vida para não quebrar seus votos iniciáticos. Diante da crueldade, da ironia ou de 
qualquer acusação alheia que trouxessem prejuízos à confraria essênia, eles preferiam 
silenciar e morrer, antes de delatar ou mesmo defender-se. Daí o hábito peculiar de 
Jesus como um admirador dos Essênios, ser de poucas palavras, mas quando falava 
cunhava na face do orbe sentenças e conceitos imorredouros. Isto ele o provou pelo seu 
majestoso silêncio diante dos seus juízes no Sinédrio, que o acusaram cruelmente e 
mesmo diante de Pôncio Pilatos, que tentou suavizar-lhe a pena somente para 
desforrar-se de Caifás. 

Certas máximas evangélicas de Jesus eram verdadeiras paráfrases ou preceitos do 

mais puro essenismo, tal como os ensinamentos da “porta estreita”, “não ponhais a 
candeia debaixo do alqueire” ou o conceito de “não saiba a vossa mão esquerda o que 
dê a vossa mão direita”, ainda hoje sublimado no tronco das oferendas usado no seio da 
maçonaria. Aliás, o capítulo 7 de Mateus, em seus 29 versículos, é quase um resumo dos 
estatutos dos Essênios, elaborado para graduar as diversas fases da iniciação dos 
neófitos nos santuários maiores. Outra narrativa de Jesus de grande relevo espiritual 
iniciático é a parábola do “Festim de Bodas”, quando ele compara o céu a um homem rei, 
o qual manda lançar nas trevas exteriores o convidado que se achava à mesa do 
banquete sem a veste nupcial.

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 No entanto, apesar de certa obscuridade no relato ou 

dificuldade no entendimento da essência velada pelo simbolismo, os Essênios já 
conheciam a existência do perispírito, como atualmente acontece aos espíritas. Os 
neófitos aprendiam, em sua iniciação, que só depois de o espírito vestir a “túnica nupcial”, 
ou purificar o seu perispírito, é que ele poderia participar do “banquete divino” da vida 
celestial, pois, em caso contrário, assim como aconteceu na narrativa do “Festim de 
Bodas”, os que não vestirem tal túnica serão lançados naturalmente nas regiões do astral 
inferior para se purificarem de suas paixões animais. 

Onde Jesus teria buscado tantas historietas e conceitos da mais pura simbologia 

espiritual, caso não tivesse tido contato com os Essênios, quando entre os judeus devotos 
de Moisés só se transmitiam ensinamentos áridos, complexos e violentos, como a “lei do 
olho por olho e dente por dente”? Muitas das respostas do Mestre Galileu aos seus 
inquiridores capciosos, que procuravam confundi-lo ou ironizá-lo, ele as firmara na 
tradição de certos preceitos essênios, embora os tivesse simplificado em sua forma e 
vivificado no seu sentido de mensagem espiritual. 

 
PERGUNTA: — Por que a Igreja Católica Romana não menciona essa influência tão 

benfeitora dos Essênios na vida do Mestre Jesus? 

RAMATÍS: — A Igreja Católica nada sabe da existência da Fraternidade dos Essênios 

ou do convívio de Jesus entre eles. Aliás, os ensinamentos católicos não se coadunam 
com a origem iniciática e o esoterismo dos Essênios, pois estes, além de serem 
reencarnacionistas, também eram avessos à idolatria das imagens. Em seus ritos 
iniciáticos tudo era feito em função daquele momento em que o discípulo dava testemunho 
das suas reações mentais e emotivas, como as manifestava no mundo profano e depois 
deveriam ser disciplinadas sob os preceitos essênios. Mas ninguém se prendia 
fanaticamente à adoração dos objetos, imagens ou superstições do mundo oculto; era 
apenas um culto devocional puro do espírito à Divindade, uma espécie de afeição gentil e 
cortês dos Mestres responsáveis pelas transformações morais de seus discípulos. Isso 
Jesus também o demonstrou diversas vezes em suas atividades evangélicas, pois 
nenhuma doutrina nasceu tão simples e se fez tão comunicativa à alma dos seus adeptos 
como o Cristianismo. 

Os responsáveis pela organização católica romana, desde as primeiras consultas 

feitas aos evangelhos, ajustaram a figura de Jesus e sua obra a um esquema que só 
valorizasse os preceitos católicos a serem expostos dali por diante às massas primárias. 
Eliminaram, tanto quanto possível, os conceitos, as relações ou os fatos da vida do Mestre 
Cristão que pudessem contrariar ou desmentir as aspirações e os interesses da nova seita 
religiosa. Fizeram-se incorporações nos relatos evangélicos e o ensinamento claríssimo 
da reencarnação foi obscurecido de modo a permitir interpretações dúbias, como no caso 

                                                        

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 Mateus, 22:1-13. 

 

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