ainda dominada pela cupidez, sensualidade, avareza, ciúme e orgulho. Isso seria tão 
absurdo, como se convocar um sábio da categoria de Einstein para ensinar os 
rudimentos da aritmética aos alunos primários. 

Deus jamais precisaria encarnar-se na Terra para despertar os terrícolas quanto aos 

objetivos superiores da vida imortal. A revelação espiritual não se faz de chofre; ela é 
gradativa e prodigalizada conforme o entendimento e o progresso mental dos homens. 
Assim, em épocas adequadas, baixaram à Terra instrutores espirituais como Antúlio, 
Numu, Orfeu, Hermes, Krishna, Fo-Hi, Lao-Tse, Confúcio, Buda, Maharishi, 
Ramakrishna, Kardec e Gandhi, atendendo particularmente às características e aos 
imperativos morais e sociais do seu povo. Jesus, finalmente, sintetizou todos os 
conhecimentos cultuados pelos seus precursores, e até por aqueles que vieram depois 
dele. O seu Evangelho, portanto, é uma súmula de regras e de leis do “Código 
Espiritual”, estatuído pelo Alto, com a finalidade de promover o homem à sua definitiva 
cidadania angélica. 

Aliás, é Jesus quem nos comprova não ser ele o próprio Deus, porquanto do alto da 

cruz, num dos seus momentos mais significativos, exclamou: — 

“Pai! Perdoai-lhes, pois eles 

não sabem o que fazem”!

 Por conseguinte, é absolutamente lógico e evidente que a sua 

súplica ao Pai, rogando pelos seus algozes, demonstra a existência na cruz do martírio de 
um “filho espiritual”, feito homem e não o próprio Deus. 

Se Jesus fosse o próprio Deus feito carne, por que então ele se dirigiu a um Pai que, 

sem dúvida, estava nos Céus?

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PERGUNTA: — Somos de opinião que Jesus, apesar de toda sua capacidade 

espiritual e graduação angélica, gozava de uma assistência excepcional do Alto. Essa 
designação de “Filho de Deus” devia referir-se mais propriamente ao fato de ele exercer 
uma atividade incomum na Terra. Não é assim? 

RAMATÍS: — Não foi a condição excepcional de “Filho de Deus”, como um ser 

divino e acima da contextura humana dos terrícolas, nem o efeito de uma assistência 
privilegiada, o sustento de Jesus na sua obra redentora, mas a sua fé ardente e 
convicção inabalável em favor da humanidade terrena. Ele já possuía em si mesmo, por 
força de sua hierarquia espiritual, a ventura e a paz tão desejadas pelo homem terreno. 
O êxito absoluto na sua tarefa salvacionista não dependeu de proteções celestiais 
privilegiadas, mas do seu amor intenso e puro, de seu afeto desinteressado e 
incondicional para com o homem. Essas virtudes expandiam-se naturalmente de sua 
alma e contagiavam quantos o cercavam, assim como o cravo e o jasmim não podem 
evitar que o perfume inerente à sua natureza floral também se desprenda sobre as 
demais flores do jardim. 

Jesus não tinha dúvidas quanto à realidade do “Reino de Deus” a ser fundado entre os 

homens, porque esse ideal era manifestação espontânea de sua própria alma, já liberada 
da roda viciosa das encarnações planetárias. Nada mais o atraía para os gozos e os 
entretenimentos da vida carnal. Todo o fascínio e convite capcioso do mundo exterior não 
conseguiam aliciá-lo para o seu reinado “cesariano”, ou fazê-lo desistir daquele “reino de 
Deus”, que ele pregava ao homem, no sentido de “salvá-lo” da ilusão e do cativeiro carnal. 

A tarefa messiânica de Jesus desenrolava-se sem quaisquer hesitações de sua parte, 

sustentada pela vivência superior do seu próprio espírito. A sua presença amiga e o seu 
semblante sereno impressionavam a todos os ouvintes, quer fossem os apóstolos, 
discípulos, simpatizantes, homens do povo ou até inimigos. 

Assim como o calor revigora o corpo enregelado, sua presença semeava o ânimo e 

a esperança, fazendo as criaturas esquecerem os próprios interesses da existência 
humana. A fonte que mitiga a sede dos viandantes não precisa de “interferências 
misteriosas” para aliviar os sedentos; ela já possui o atributo refrescante como condição 
inerente à sua própria natureza. Jesus também era uma fonte sublime e abençoada de 

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 Nota do Revisor: — Vide 

Epístola aos Gálatas

, cap. 4, vers. 4: “Mas quando veio o cumprimento do tempo, enviou 

Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à lei”. É evidente que Paulo de Tarso, nessa epístola, deixa 
bem claro que Jesus não é Deus. E se o Mestre foi nascido de mulher e sujeito à lei, é óbvio que nasceu com um 
corpo carnal e de modo comum e humano, como os demais homens. A citação de Paulo não admite outra 
conclusão. 

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