movimento libertador cristão a figura de Paulo de Tarso. Mesmo José de Arimatéia, 
Nicodemos e Gamaliel, homens de cultura e de relevo na época, gozaram de certas 
credenciais junto ao Mestre, porque, simpáticos à doutrina dos essênios,

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 já eram 

humildes de espírito. 

Sem dúvida, empolga-nos reconhecer que a mesma doutrina, cujas bases Jesus 

assentou na rudeza e simplicidade de um Pedro, na sublimação de Madalena e na 
sinceridade do publicano Mateus, mais tarde, gerou um Agostinho, discípulo apaixonado 
de Platão e cuja eloqüência, ao expor a Teologia Cristã, abalou Roma e Cartago; ou 
ainda, o maior filósofo da Igreja, como é Tomás de Aquino, um dos maiores gênios da 
Idade Média na propaganda do Catolicismo. Mas prevendo também o perigo do intelecto 
desgarrar-se em demasia e depois formalizar o Evangelho acima do coração humano, 
aristocratizando em excesso o clero responsável pela idéia cristã, o Alto recorre então ao 
mesmo espírito que fora o apóstolo João e o faz renascer, na Terra, para viver a figura 
admirável de pobreza e renúncia de Francisco de Assis. Assim, o calor cordial do 
sentimento purificado e a abdicação aos bens transitórios do mundo, vividos pelo frade 
Francisco de Assis, reativaram novamente a força coesiva e poderosa que cimentou as 
bases do Cristianismo nas atividades singelas de pescadores, camponeses, publicanos e 
gente de mau viver. Na comunidade da própria Igreja Católica, transformada em museu 
de granito e mármore, cultuando as quinquilharias de ouro e prata entre a púrpura e o 
veludo dos sacerdotes, o Alto situou Francisco de Assis, convidando todos os 
eclesiásticos à volta do Cristo-Jesus da simplicidade, da renúncia e do amor. 
Infelizmente, só alguns raros espíritos que mourejavam no seio do Catolicismo 
entenderam o divino chamamento e, realmente, passaram a viver os preceitos puros do 
Cristianismo nascido à beira do mar da Galiléia. 

No entanto, imaginai Jesus tentando alicerçar sua mensagem deísta entre a versatilidade 

dos deuses pagãos da Grécia, dos povos bárbaros da Germânia, dos fanáticos da Gália, dos 
espanhóis agressivos, dos selvagens da África, dos feiticeiros da Caldéia ou das castas 
orgulhosas da Índia massacrando o pária infeliz! Sem dúvida, o Mestre fracassaria atuando 
no seio dessas multidões rústicas, fanáticas, irascíveis e politeístas, que se dividiam em 
castas de sacerdotes e párias, escravos e senhores, além do seu culto aos deuses protetores 
das mais variadas paixões do mundo. 

Aliás, convém não esquecer que Paulo de Tarso, depois que Jesus já tinha sido 

crucificado, foi alvo de risotas e zombarias, quando tentou pregar entre os gregos 
altamente intelectualizados alguma coisa do Evangelho. 

 
PERGUNTA: — Mas não seria Roma, justamente da época brilhante de Augusto, a mais 

indicada para a missão de Jesus? 

RAMATÍS: — Jamais o Mestre Cristo conseguiria em Roma aqueles discípulos fiéis, 

que foram coletados à margem do Mar de Genesaré e nas planícies da Galiléia, pois 
nenhum romano ambicioso abandonaria as redes de pesca e os seus interesses comuns 
para aceitar o convite de um homem empolgado por um reino hipotético de amor e 
bondade. Como atrair a atenção dos sanguinários gladiadores dos erros romanos, para 
fazê-los compreender a lição singela do “grão da mostarda”? Qual a maneira capaz de 
situar, a contento, entre as matronas de costumes dissolutos, a recomendação do “vai e 
não peques mais”, como advertência à mulher adúltera? Jesus não teria êxito pregando o 
amor, a paz, a tolerância, o perdão e a renúncia entre as ferozes legiões de César e seria 
motivo das chacotas mais ferinas, caso tentasse o “sede puros e perfeitos, como puro e 
perfeito é o vosso Pai”, entre os glutônicos romanos amigos de banquetes pantagruélicos 
regados a tonéis de vinho. 

Já de início, ele se sentiria impotente para converter os romanos ao culto de um só 

Deus, pois isso implicaria despojá-los de sua fé interesseira e dos deuses que lhes 
atendiam todos os desejos, caprichos e lhes presidiam os amores, negócios, 
divertimentos, jogos ou circo, as conquistas guerreiras como a fertilidade genésica. Viris 

                                                        

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 Nota do Revisor: - Essênios ou Terapeutas, cuja fraternidade perde suas raízes além das civilizações já 

conhecidas. Em remota antigüidade, foram conhecidos como os profetas brancos, para os quais a reencarnação e a 
Lei do Carma eram assuntos familiares. 
 

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