morte, um pouco antes de Tito destruir Jerusalém. Surgiram um século e pouco antes do
Mestre Nazareno e dispersaram-se meio século depois, assim como o aluno diligente, que
depois de fazer a lição pedida pelo professor, então se retira da escola.
Por que os Essênios não se situaram exclusivamente na Fenícia, na Índia, na Pérsia, na
Arábia, na África ou no Egito, preferindo instalar sua confraria benfeitora justamente na
Judéia e, por “coincidência”, na Galiléia, terra onde nasceu e viveu Jesus? Que mistério ou
feliz acidente reuniu a nata da espiritualidade benfazeja, culta e sábia, na composição
daqueles conselhos de anciões essênios, onde Jesus encontrava o alento, a coragem, o
estímulo e o carinho precisos para lograr o seu empreendimento tão prematuro para sua
época? Quem lhe deu tanta força e ânimo para cumprir, no tempo fixado pelo Alto, a paixão
e o fecho trágico do Calvário? Os três últimos anos de sua vida transcorreram sob uma
inspiração oculta, vitalizante e obstinada em direção aos objetivos redentores e ao sacrifício
supremo na cruz. Ao pressentir o martírio no fim de seus passos, algo o ajudava a sentir-se
venturoso ante a perspectiva da própria morte!...
Sem dúvida, o Alto assistiu o Amado Mestre a todo momento de sua vida,
exortando-o para não desanimar sob a força dominante do instinto humano e a
hostilidade do meio adverso à sua linhagem angélica. Ele também usufruiu da amizade
pura e sincera de seus companheiros, amigos e discípulos, compensando-se da frieza e
das censuras dos próprios parentes. Suas angústias, tristezas e saudades da moradia
venturosa, recebiam generosa compreensão e salutar compensação entre aqueles
anciões essênios libertos das ilusões da vida material e vivendo exclusivamente em
função do espírito eterno. Qual o gigante, o herói, o santo ou conquistador do mundo,
que, por vezes, não precisou de um alento, um gosto ou de uma palavra afetuosa de
algum amigo ou conselheiro?
É indubitável que a mensagem evangélica libertadora de Jesus divulgada na Terra,
há dois mil anos, ainda era prematura para qualquer nação diferente da Palestina, cujo
povo era fanaticamente religioso em sua fé absoluta. No entanto, ali já se fazia a
influência esotérica dos Essênios, pois se viviam ocultos nas grutas e isolados em
mosteiros, suas idéias e seus sentimentos eram perfeitamente semelhantes aos
princípios do Cristianismo. Transmitiam-se de homem para homem, produzindo
silenciosamente o clima eletivo para a frutificação das sementes do sublime Evangelho. A
seara cristã já estava com a terra pronta para a semeadura e garantida a germinação
através do “adubo” essênio. Ali pregava-se a idéia superior do amor a Deus e ao próximo;
pesquisava-se a imortalidade da alma e estudava-se a reencarnação; censurava-se a
guerra, o furto, a exploração, a avareza, o ódio e a vingança. Cultuava-se a bondade, o
perdão, a renúncia e o sacrifício da própria vida; faziam-se votos de retidão e de serviço
ao próximo, protegiam-se as crianças, amparavam-se os velhos e os enfermos, ensinava-
se o respeito alheio e o culto exclusivo dos bens do Espírito Superior.
Torna-se, portanto, evidente, que esse grupo de homens, cultuando isoladamente
todas as virtudes superiores do Espírito, era uma espécie de “embaixada” espiritual que
descera à Terra para receber o Messias, o qual, então, daria forma objetiva e didática
aos mesmos princípios que os Essênios cultuavam e os cimentaria com a substância do
seu próprio sangue. Qual outro povo ou confraria humana ofereceria condições mais
eletivas e inspirativas ao Cordeiro de Deus do que o judeu com sua fé e os Essênios
com sua sabedoria espiritual? Os romanos, os gregos e os egípcios viviam aferrados
aos seus deuses de gostos tão epicuristas quanto os próprios homens. Nessas
civilizações pululavam credos, seitas, interesses e caprichos, que desuniam as criaturas
e as impediam de devotar-se a uma doutrina tão simples, humilde e popular como era o
Cristianismo. Os romanos ofereciam tributos a seus deuses, apelando para que lhes
satisfizessem os caprichos, os desejos e as paixões interesseiras. Os gregos perdiam
precioso tempo nas especulações filosóficas dos “porquês” intermináveis e na
verborragia das sutilezas irreverentes. Os egípcios, fanatizados ao culto de Osíris,
faziam da morte que liberta um motivo lúgubre de adoração que atemorizava e abatia o
espírito. Qual seria o sucesso de Jesus na exposição da ternura encantadora do
Evangelho, enfrentando o sensualismo dos bárbaros, a arrogância e o orgulho dos
romanos ou mesmo a presunção e o envaidecimento cultural do grego, que consumia o
seu tempo a fazer acrobacias excêntricas no trapézio da mente?
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