sensatamente, desde sua infância e nos primeiros anos de sua juventude. Mais tarde, o
próprio Jesus demonstrou a acuidade e a cautela hauridas de seu pai no intercâmbio entre
os dois mundos, quando advertiu aos seus discípulos: “Sede mansos como as pombas,
porém prudentes como as serpentes!”
Embora o corolário da obra de Jesus previsse o seu sacrifício na cruz, o Alto
precisou protegê-lo cuidadosamente para que não houvesse qualquer truncamento na
sua missão heróica, em favor da humanidade.
Eis por que o seu corpo carnal devia ser fruto de uma estirpe ancestral selecionada
e sadia, assim como o artista sensível e genial necessita de um instrumento superior
para executar com perfeição as encantadoras melodias. Seu organismo funcionava sob
o mais saudável equilíbrio “psicofísico”. As suas angústias, inquietações ou fugas
súbitas, que tanto inquietavam Maria e José, eram fruto de uma tensão orgânica que
exigia esforços heróicos para o seu corpo acomodar-se ante o fabuloso potencial
angélico, que lhe atuava nas mais recônditas órbitas eletrônicas das células e nos
interstícios da rede nervosa.
PERGUNTA: — Podeis explicar-nos por que a graduação espiritual de Jesus, sendo
tão elevada, exigia que o seu Espírito atuasse por intermédio de um organismo de alta
seleção biológica?
RAMATÍS: — Um corpo cego, mudo ou deformado é um instrumento ineficaz para
servir mesmo a um anjo descido dos céus, como foi Jesus. Sem dúvida, existem
criaturas heróicas e de boa têmpera espiritual, que logram superar os seus defeitos
físicos ou deficiências do meio onde se encarnam e que realizam coisas que espantam e
desafiam os mais sadios.
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Mas Jesus se encarnara para cumprir um trabalho de
profundidade e de amplitude coletiva, em que a saúde e perfeita resistência orgânica
eram fundamentais para o cabal desempenho da tarefa que exigia uma atividade
dinâmica, sem o menor desfalecimento. Além disso, não se tratava de espírito em
processo de resgate cármico. Por conseguinte, é óbvio que o seu corpo teria de ser um
instrumento de ascendência biológica excepcional.
Aliás, o corpo humano é constituído por aglomerados de seres microscópicos, que
lhe formam os tecidos vivos da carne, os quais, no entanto, obedecem a certo esquema
biológico que também está entrosado no padrão psíquico das espécies ancestrais. O
fato de Jesus ser um anjo, nem por isso prescindiu de o Alto determinar providências
seletivas e protetoras para lhe proporcionar um corpo bastante sadio e sensível
destinado ao êxito de sua missão redentora. Era-lhe de suma importância o equilíbrio
integral do sistema neurocerebral. Ele precisava de um instrumento carnal perfeito, a fim
de transmitir a divina melodia evangélica para os terrícolas, assim como Paganini jamais
comoveria os seus ouvintes se executasse suas famosas composições musicais num
violino feito de papelão e com cordas de barbante.
Daí, pois, a escolha de José, da linhagem de Davi, para ser o pai do Messias,
porquanto era um dos rebentos mais sadios, herdeiro de uma ancestralidade sem mancha
e sem truncamentos biológicos. Além disso, a sua influência espiritual, como dissemos,
serviu de frenamento à empreitada prematura de Jesus na composição da mais sublime
doutrina de relação entre a criatura e o seu Criador — o Cristianismo.
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Nota do Médium: — Beethoven compôs a “Nona Sinfonia” depois de surdo; Milton, autor de “O Paraíso Perdido”,
era cego; e Dostoievski, epiléptico. Inúmeras criaturas sem braços pintam, bordam e são hábeis musicistas,
servindo-se apenas dos pés. Sem dúvida, o exemplo mais surpreendente de alma que superou todos os óbices da
matéria e impôs sua força espiritual criadora sobre o corpo físico ainda é Helen Keller, que ficou surda, muda e cega
aos dois anos de idade, mas depois aprendeu a falar, diplomou-se com distinção no Cambridge e Radcliffe College,
sabendo escrever à máquina. É autora de alguns livros, destacando-se
História de Minha Vida
, autobiografia.
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