paixões, fundiram crenças, fortaleceram a mente terrena, aposentaram deuses epicuristas,
propuseram deveres e prepararam a humanidade para fazer jus à crença em um só Deus
e a disciplinar-se por um só Código Moral do mundo, o qual seria o Evangelho. Malgrado
cada povo interprete a idéia da Divindade conforme o seu critério e a tradição de sua raça,
o certo é que todos os missionários do Espírito descido à Terra só tinham um objetivo:
pregar a compreensão de um só Deus. A humanidade pouco a pouco apercebe-se de que
na essência dos vocábulos de cada raça a idéia unitária de Deus é sempre a mesma, quer
o chamem de Alá, Tupã, Jeová, Zâmbi, Rã, Foco Criador, Absoluto, Parabrahin, Senhor
dos Mundos, Energia Universal, Grande Espírito ou Motor Imóvel.
Conseqüentemente, Jesus também baixou à Terra no tempo exato para sintetizar os
ensinamentos dos seus predecessores e a época dessa necessidade espiritual foi
exatamente há dois mil anos.
PERGUNTA: — Embora considerando que a Palestina foi, na realidade, o ambiente
mais apropriado para Jesus realizar sua missão redentora, por que ele nasceu na
Galiléia tão rústica e estigmatizada pelos contemporâneos, se podia fazê-lo melhor,
nascendo em Jerusalém?
RAMATÍS: — Repetimos que Jesus foi um espírito eleito para sacudir o pó das
superstições religiosas e esclarecer doutrinas, que ainda sacrificavam animais e até
seres humanos a um Deus cruel. Ele carecia de um cenário estimulante e inspirativo,
que lhe avivasse incessantemente a memória espiritual do mundo angélico. Embora
fosse um espírito excelso e sábio, era-lhe conveniente um incentivo e encanto
proporcionados pela beleza e pela poesia terrena, que assim a ajudaria a sustentar sua
mente em um nível de maior rendimento messiânico.
A vida singela e encantadora da Galiléia, que já descrevemos, com seu clima
ameno, não exigia resguardo severo para proteger a saúde; dava conforto e
tranqüilidade ao seu povo sem exigir os requintes complicados do luxo oneroso. E servia
a Jesus de contínua inspiração, amenizando-lhe o exílio sacrificial da carne, mediante a
beleza, a ternura e o fascínio de sua paisagem. O povo galileu, feliz e satisfeito,
habituado a alimentação leve e fácil, que não afogueava o sistema neurodigestivo, era
um público assíduo e ideal para ouvir as prédicas de Jesus e que se comovia ante as
boas novas do Paraíso e as deliciosas parábolas sobre os deveres do espírito imortal.
Jerusalém, no entanto, era um ambiente oposto à emotividade de Jesus, pois a
cidade era foco constante de conflitos, sedições religiosas e fanatismos supersticiosos,
através de um povo avaro, cúpido, intriguento, inescrupuloso e ainda explorado por um
sacerdócio, cuja cultura religiosa era apenas canônica ou teológica. O estudo da Lei
Mosaica, ou do Torá, não ia além de fatigantes discussões muito parecidas com as que
ainda hoje ocorrem entre as seitas protestantes, às vezes, por causa da troca de uma
vírgula ou de um erro tipográfico na Bíblia.
Jerusalém era pedregosa e antipática, sua paisagem monótona e melancólica, os
seus vales produzidos pelos desmoronamentos, sempre atulhados de lixo, serviam de
moradia aos vagabundos ou infelizes leprosos. Não havia água em abundância, os
córregos eram sujos e os pastos secos. Os animais dos caravaneiros retardados
pousavam fora dos muros da cidade. Nos dias quentes, o mau odor do capim
apodrecido, do suor e do mau cheiro dos animais espalhava-se pelos subúrbios da
cidade. No verão, as lajes batidas pelo sol ardente aqueciam os pés e os calçados dos
transeuntes, os quais suavam envoltos nos seus trajes pitorescos.
Em Jerusalém crescia a azáfama das cidades asiáticas; ali misturavam-se a sujeira das
ruas, os excrementos dos animais e a exalação do péssimo esgoto mal distribuído. Os
mercados estabelecidos pela prefeitura faziam rebuliço e entravam em rixa com os
vendeiros ambulantes, disputando fregueses para a compra de peixe, de cerâmica, de
tecido, hortaliças ou quinquilharias. A confusão e os gritos recrudesciam ante as súplicas
obstinadas dos mendigos e enfermos, próprios dos grandes ajuntamentos de criaturas. A
cidade oferecia um aspecto árido e desagradável para um espírito do quilate de Jesus; e
jamais ele poderia aquecer ali os sonhos e os ideais acalentados desde a infância em
Nazaré.
Embora o Alto tenha escolhido a Palestina como o local adequado para a missão de
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