Porventura ele seria realmente o Cristo

69

 tão esperado, conforme lhe dissera João 

Batista e ouvia das confabulações misteriosas dos seus apóstolos? Mas Jesus, além de 
ser um Anjo era um Sábio, cuja humildade jamais convenceria de ser o Messias 
esperado, o Cristo ou o Filho de Deus predito pelos profetas do Velho Testamento. Só 
os homens cabotinos, sem o senso crítico da noção psicológica que esclarece a mente, 
é que se arvoram ostensivamente em salvadores dos povos, líderes fanáticos ou eleitos 
divinos, antes de cumprirem qualquer realização sadia e nobre que os exalte de modo 
excepcional. 

Contudo, Jesus ainda ignorava que a poderosa “Voz Oculta” que o impelia 

estoicamente para a renúncia de sua própria vida em favor do gênero humano, provinha 
do próprio Cristo Planetário, que a partir da cena do batismo, no rio Jordão, atuava-lhe 
cada vez mais intimamente, fortalecendo-lhe a alma para qualquer desiderato trágico no 
desempenho de sua Missão.

70

 Dali por diante o Mestre Nazareno firmou-se na caminhada 

pelo mundo e se deixou conduzir confiante e jubiloso na consecução da obra cristã, em 
perfeita sintonia com a sua vocação espiritual. Entregou-se decididamente à pregação da 
Boa Nova e do “Reino de Deus” e suas palavras e pensamentos saíam-lhe dos lábios num 
influxo tão intenso e caloroso, que seduziam as criaturas mais ferinas e produziam 
renovações instantâneas no seus ouvintes. Muitas vezes ele sentiu-se desligado da 
própria carne, embriagando-se na efusão espiritual venturosa, que lhe envolvia a alma 
heróica, assim como lhe acontecera durante o “Sermão da Montanha” e na 
“Transfiguração” do Monte Tabor. 

Deste modo, embora Jesus não tivesse certeza absoluta do fim trágico de sua 

existência, ele pressentia a necessidade de um sacrifício, que seria o corolário sublime de 
sua vida. 

 
PERGUNTA: — Em face de sua condição humana, porventura Jesus também não se 

sentia impelido a ajustar-se à vida em comum com os demais homens? Ele vivia 
completamente imunizado contra os estímulos e as atrações do mundo? 

RAMATÍS: — Muitas vezes a razão humana também tentou dominar-lhe os 

sentimentos divinos, compelindo-o a participar normalmente dos prazeres da carne e 
atender às exigências naturais de sua ancestralidade biológica. Jesus não podia deixar 
de reconhecer que isso também era um direito promulgado por Deus a todos os 
homens, pois, em verdade, a existência humana era um curso educativo para o 
aperfeiçoamento da alma e de sua conseqüente ventura. Malgrado a sua estirpe 
angélica, o Divino Mestre também sentia a necessidade de algum afago compreensivo 
que o ajudasse a suportar suas horas angustiosas. Era um anjo exilado num mundo 
agressivo e perturbador, levando desvantagem na competição com os habitantes que 
nele viviam satisfatoriamente no seu tradicional ramerrão, tal qual o batráquio, que se 
sente eufórico na mesma lagoa onde o pássaro sentir-se-ia aflito. 

A necessidade de bastar-se a si mesmo, porque já era uma consciência angélica e 

um condutor de almas, não o livrara do isolamento espiritual pela falta de companheiros 
afins ao seu tipo sidéreo. Nem contava com a companheira afetiva que pudesse ajudá-lo a 
vencer as horas cruciantes de sua vida excepcional, muito aquém de sua realidade 
sublime. Sentia o cérebro queimar-se pelo excesso de raciocínios comparativos da vida 
humana, em confronto com os valores infinitos do Cosmo. Algemado sem culpa à forma 
limitativa do mundo terráqueo e sem precisar dessa disciplina educativa, Jesus mal podia 

                                                        

69

 Realmente, Cristo era palavra grega que também eqüivale a Messias, o Esperado, o Enviado de Israel. Vide 

João, 1:34-41: “E eu o vi, e dei testemunho de que ele é o Filho de Deus”. “Temos achado o Messias (que quer dizer 
o Cristo)”. 
 

70

 Lucas, 3:21-23: “E aconteceu que, como recebesse o batismo todo o povo, depois de batizado também Jesus e 

estando em oração, abriu-se o céu. E desceu sobre ele o Espírito Santo em forma corpórea, como uma pomba; e 
soou do céu uma voz que dizia: “Tu és aquele meu filho especialmente amado; em ti é que tenho posto toda a 
minha complacência. E o mesmo Jesus começava a ser quase de trinta anos”. Sem dúvida, isto foi um fenômeno de 
alta transcendência mediúnica, em que a pomba refulgente e imaculada era um símbolo evidente da manifestação 
do Cristo Planetário, atestável pela vidência dos mais sensíveis. Ainda hoje são muito freqüentes os símbolos 
entrevistos pelos médiuns videntes, e que se referem a acontecimentos transcendentais sem analogia com os 
fenômenos do mundo material. 
 

167