PERGUNTA: — Considerando-se a Palestina uma terra pródiga de profetas, que
pregavam novos credos, trazendo revelações incomuns e até provocando revoluções
sediciosas, por que Jesus pairou acima de todos, se ele pregava uma doutrina bastante
prematura para a época?
RAMATÍS: — O principal atrativo da pregação de Jesus era a sua explicação sobre
um Deus magnânimo, justo, afetivo e quase humano, que amava seus filhos tanto
quanto o faria o pai mais amoroso da Terra. O estilo de Jesus era simples, afetivo e
convincente, extremamente comunicativo com aqueles que o ouviam. Ele não tentava
convencer o seu público através de palavras complexas ou pelos recursos artificiais da
eloqüência humana. Explicava-lhes as premissas encantadoras de um mundo celestial e
as possibilidades de todos serem felizes. Suas palavras eram suaves, doces e
recendiam o próprio perfume dos campos e o aroma das florinhas silvestres; suas
formas e suas cores ficavam vivamente gravadas e nítidas na mente de seus ouvintes.
Em suas prédicas era quase um narrador de histórias, de um brilhante e insinuante
colorido, um peregrino que se punha a contar as coisas mais delicadas e atrativas de
paragens longínquas. Os minutos e as horas transcorriam celeremente e aquela gente
derramada pela encosta florida, recostada nas pedras e nos tufos de capim verdejante,
ficava imóvel, sem um gesto, atenta à musicalidade da voz meiga e confortadora do rabi
galileu.
Jesus não cansava o povo com as longas perorações e o palavreado obscuro,
pesado ou sibilino. Expunha sentenças curtas, historietas breves e principalmente as
formosas parábolas, que tanto fascinavam o auditório. Tudo o que ele mencionava aos
encantados ouvintes, que lhe bebiam os ensinos num verdadeiro “suspense”, era
impregnado de imagens comuns e conhecidas da própria vida. Nas suas narrações
vicejavam o mar, as montanhas, as aves, os rios, as flores, as nuvens, o campo e as
árvores, gravando-se tudo na forma de imagens claras e objetivas, que não exauriam o
cérebro dos ouvintes mais incultos. Nenhum profeta jamais pudera comover e apaixonar
tanto o seu público e seus adeptos; ninguém antes dele trouxera tantas esperanças aos
homens entristecidos, aos pobres desesperados e aos enfermos abandonados. Até seus
dias, o mundo tivera muitos sábios, profetas, instrutores e líderes religiosos, que
deixaram sulcos luminosos na estrada empoeirada do mundo físico, mas somente Jesus
se fazia tão compreensível nos corações das criaturas. A sua “Boa Nova” era um
refrigério, porque descrevia com tal certeza e sinceridade o reino maravilhoso do
Senhor, à espera dos infelizes, tristes, pobres e enfermos, que até os afortunados se
confrangiam disso, temerosos de ficarem fora dos muros dessa cidade encantada.
Assim como o estatuto regula a conduta moral e disciplina os movimentos dos
associados de uma instituição recreativa, Jesus também estatui o modo como deveriam
se portar os cidadãos do “reino de Deus”, especificando-lhes as virtudes que deveriam
desenvolver para o êxito dessa sublime realização. Daí a força e o poder renovador do
“Sermão da Montanha”, quando bendizia os pobres, os infelizes, os misericordiosos, os
pacíficos, as vítimas, os perseguidos, conclamando-os como verdadeiros cidadãos
daquele reino feliz que ele viera pregar.
Sua voz penetrava como gotas refrescantes nos corações dos sofredores e os seus
ouvintes animavam-se, ardendo de entusiasmo e ventura, ante a simples sugestão
recebida. Era uma graça, uma dádiva prometida por aquele profeta que não mentia, não
enganava e fizera voto de renúncia a todas as coisas valiosas e atrativas do mundo
terreno, porque, dizia ele, “o Pai já lhe dera tudo o que desejaria possuir!” Os galileus eram
pobres, mas viviam satisfeitos, quer pela beleza do cenário que os rodeava, assim como
pela facilidade da pesca que os sustentava sem problemas complexos de alimentação.
Eram simples no vestir, pois o clima tão ameno e amigo, fazia-os desejar tão pouco para
serem felizes. E por isso, eles confiavam em tudo o que Jesus dizia, porque lhes falava
em coisas certas, objetivas e passíveis de se concretizarem com a própria vida de que
participavam.
O natural desapego que os dominava pelas circunstâncias favoráveis do próprio
meio tão generoso, não os fazia criaturas negligentes, inconformadas ou desconfiadas.
Por isso, vibravam intensamente com os quadros belos e poéticos da narrativa do
Mestre Jesus. Era um delicioso convite a seguirem em direção ao reino de um Deus
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