de palmeiras. À margem das estradas principais, sempre povoadas de caravaneiros, 
rabis, mercadores, soldados, coletores e povos de todas as raças, os bons galileus 
haviam construído poços d’água e ranchos com forragem e feno frescos para os animais 
cansados. As hospedarias, embora remuneradas, eram acessíveis ao bolso de todos os 
viandantes, pois a qualquer hora os retardatários encontravam bom caldo de peixe, sopa 
suculenta de hortaliças com muito alho e cebola, carne assada, farinha cheirosa para o 
pirão de peixe seco ou salgado, pão de trigo ou de centeio, fresco e saboroso, além das 
travessas com a fartura de saladas de legumes regados com o melhor azeite do lugar. 
Sobre as mesas, a bilha de vinho exalava o odor da uva madura; à sobremesa, em 
geral, havia figos melosos e macios, pêssegos aveludados ou tâmaras de Jericó. 

Os viajores também encontravam, junto à estrada, o seleiro para ajustar os arreios, 

o ferreiro para ferrar os animais, o carpinteiro que consertava as charruas e outras 
viaturas. Havia também pequenas indústrias e artesanatos, que vendiam pás, enxadas, 
ancinhos, cochos e mós para a moenda de trigo; ripas, sarrafos e tábuas para a 
construção; bilhas, odres, vasos e apetrechos de cerâmica, feitos com arte e gosto. Era 
fácil encontrar o tecelão, cuja família inteira o ajudava entre o pó dos teares, fazendo 
desde o pano simples para o lençol, o de ramagens para a túnica ou a veste, o tapete 
pequeno para a entrada, ou o toldo berrante para a cobertura de mercadorias ou de 
proteção contra o sol. Havia ainda chinelas recortadas de veludo, com florinhas de 
cetim, feitas para uso doméstico; outras eram de cordas, trançadas de cerda ou de 
couro, com sola de madeira muito própria para o serviço externo. Nas proximidades das 
cidades crescia o mercado de flores de papel e de cetim, de panos bordados com fios de 
Sidon. Havia ainda colares trazidos do Egito e da Etiópia, bolsas de veludo e de seda; 
tecido de púrpura, tachos e panelas de cobre das fundições de Tiro, onde os escravos 
se consumiam na tortura do trabalho impiedoso. Os óleos aromáticos, as ervas 
cheirosas, a mirra, o incenso e os filtros amorosos da Índia eram apregoados pelos 
camelôs bulhentos. 

Assim era a província de Nazaré, com o seu cenário encantador e buliçoso, que 

depois serviria para hospedar o mais excelso dos hóspedes — Jesus, o Sublime 
Peregrino. 

 
PERGUNTA: — E qual o aspecto da própria cidade de Nazaré, na época de Jesus? 

Apreciamos conhecer melhores informes sobre o lugar onde ele mais viveu. 

RAMATÍS: — Somente as construções romanas apresentavam um estilo incomum e 

arrojado em toda a Palestina. As residências dos romanos mais prósperos ornamentavam-
se com arabescos e miniaturas de capitéis. Servidas por janelas de vidros coloridos, 
degraus de mármore branco e preto, em geral possuíam colunas esguias, que 
assentavam nos assoalhos de mosaicos das mais variadas cores. Eram vivendas amplas 
e confortáveis, que se abriam para os jardins floridos, ornamentados por arbustos 
pequenos e decorativos, que ofereciam frutos parecidos com o vosso maracujá e a 
jabuticaba. 

As casas de Nazaré, em sua maioria, eram de estilo primário, feitas de blocos 

semelhantes às que ainda hoje se encontram nos países habitados por judeus. 
Lembravam enormes caixões de giz branco, destituídas de qualquer ornamento. Em 
alguns casos raros, símbolos de Salomão emolduravam as portas e janelas, ou vasos de 
barro encimavam as fachadas. Os toldos berrantes protegiam a entrada do sol e pela 
porta sempre entreaberta, via-se a enxerga do descanso noturno ou a indefectível 
esteira enrolada, junto à parede, à espera do hóspede retardatário. 

Aliás, o clima ameno e estável da Galiléia dispensava a necessidade de se construir 

casas complicadas ou dispor-se de recursos protetores mais adequados às regiões 
tristes e chuvosas. Em Nazaré havia um sossego perpétuo e próprio de uma natureza 
encantadora e favorável à colheita, à floração primaveril e à própria vida humana. As 
tardes ensolaradas, sob o bafejo da aragem fragrante que subia das encostas pejadas 
de frutos perfumados, eram um doce convite ao descanso eufórico e à 
contemplatividade, virtudes que Jesus sempre revelou na sua peregrinação messiânica. 
O sol festivo, a paisagem formosa e o vento perfumado, cheio de afagos e blandícias, 
predispunham as criaturas para um desprendimento espiritual. Sob tal sugestão poética, 

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