gengis-Khan, Asoka, Alexandre, Aníbal, Tito, Júlio César, Carlos Magno, lvã,
o Terrível, Napoleão, Kaiser, Stalin, Hitler, Mussolini e outros, os quais, juntamente com
certas qualidades excepcionais, como a obstinação, capacidade de comando, arrojo,
ambição e estratégia, manifestaram também os pecados do orgulho, da crueldade,
pilhagem, vingança ou libidinosidade.
Sem dúvida, alguns desses homens foram gênios ou heróis; outros, apenas loucos ou
paranóicos. Não contestamos que tenham influído ou modificado os destinos dos povos
no transcorrer de uma época, pois a Suprema Lei faz surgir o bem dos destroços do
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Coríntios
, 11:23; 15:3;
Gálatas
, 2:20.
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