no esquema traçado pelo Alto. Sem dúvida, as suas figuras de maior realce na obra 
cristã, como Pedro, João, Paulo, Batista, Maria de Magdala, Tomé, Mateus, José, Maria, 
José de Arimatéia, Tiago Maior e Tiago, filho de Alfeu, deveriam cumprir a promessa feita 
antes de suas encarnações, a fim de não desorientarem o rumo messiânico de Jesus. A 
obra cristã não exigia gestos, atitudes estandardizadas ou abdicação das vontades 
humanas em face do seu rumo fatalista, mas requeria a manifestação das qualidades e 
dos sentimentos naturais dos seus participantes como um testemunho moral superior e 
de garantia no futuro. 

Também não se tratava de um “enredo teatral” exigindo de cada personagem a sua 

entrada no momento propício e conforme a “deixa” do diretor, mas, em verdade, Jesus 
convocara espíritos amigos e heróicos para testemunharem livremente em favor do 
Cristianismo. Mas todos eram livres em suas ações, e a prova disso é que alguns não se 
mantiveram à altura do seu compromisso espiritual na hora de sua ação; outros recuaram, 
amedrontados, bem antes do seu testemunho. 

O próprio colégio apostólico estremeceu na hora trágica da prisão e da crucificação 

do Mestre Jesus. Pedro, interrogado pelos esbirros do Sinédrio, negou a sua condição 
de discípulo; Tiago, filho de Alfeu, precipitou-se para a primeira sinagoga e ali se pôs a 
orar de janelas abertas, numa demonstração de fé veemente a Moisés. Simão Cananeu 
e Bartolomeu sumiram de Jerusalém, Tomé, Felipe e Alfeu cautelosamente buscaram 
abrigo em casa amiga. Judas já havia se comprometido pelos seus ciúmes e 
imprudências, servindo de cobaia estúpida aos objetivos maquiavélicos do Sinédrio. 
Mesmo Gamaliel e Nicodemus, que também deviam participar direta e corajosamente do 
movimento cristão, cumprindo-lhes o dever precípuo de anotarem os acontecimentos da 
vida de Jesus para a segurança histórica dos vossos dias, mal deram seus testemunhos 
em rápidos diálogos e contatos com o Mestre. Os próprios irmãos de Jesus, filhos de 
Débora e de Maria, eram espíritos incluídos solidamente no esquema do Cristianismo, 
devendo cercá-lo de uma aura fraterna e afetiva, compensadora das dores do mundo 
profano. No entanto, afora Tiago, irmão de Maria, fervoroso e confiante; suas irmãs 
Elisabete e Ana, meigas e amorosas; e Eleazar, filho de Débora, sempre 
contemporizador; e Tiago, o menor, que chegou a acompanhá-lo nos últimos momentos, 
os demais irmãos lhe foram hostis. Efrain, o mais rico de todos, chegou a insultá-lo em 
público, alegando que Jesus não passava de um maníaco comprometendo a própria 
família com suas idéias perturbadas. 

Assim, os Mentores do Orbe ainda tiveram de efetuar alguns acertos, reajustes de 

última hora e afastar elementos estranhos e perigosos à integridade espiritual da obra 
cristã, pois só cuidavam dos seus interesses pessoais. No entanto, Jesus conseguiu 
cumprir o empreendimento messiânico a contento do Alto. É certo que ele seria fatalmente 
sacrificado, independente da atitude vil de um Judas, da conveniência política de Pôncio 
Pilatos, do ódio de Caifás e da imprudência sediciosa dos seus próprios discípulos em 
Jerusalém. Sem dúvida, outros homens do mesmo tipo psicológico, poderosos e 
corruptos, perseguiriam e crucificariam Jesus, logo que ele lhes fosse entregue indefeso. 
Porém, Jesus não sabia em “consciência física”, qual seria o clímax de sua vida na Terra, 
embora jamais cessasse o chamado oculto e insistente que se fazia em sua alma, 
superando-lhe os prazeres da carne e extinguindo-lhe o desejo, por quaisquer bens do 
mundo. Era um apelo misterioso e implacável, que lhe despertava um estranho júbilo e o 
tornava venturoso à perspectiva do martírio em favor do gênero humano. Jamais ele 
temeu a morte e considerava-se feliz sacrificando-se pela ventura alheia. 

Mas depois que se fez discípulo de João Batista e submeteu-se ao batismo no rio 

Jordão, ele sentiu mais fortemente aquela ansiedade oculta conjugada ao seu ideal. 
Ante as sentenças e os anátemas severos que João Batista proferia em suas pregações 
contra os ricos e os poderosos, censurando os pecados, as paixões e os vícios que 
mortificam a alma e afastam o homem de Deus, Jesus então percebeu as linhas 
fundamentais do roteiro que também sonhava realizar na Terra. Jamais opunha dúvida 
àquela “voz oculta” que o advertia no âmago do ser, instigando-o a uma campanha 
superior no mesmo estilo das idéias proclamadas por Batista. E então dissiparam-se 
todas as suas vacilações e dúvidas. 

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